Julia Soares quer aumentar dificuldade das séries, mas descarta protagonismo imediato na seleção de ginástica

Caçula da equipe do Brasil que conquistou o bronze inédito nos Jogos Olímpicos Paris 2024 e finalista Olímpica na trave, Julia Soares aproveita fama, mas segue rotina de treinos e competições para conquistar mais nos próximos anos.  

5 minPor Gustavo Longo
Julia Soares compete na trave nos Jogos Olímpicos Paris 2024
(Miriam Jeske/COB)

Assim que os Jogos Olímpicos Paris 2024 acabaram, Julia Soares ouviu um conselho de Iryna Ilyashenko que soou como premonição. “Vão mudar algumas coisas na sua vida agora”. Três meses depois, ela segue se equilibrando não apenas na trave, mas também em sua rotina entre manter o foco nos treinos e colher os frutos dos feitos que alcançou na capital francesa.

Ao lado de Caio Souza, a jovem representará o Brasil na Swiss Cup de Ginástica Artística 2024 em Zurique, na Suíça, neste sábado, 9 de novembro. A competição, realizada no formado de rodadas eliminatórias entre duplas de ginastas, é seu último compromisso na modalidade neste ano.

E depois? “Férias não, tem mais treino”, comenta aos risos a atleta ao Olympics.com. “Eu quero colocar alguns elementos de dificuldade, então exige muito treino. Queria entrar de férias? Queria, mas isso só em dezembro mesmo”, complementa.

Diferentemente de suas colegas de seleção, Julia Soares não diminuiu o ritmo. Voltou de Paris 2024 num sábado e, na segunda-feira, já estava no ginásio do CEGIN, em Curitiba, onde treina. Nesse período, competiu – e ganhou pela primeira vez – o individual geral no Campeonato Brasileiro.

Mas ela também soube aproveitar a fama repentina que obteve após o bronze por equipes e a vaga na final Olímpica da trave.

Participou de eventos, foi capa de revista, recebeu homenagens e até participou de ações sociais como uma partida beneficente de futebol pelo projeto Criança Esperança. Deu tempo até de ir à Itália e celebrar o casamento de Jade Barbosa – no que foi sua primeira viagem sozinha e a primeira vez em que esteve com as colegas de seleção sem ter que se preocupar com treinamentos.

“A Iryna e a Carol [Molinari, também treinadora] me ajudaram muito e compreenderam a situação, até porque são muitos eventos e alguns dias eu tenho que faltar. Mas elas falaram que eu tenho que realmente aproveitar, é um momento único na nossa vida”, explicou

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Julia Soares celebra primeira experiência Olímpica ‘tranquila’

A correria após Paris 2024 contrasta com a ‘tranquilidade’ que Julia Soares teve durante os Jogos – sua primeira experiência Olímpica na carreira. A atleta foi uma das destaques do país, principalmente com as apresentações seguras na trave na classificatória e na final por equipes.

“Eu não sei nem explicar, mas eu estava muito tranquila”, afirma.

Ela, inclusive, foi a primeira a se apresentar pelo Brasil justamente na trave – o seu aparelho preferido, mas que ela reconhece ser “traiçoeira”. Foi tão bem que não só ajudou na nota total, como também garantiu vaga na final entre as oito melhores. Algo que Julia não esperava.

“A Flávia e a Lorrane vieram me falar que peguei final e eu só disse ‘de que, não estou sabendo’. Elas falaram ‘de trave, menina, sua doida, olha lá no telão’. Aí fiquei meia hora olhando e não acreditei”, revela.

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Início ao lado da seleção brasileira e estrutura ‘em casa’ na pandemia

Nada mal para uma garota que, quando começou na ginástica, acompanhava atletas como Daiane dos Santos e Daniele Hypólito, que treinavam no mesmo local pela seleção brasileira. Mas se no início era brincadeira de cama elástica e bambolê, logo se tornou algo sério - a ponto dela virar ‘treinadora de ginástica’ de suas bonecas em casa.

Tamanha determinação que Julia Soares herdou de sua família, que sempre buscava formas para incentivá-la no esporte. Todos vendiam bombons com o intuito de arrecadar dinheiro e pagar suas viagens.

E quando a pandemia obrigou todo mundo a ficar em casa, o pai não teve dúvidas: adaptou uma própria trave de equilíbrio e uma barra paralela em casa para a adolescente continuar seus treinamentos. Ela fazia as atividades via videoconferência da Confederação Brasileira de Ginástica e depois realizava atividades sozinhas na estrutura improvisada.

“Eu sabia que aquilo ali ia ser um diferencial para quando voltar – e foi o que realmente acontece. A forma com que me esforcei na pandemia me fez uma menina mais forte, mais guerreira e determinada para ter resultado nas competições”.

Julia Soares sonha com novo elemento e medalha em LA28, mas descarta protagonismo na seleção

Aos 19 anos, Julia Soares aproveita o status obtido em Paris 2024, mas já planeja e sonha com LA28. Ela não esconde que seu objetivo principal neste ciclo é alcançar uma medalha Olímpica individual.

Para isso, ela quer incluir novos elementos em cada um de seus aparelhos para melhorar sua pontuação - o que explica a rotina puxada de treinos já neste segundo semestre de 2024. “Já conquistei com a equipe, mas quero conquistar individualmente. É o que sempre quis, desde novinha”, explica.

Se for bem-sucedida, ela pode criar o Soares II, uma vez que ela já possui um elemento em seu nome no código da Federação Internacional de Ginástica (FIG). “Eu falava quando pequena que queria ter um elemento com meu nome e ter essa realização na minha vida me marcou muito”, comenta.

Seria o momento de Julia Soares assumir protagonismo maior e liderança na equipe brasileira de ginástica até LA28?

“Não me vejo como uma protagonista no momento”, afirmou de forma categórica. “É óbvio que isso pode ocorrer de liderar algumas das competições. Espero que sim, futuramente, mas ano que vem a Flávia e a Lorrane têm muito potencial para segurar a equipe brasileira. Acredito que treinando e competindo juntas, vou aprendendo para que futuramente possa segurar uma equipe também”.

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