Marcus Vinicius D’Almeida: 'O que me levou ao número 1 do mundo foi o foco na medalha Olímpica'
Atleta brasileiro do tiro com arco atingiu a liderança do ranking mundial em fevereiro de 2023, mas afirma que o mais importante é estar no pódio nos Jogos Olímpicos Paris 2024. Confira entrevista exclusiva de Marcus Vinicius D’Almeida ao Olympics.com na véspera da abertura da Copa do Mundo de Tiro com Arco.
Em 6 de fevereiro de 2023, Marcus Vinicius D’Almeida alcançou mais um feito inédito em sua carreira: tornou-se o líder do ranking mundial do tiro com arco – o primeiro brasileiro a atingir esse posto. Uma conquista que, para ele, é mais importante ao país do que para sua própria sequência na carreira.
“Claro que ser o número um do mundo representou muita coisa. Mas representou muita coisa para o Brasil e também para todos os atletas que treinam comigo. É um incentivo porque mostra que a gente pode chegar lá. Isso é muito bom, não tem como negar”, comentou o atleta com exclusividade ao Olympics.com.
Os pés no chão em relação à liderança do ranking têm uma explicação racional: não adianta ser o primeiro do mundo agora e não atingir os objetivos mais importantes no futuro. O que para o arqueiro brasileiro significa alcançar a medalha nos Jogos Olímpicos Paris 2024.
“O que me levou a número um no mundo foi o foco na medalha Olímpica. Então, não é isso que vai mudar agora [em meu planejamento]”, resumiu Marcus Vinicius D’Almeida.
Uma caminhada que passa por dois planos principais em 2023. O primeiro deles é o Mundial em Berlim, na Alemanha, entre 31 de julho a 6 de agosto. Lá, ele espera atingir um bom resultado (se possível repetir a prata na edição de 2021) e garantir a classificação Olímpica. Depois, em outubro, ele mira o ouro nos Jogos Pan-Americanos, em Santiago, no Chile.
Antes disso, como líder do ranking, Marcus Vinicius D’Almeida vai ser uma das estrelas da abertura da Copa do Mundo de Tiro com Arco, que acontecerá em Antália, na Turquia, entre 18 e 23 de abril. Ele encarou um mês de treinos e participou da competição Spring Arrows no país – lá, só foi derrotado pelo atual campeão Olímpico Mete Gazoz na disputa do ouro.
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Marcus Vinicius D’Almeida aposta em amadurecimento
Ele prefere pensar que “a melhor fase ainda está por vir”, mas o fato é que Marcus Vinicius D’Almeida acumula grandes resultados recentes no cenário internacional. Foi vice-campeão mundial em 2021, venceu a terceira etapa da Copa do Mundo da modalidade em 2022 e levou o ouro no Vegas Shoot em fevereiro de 2023, que o deixou na liderança do ranking.
São resultados que o colocam entre os favoritos ao pódio nos Jogos Olímpicos em Paris 2024 e que, para ele, refletem o amadurecimento que teve na carreira nos últimos anos. Diferentemente de Rio 2016 e Tóquio 2020, em que chegou à terceira rodada, ele acredita estar pronto para alcançar a medalha que falta.
“Eu amadureci, fiquei mais velho e tive mais derrotas e vitórias nesse sentido. Tudo isso me dá mais experiência, mais calma e tranquilidade para saber lidar com os momentos em que você não está tão bem e, mesmo assim, tirar bons resultados. Eu acredito em mim e acredito nos meus resultados, então é um sonho possível”.
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Cabeça fria é a chave do sucesso no tiro com arco
Esse crescimento profissional também é fruto de um intenso trabalho psicológico que ele realiza desde que chegou à seleção brasileira, em 2012. Nos últimos oito anos, é acompanhado pela psicóloga Aline Wolff para conseguir manter a concentração em uma modalidade que pode ser decidida por milímetros.
“No tiro com arco, a parte psicológica representa, talvez, 90% da prova. É saber ter essa calma, manter essa frieza e saber o jogar o jogo naquele momento. É isso que a gente está trabalhando muito, em garantir o seu melhor naquele dia”, afirmou.
Diferentemente de outros esportes em que temas relacionados à saúde mental ainda são considerados tabus entre os competidores, no tiro com arco é basicamente uma questão prioritária para evoluir na carreira. “É uma coisa rotineira para nós. É comum ter em seleções e em clubes a indicação e o trabalho com psicólogos”.
‘Robin Hood’, Marcus Vinicius D’Almeida segue em evolução
A lenda de Robin Hood fala de um habilidoso arqueiro britânico que roubava dos ricos e entregava aos mais pobres. Seria Marcus Vinicius D’Almeida uma espécie de “Robin Hood” no tiro com arco, uma vez que ele rouba conquistas dos países mais tradicionais para obter feitos inéditos para o Brasil?
“Ah, eu não me considero, mas se for ver, a história pode ser confundida sim. É um esporte bastante forte na Europa e na Ásia e eu aqui na América do Sul. Mesmo quando tem alguma desvantagem para o brasileiro, a gente vai lá e dá um jeito de conquistar”, comentou.
Sua carreira foi marcada por momentos assim desde que surgiu para o mundo ao conquistar a prata nos Jogos Olímpicos da Juventude Nanjing 2014. A partir daí passou a ser um rosto conhecido para jornalistas e fãs do esporte olímpico – e os resultados posteriores apenas confirmaram que ele chegou para ficar na elite do tiro com arco.
“Primeiro, as pessoas me viam como o ‘atleta sensação’, o ‘atleta em ascensão’. Mas quando você vai caminhando e, de repente, é vice-campeão mundial, agora número um do mundo, isso finalmente acaba. Agora sou o Marcus D’Almeida, vice-campeão mundial. Quando sou apresentado, falam dos meus títulos. Eu estou de igual para igual com todos os que estão na atualidade”.
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Marcus Vinicius D’Almeida quer popularizar o tiro com arco no Brasil
Da mesma forma que encontrou o tiro com arco com um projeto social em Maricá, onde mora, Marcus Vinicius D’Almeida quer estimular que mais garotos e garotas possam conhecer a modalidade aqui no Brasil – ainda pouco praticada apesar de seus resultados nas principais competições internacionais.
Atualmente, ele participa de dois projetos nesse sentido. Em 2020, criou o clube Dispara Brasil, que busca formar novos atletas. Criado meses antes da pandemia com oito atletas, atualmente já conta com 28 pessoas. Além disso, é o coordenador do projeto Maricá Cidade Olímpica, lançado em 2022 e que abrange dez modalidades.
“É justamente uma forma de incentivar a garotada. Eu fico ali, fazendo o meu melhor para levar essas pessoas mais longe e evoluir mais o tiro com arco. Eu tenho títulos na base, então falo ‘olha, um brasileiro foi campeão mundial júnior’, como uma forma de incentivar todo mundo”, conclui.