Raicca Ventura é a estrela precoce do park com uma vida dedicada ao skate

Olympic Qualifier Series
7 minPor Leandro Stein
Raicca Ventura, campeã do STU 2022, em ação na última etapa, em Recife.
(Pablo Vaz/Divulgação STU)

O skate é uma modalidade de muitas estrelas jovens. Rayssa Leal já pode ser considerada uma skatistas experiente aos 16 anos, após a ascensão meteórica que rendeu a medalha de prata do skate street em Tóquio 2020. Da mesma geração, Raicca Ventura agora surge como candidata a protagonizar o skate park do Brasil em Paris 2024.

Raicca é a melhor brasileira no ranking Olímpico do skate park, na sétima colocação. A paulista de 17 anos possui títulos no circuito nacional e medalhas internacionais. Já na Olympic Qualifier Series, embora tenha se ausentado da final em Xangai, Raicca chega como candidata a representar bem o Brasil em Budapeste. A segunda etapa da OQS acontecerá na capital húngara, de 20 a 23 de junho.

Raicca será uma das atletas brasileiras a se observar de perto durante os próximos dias, diante das grandes chances de assegurar uma vaga nos Jogos Olímpicos através da série qualificatória. Além dos bons resultados, a paulista se torna uma inspiração a outras garotas que almejam se expressar e conquistar o próprio espaço no esporte.

“É muito legal ajudá-las a romper barreiras. Quando veem as minhas conquistas, entendem que também conseguem. Ainda tem muita gente que acha que não podemos tudo por sermos mulheres”, contou Raicca, em entrevista ao jornal O Globo. Podem tudo, inclusive voar alto para realizar seus sonhos e alcançar os Jogos Olímpicos pela primeira vez.

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Sob as bênçãos do pai, do tio e de Karen Jonz

O início de Raicca Ventura no skate foi natural. Os exemplos vinham de casa: seu pai, Elber Bereta, era professor da modalidade. Já o tio, Vanderley Arame, chegou a se tornar skatista profissional. “Eles me ensinaram muita coisa, tudo que eu sei. É bom começar com uma família de skatistas, porque eles sempre me apoiaram, né? Vejo que tem famílias que não apoiam, enquanto meu pai e meu tio sempre me deram força”, relembrou a skatista, em entrevista anterior ao Olympics.com.

Raicca tinha seis anos quando começou a frequentar as pistas do ABC Paulista. Seu primeiro “equipamento”, porém, era o mais simples possível: um skate de brinquedo comprado pela avó no supermercado, com rodinha de borracha e sem qualquer estrutura. O talento falou mais alto, independentemente da fragilidade do shape. Aos nove anos, Raicca passou a participar das primeiras competições. Diante da escassez de torneios femininos, ela encarava (e vencia) meninos.

Mesmo neste entorno, Raicca também tinha suas influências femininas. E de certa maneira deu sorte, já que a pista na qual andava em Santo André também era frequentada por Karen Jonz, tetracampeã mundial de vert. “Ela foi o meu maior incentivo. Com uma garota lá, eu pensava: ‘Eu também posso andar se ela pode.’ Eu via a Karen e falava: ‘Olha, não sou só eu’", relatou Raicca, à revista Capricho.

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(Pablo Vaz/STU)

Dominante no circuito nacional

Raicca Ventura ascendeu nas principais competições nacionais do skate às vésperas de Tóquio 2020. Porém, as limitações financeiras impediram sua participação no sistema qualificatório Olímpico, sem poder participar do Mundial nos Estados Unidos. Precisou acompanhar de longe as colegas, enquanto mantinha a chama viva rumo a Paris 2024. Tão nova, a idade permitia a volta por cima.

“Eu queria muito ter ido lá, queria muito ter estado lá com as meninas. Fiquei pensando ‘meu Deus, eu poderia estar lá!’ Fico pensando o que poderia ter acontecido”, relatou Raicca, ao Olympics. “Antes, as pessoas e os patrocinadores davam um pouco de importância [para o skate], mas, depois das Olimpíadas, teve muito mais visibilidade.” E o seu sucesso, atrelado a essa vitrine, transformou a realidade da paulista dentro do esporte.

