O que a jornada da ginasta Kaylia Nemour em Paris 2024 significa para a Argélia
A ginasta argelina Kaylia Nemour faz com que sua rotina nas barras assimétricas – uma das mais difíceis do mundo – pareça fácil demais.
A jovem de 17 anos possui uma rara habilidade de se apresentar no aparelho, e o faz com tanta facilidade que o altíssimo grau de dificulade em sua série, de apenas 30 segundos a 7,2 pontos acumulados, pode até passar batido.
À medida que ela se move, de compasso em compasso, executando elementos que poucas ginastas tentaram – incluindo um que leva seu nome – ela não parece fazer esforço, e nem desacelerar.
E sempre foi assim para a ginasta que fez história como a primeira de seu país a ganhar uma medalha absolutamente inédita no Campeonato Mundial de Ginástica Artística na Antuérpia no ano passado, quando assegurou a prata nas barras assimétricas.
“Eu diria que minha maior força é fazer ginástica ‘facilmente’”, disse Nemour em entrevista à Federação Internacional de Ginástica. “Ou seja, sinto muito a ginástica nos meus movimentos e no meu corpo.”
Nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, uma medalha para a jovem, que é nascida na França, seria novamente histórica: nenhuma nação africana jamais conquistou uma medalha de ginástica em uma competição Olímpica.
Para Nemour, competir em Paris não será "exatamente em casa"
Nascida no interior da França, em Saint-Benoît-la-Forêt, o talento de Nemour manifestou-se cedo.
Com apenas 12 anos, competindo na divisão Espoir de 2006, uma espécie de categoria de base, ela venceu com folga o Campeonato Francês no individual geral.
Nemour é considerada ginasta prodígio do clube Avoine Beaumont, que produziu outras atletas campeãs ao longo dos anos, incluindo Youna Dufornet, medalhista mundial no salto, atleta Olímpica em Londres 2012, e a quem Namour idolatra.
Observar Dufornet, diz Nemour, inspirou-a seguir adiante e a perseguir uma carreira global.
Mas uma disputa entre a federação francesa e o ginásio de seu clube colocou seu sonho em risco. Nemour, então, decidiu que representaria a Argélia, país de seu pai e seus avós paternos. Ela foi liberada para defender o país a tempo de disputar o Campeonato Africano de 2023, e venceu.
Nemour admitiu viver um misto de sentimentos conflitantes enquanto se prepara para participar dos Jogos Olímpicos, e em seu país natal. "Vou competir nos Jogos em casa”, disse Nemour à TSA. “Mas é um sentimento misto. Quando penso em Paris 2024, digo a mim mesma que estou em casa, mas não exatamente em casa.”
Sua mãe, Stephanie Nemour, tentou ajudar a filha a manter o foco na tarefa que tinha em mãos, apesar das complicações.
“'Você deve se concentrar apenas no seu trabalho, no motivo pelo qual você acorda todas as manhãs. Todo o resto é secundário’”, ela contou que costuma dizer à filha. “Ela treina na França e é apoiada a todos os níveis pela Argélia, país dos avós que só conheceu através de fotos. É uma sensação estranha, incomum.
A história está à espera
Embora Nemour tenha feito seu nome – e história – nas barras assimétricas, ela se tornou uma forte competidora também no individual geral e na trave de equilíbrio.
“Espero continuar a evoluir e melhorar”, disse. “Acho que posso fazer ainda melhor.”
Para chegar ao topo do pódio de medalhas nas barras, Nemour enfrentará a forte concorrência de Qiu Qiyuan, da República Popular da China, atual campeã mundial nas barras assimétricas, e no geral, fará parte de uma batalha pelo bronze diante das franco favoritas Simone Biles, dos Estados Unidos, e a brasileira Rebeca Andrade.
Mesmo assim, só o sonho de conquistar uma medalha em Paris já encanta Nemour.
“Só de pensar nessa medalha já dá vontade de chorar, seria incrível”, completa.