Nikola Karabatic vai com o coração para dar o seu melhor aos 38 anos

Ouro Olímpico em três ocasiões, campeão mundial em quatro, três vezes do europeu e tricampeão da Liga dos Campeões. Nikola Karabatic é, para todos, uma lenda do seu esporte. Faz história e está pronto para escrever mais capítulos da sua ilustre carreira, ao mesmo tempo que surgem mais desafios pela frente.

Apenas alguns meses antes dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, Karabatic estava torcendo pelos colegas de time assistindo o Mundial pela TV desde o sofá de sua casa.

Quando os Les Bleus ("Os Azuis", como é também conhecida a seleção nacional de handebol da França) chegaram em quarto lugar no Mundial do Egito, Karabatic se recuperava de uma lesão do ligamento cruzado anterior (LCA). Um tipo de lesão que poderia haver colocado fim na carreira de muitos atletas da sua idade.

Muitos, não Karabatic.

Em maio de 2021 ele voltou para uma renovada seleção francesa, liderada pelo antigo colega de time, Guillaume Gille. Enquanto referências como Michaël Guigou (40) e Luc Abalo (37) se aposentaram da seleção depois de Tóquio 2020, Karabatic, que fez 38 anos de idade há poucos dias (11 de abril), seguiu adiante.

O motivo? Compartilhar toda uma jornada repleta de conquistas com as gerações mais jovens.

"Atualmente eu desfruto de coisas diferentes", explicou Karabatic em entrevista exclusiva com o Olympics.com. "Eu tive a chance de conquistar todos os meus sonhos e vencer todos os títulos muitas vezes. A alegria é sempre extraordinária, mas me dei conta de que dividi-la com pessoas que nunca passaram por isso me dá uma felicidade imensa, além de gerar fortes emoções. Em parte isso me empurra para dar tudo de mim aos 38 anos."

A busca pelo quarto título da Liga dos Campeões

Karabatic já dividiu fortes emoções com esta geração mais jovem, quando o clube em que atua, o Paris Saint-Germain (PSG), venceu o Elverum, da Noruega, por 37 a 30, nos playoffs da Liga dos Campeões, no ginásio Pierre de Coubertin, no último dia 7.

Karabatic fez quatro gols de cinco arremessos e deu duas assistências.

A vitória levou a sua equipe para as quartas de final, quando vai enfrentar o Kiel, da Alemanha, dias 11 e 18 de maio. Isso significa que Karabatic ainda está em busca do quarto título da Liga dos Campeões pelo quarto time diferente, uma vez que suas conquistas anteriores foram com o Montpellier (FRA), o Kiel e o Barcelona (ESP).

"Vencer a Liga dos Campeões é prioridade para o meu time", disse Karabatic, antes de explicar sobre o que era necessário para conquistar este objetivo. "Infelizmente, nós temos tido muitas lesões no plantel para lidar. Mikkel Hansen teve uma trombose e embolia pulmonar e não vai terminar a temporada. Nedim (Remili) torceu o tornozelo", disse Karabatic.

"Sim, somos o PSG e todos pensam que somos fortes favoritos, mas não mais. Os favoritos são o Kiel, o Barcelona, o Kielce (Polônia) e o Veszprém (Hungria)", continuou.

"Acho que temos chance contra eles, vou lutar para estar nas finais", completou.

Uma longa e emocionante temporada

A temporada de Karabatic começou em julho passado com os Jogos Olímpicos e ainda não terminou. Ele voltou primeiro para o PSG e depois para a seleção francesa, para a Euro 2022 em janeiro passado, em que terminaram em quarto lugar numa campanha marcada pelas lesões de Nedim Remili, Luka Karabatic (irmão cinco anos mais novo), Timothey N'Guessan e Elohim Prandi. Depois do torneio ele regressou ao clube, que permanece imbatível na liga nacional e está nove pontos na frente do vice-líder, o Nantes.

É difícil imaginar um atleta com uma agenda lotada próximo dos 40 anos de idade, mas sendo por três vezes melhor jogador do mundo da IHF (sigla em inglês para Federação Internacional de Handebol - International Handball Federation) em 2007, 2014 e 2016, parece possível lidar com tudo aquilo que for passado para ele.

"Eu de vez em quando sinto alguma dor aqui outra ali, e não sei realmente porque, mas em geral eu me sinto mental e fisicamente muito forte", ele disse.

O papel que ele desempenha no PSG e nas seleções da França é diferente, mas o impacto que possui é ainda importante.

“Em anos passados eu precisava marcar, passar, defender, atacar e contra-atacar por uma hora em cada jogo. Agora eu ainda faço isso, no entanto por 30 ou 40 minutos em cada partida. Presto mais atenção em transmitir informações e ajudar os outros, mesmo que isso sempre tenha feito parte do meu jogo.”

O regresso à casa dos campeões Olímpicos

Na quinta-feira dia 14 de abril, Karabatic jogou pela seleção francesa o primeiro de uma série de dois amistosos contra a similar da Espanha (bronze em Tóquio 2020 e no Mundial). Convincente vitória por 44 a 33 para delírio do público local, que encheu o ginásio em Paris.

"É uma equipe muito forte para ser enfrentada em dois amistosos, ao passo que conseguem o pódio em quase toda competição que participam", disse a estrela do handebol, que vai jogar os seus primeiros jogos pela França em casa desde que ganhou o título Olímpico.

Mas para Karabatic, cujo irmão mais novo também joga pela seleção nacional, o interesse por esses jogos vai além do esporte.

"Nós vamos jogar na França, diante da nossa torcida, da nossa família e dos nossos amigos...será fantástico", disse ele.

Pode ser um aperitivo para os Jogos Olímpicos Paris 2024 que vão acontecer em pouco mais de dois anos. Por agora, Karabatic tem contrato com o PSG até o fim da temporada de 2023. Depois disso, o futuro é incerto.

"No mundo ideal eu estaria em forma, tudo estaria indo bem e o meu corpo aguentaria. E se o meu corpo aguentar, a minha motivação ainda estará lá. Dessa forma, por que não sonhar com Paris 2024?

"Mas eu vou tentar não olhar tão longe no futuro, só quero curtir a jornada porque ela vai ter um fim. Eu quero curtir essa aventura enquanto ela passa muito rápido."

O próximo grande compromisso com o time da França será o Campeonato Mundial da Polônia e Suécia em janeiro de 2023. Enquanto isso, Karabatic espera estar apto a compartilhar as novas emoções que estão por vir caso ele e seus colegas de PSG conquistem a Liga dos Campeões dentro de algumas semanas.

É o combustível que ele precisa para liderar a França rumo a um histórico título Olímpico em casa.