Ao longo dos últimos três anos, Raicca dominou o circuito nacional de skate park e também colecionou conquistas no vert. A adolescente tinha apenas 15 anos quando conquistou pela primeira vez o título brasileiro do park no STU (Skate Total Urbe) em 2021. Nem mesmo o braço quebrado nas semifinais atrapalhou a skatista. O bicampeonato veio em 2022, com direito ao tri em 2023.

“Eu adoro poder competir fora do Brasil, conhecer outros skatistas, cultura, idioma, mas acho que nada melhor do que competir em casa, com a torcida brasileira, não tem igual à energia do nosso país”, afirmou Raicca, à Folha do ABC. Em 2022, a skatista se mudou à Califórnia para seguir o desenvolvimento de sua carreira. O trabalho com o técnico Cris Mateus foi essencial nesta consolidação.

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Brasileira Raicca Ventura em ação durante o Mundial de Park, em San Juan/ARG, em maio de 2023. Foto: World Skate

(World Skate)

A experiência inesquecível no Pan 2023

Já a fama internacional de Raicca Ventura teve um impulso em julho de 2022. Ao lado de Dora Varella, a adolescente se tornou uma das primeiras brasileiras que saltaram a famosa Mega Rampa de Bob Burnquist. Não se intimidou com os 24 metros de altura ou com os 15 metros de vão. “Nenhuma menina tinha feito aquilo ainda, mas os meninos, sim. Então, pensei: ‘Se eles conseguem, também consigo’”, comentou Raicca, ao jornal O Globo.

Pouco depois, os resultados de Raicca nas grandes competições corroboraram tal fama. Em 2023, a skatista conquistou a medalha de bronze nas finais do Pro Tour em San Juan, na Argentina, e alcançou o quarto lugar no Campeonato Mundial realizado em Roma. Já um momento especial veio em Santiago, nos Jogos Pan-Americanos 2023. Em sua última volta, Raicca faturou uma histórica medalha de prata, no primeiro pódio do skate park no Pan.

"Eu estava nervosa [para a última volta] porque era só uma chance. E aí tinha que ser naquela hora e foi. Deu tudo certo! Eu acertei, saí muito feliz da pista, com todo mundo me abraçando", disse Raicca, ao ge.globo. "Eu agradeço demais! É muita vibe! Eu fiquei muito feliz de ter um monte de brasileiros aqui! A torcida brasileira é a maior torcida que tinha, eu consegui ouvir no meio da minha volta."

O Pan também deu um aperitivo a Raicca em relação ao clima dos Jogos Olímpicos. Reforçou o objetivo da adolescente. "É legal porque é uma preparação também para as Olimpíadas. É legal estar com todos os países e você também vê os brasileiros de outras modalidades e outros esportes. Fico pensando: ‘Nossa! Nas Olimpíadas deve ser muito legal’”, contou Raicca, ao Olympics.com.

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Paris 2024 aparece até nos sonhos de Raicca

Raicca Ventura teve uma lesão no joelho durante o início de 2024. A skatista ficou fora das competições por alguns meses, até retornar à ação durante a Olympic Qualifier Series em Xangai. A brasileira ainda não conseguiu exibir seu melhor, mas teve um bom desempenho, com a décima colocação nas semifinais - por pouco não avançou à final. A segunda etapa da OQS em Budapeste permitirá à jovem melhorar a sua performance e ter mais um aperitivo do que poderá encontrar em Paris 2024.

O desejo de disputar os Jogos Olímpicos anda tão presente na cabeça de Raicca Ventura que ela até mesmo sonhou com isso, conforme confessou à ESPN, em fevereiro. "Estou ansiosa pra chegar logo e sonhando com isso. Teve um dia que eu tive um sonho super bom. Tinha acabado de assistir às Olimpíadas [Tóquio 2020], aí eu dormi assistindo. Então, sonhei que estava andando de skate e eu era a [Yosozumi] Sakura nas Olimpíadas. Sonhei que estava andando igual a ela, dando as manobras dela e ganhei a medalha."

Dentro de alguns meses, Raicca poderá concretizar esse sonho. Será um ápice conquistado ainda tão jovem, mas que começou muito mais cedo e permeou toda a vida da skatista: "O skate me ensinou quase tudo o que eu sei. Comecei quando eu tinha seis anos, eu era uma criança ainda, não sabia de nada. Eu cresci aprendendo com o skate. Nem sempre vai dar certo, mas, se você é positivo, a maioria das vezes dá certo."

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