Entre piscinas e águas abertas, Viviane Jungblut vive melhor ano da carreira na maratona aquática
Após três medalhas em quatro provas e participação Olímpica, Viviane Jungblut está presente na última etapa da Copa do Mundo de Águas Abertas em NEOM, na Arábia Saudita, entre os dias 22 e 23 de novembro de 2024.
Há algumas semanas, Viviane Jungblut se espantou: 2024 foi o primeiro ano em que ela não competiu em provas de piscina na natação. Coincidência ou não, vive o melhor ano de sua carreira na maratona aquática. Terceira no ranking da Copa do Mundo de Águas Abertas, ela disputa a última etapa nesta sexta, 22 de novembro, às 3h15 no fuso horário de Brasília.
A brasileira estará presente em NEOM, na Arábia Saudita, na prova que encerra a temporada. Nas quatro etapas anteriores, conquistou duas medalhas individuais (uma prata e um bronze) e a inédita medalha no revezamento misto 4x1.500m. Assim, possui 1900 pontos na classificação geral, apenas 48 atrás da alemã Lea Boy, vice-líder, e 450 de Ana Marcela Cunha, a primeira colocada.
Aos 28 anos e após disputar a maratona aquática pela primeira vez nos Jogos Olímpicos em Paris 2024, ela teria motivos de sobra para se dedicar exclusivamente à modalidade, certo?
“Para ser 100% sincera, eu não parei para pensar sobre isso”, afirma, para depois admitir. “Minha vontade é continuar competindo nas provas de piscina, mas dando prioridade para o calendário de águas abertas”.
Especialista em longas distâncias, Viviane Jungblut gosta de nadar os 800m e os 1.500m - e os resultados sempre aparecem. Possui a terceira melhor marca do país nos 800m e a segunda nos 1.500m. Foi finalista nas duas provas no Mundial de 2022 e conquistou duas medalhas de bronze nestas distâncias nos Jogos Pan-Americanos 2023, em Santiago.
“Não quero abrir mão delas”, complementa.
RELEMBRE | Brasil ganha medalha inédita no revezamento da maratona aquática
Viviane Jungblut acumula ‘aprendizados’ na maratona aquática
Entretanto, ela sabe que suas melhores chances estão justamente na maratona aquática. Com os três pódios nesta temporada, ela já possui sete medalhas no circuito internacional da modalidade e foi 11ª nos Jogos Olímpicos Paris 2024 – uma posição melhor do que ela obteve nos 800m (24ª) e nos 1.500m (20ª) em Tóquio 2020, sua estreia Olímpica nas piscinas.
“Na maratona aquática a gente aprende muito com cada prova e vê cada vez mais acertos, então tem um saldo positivo”, explica.
Aprendizados que ela sentiu na pele em suas duas experiências Olímpicas. A estreia na capital japonesa ocorreu apenas nas piscinas, apesar dela já se dedicar ao circuito internacional de águas abertas. “Acabei ficando de fora por um pouquinho. Então meu objetivo era a classificação para Paris na prova de dez quilômetros”.
Conseguiu, mas apesar da 11ª posição, a prova na capital francesa não ocorreu da forma como ela esperava. As correntezas no rio Sena exigiram demais da preparação física - algo que ela não imaginara. Após as duas primeiras voltas, perdeu contato com o pelotão da frente e viu a chance de pódio desaparecer.
“Foi uma prova atípica, diferente do que a gente se acostuma, mas faz parte da modalidade”.
Viviane Jungblut não gostou da primeira experiência; hoje é referência na maratona aquática
A paixão de Viviane Jungblut com a maratona aquática não foi à primeira vista. Pelo contrário, a atleta odiou a experiência em Inema, na Bahia, em 2012. Acostumada com 200m e 400m em piscinas na época, a água do mar não lhe caiu bem.
“A primeira que eu nadei, saí da prova e falei ‘nossa, nunca mais vou nadar isso daqui’”, diverte-se.
Mas foi o suficiente para levá-la à seleção brasileira – um dos sonhos da então adolescente. Resolveu dar mais uma chance. Na segunda prova, o Sul-Americano juvenil, terminou com a medalha de prata.
“Deu aquela motivação e quanto mais eu nadava, mais me adaptava e aprendia coisas novas. Então fui criando esse amor”.
Além disso, a maratona aquática a colocou na seleção ao lado de nomes como Poliana Okimoto, bronze nos Jogos Olímpicos Rio 2016, e Ana Marcela Cunha, campeã Olímpica em Tóquio 2020. As duas já eram as principais atletas do país quando Viviane Jungblut passou a representar o país.
“Quando entrei na seleção eu fiquei ‘meu Deus, vou dividir a seleção com a Ana Marcela’, eu fui para a competição nervosa. Sempre admirei muito ela e a Poliana, eram duas referências para mim no time”.
Virada de chave foi participação nos Jogos Olímpicos da Juventude Nanjing 2014
A natação entrou na vida de Viviane Jungblut quando ela tinha sete anos. O irmão mais velho sofria de asma e a recomendação médica era nadar. A mãe a levava junto – e logo a criança também quis entrar na piscina.
“Não saí mais de lá! Eu lembro que eram três dias de aula, mas nos outros dois eu também estava lá acompanhando meus irmãos e ficava lá brincando”.
Das aulas para as primeiras competições não demorou muito, mas Viviane não pensava muito na carreira competitiva de atleta – pelo menos até 2014. Com 18 anos, conseguiu índice e disputou os Jogos Olímpicos da Juventude Nanjing 2014 (9ª nos 400m e 11ª nos 800m). Uma experiência que a marcou profundamente.
“Cheguei lá e foi um choque muito grande com toda a estrutura, aquele clima Olímpico e o contato com vários países. Eu voltei de lá com uma vontade muito grande de estar novamente naquele ambiente – e que se concretizou depois na vida adulta”, conclui.