Elina Svitolina: "Agora a minha família e minhas raízes são a prioridade"
A tenista ucraniana Elina Svitolina se afastou das quadras em março para se concentrar em sua família, depois que a guerra começou em seu país natal. A esposa do francês Gael Monfils conversou com o Olympics.com sobre sua decisão, o apoio que recebe e seu futuro.
Até para os melhores atletas do mundo, o esporte pode ser colocado de lado. E mais, às vezes ele tem que ser colocado de lado.
O que pode caber mais no cotidiano da tenista ucraniana Elina Svitolina, medalhista de bronze do torneio feminino em Tóquio 2020?
Ela recentemente anunciou estar esperando sua primeira criança com o tenista francês Gael Monfils, seu marido. Juntos eles terão uma menina em outubro.
Algo feliz que chega junto a um contraste na vida de Svitolina, que se afastou do circuito do tênis em março, após o Aberto de Miami, um mês depois que começou a guerra na Ucrânia. Não poderia mais se concentrar em seu jogo.
Ela explicou sobre sua escolha, falou sobre a vida e os objetivos futuros, em uma entrevista exclusiva para o Olympics.com.
Mantendo contato com a família
A vida desta natural da cidade de Odessa ficou difícil de lidar e, junto com as recorrentes dores nas costas - de que nunca se livrou -, ela resolveu fazer uma pausa das quadras.
"Estava duro para mim conciliar tudo isso", disse Svitolina durante a Global Sports Week (Semana Global dos Esportes), em Paris. "[Foi] uma mistura de tudo que estava muito sobre os meus ombros. É o porquê desta ter sido a melhor decisão, para me acalmar com tudo e ter tempo para a minha família, com tudo o que está acontecendo nos últimos dias."
Os últimos dias foram bastante estressantes para Svitolina, já que Odessa tornou-se alvo da guerra. Sua cidade natal, onde sua família ainda vive.
Enquanto os seus pais foram capazes de sair do país, sua avó ainda tenta se proteger dos ataques.
"Falo com ela o tanto quanto posso. Há muitas explosões acontecendo, e ela tem estado no porão a maior parte do tempo. Com esperanças, ela está segura. Tenho mantido contato o tanto quanto eu posso, mas não é sempre possível. Apenas cruzo os dedos e rezo para que tudo esteja bem por lá."
Apoiando um ao outro
A antiga número 3 do mundo está totalmente focada em ajudar a sua família, e ela não está sozinha. Ele tem apoio de todos os lados, inclusive da comunidade dos atletas.
"Tenho tido apoio de muitas pessoas, da Ucrânia e de outros tenistas. Tentamos ajudar um ao outro de diversas maneiras, para as nossas famílias. Isso realmente nos une. Muitas pessoas perguntam como está a minha família ou se eu preciso de algo. Então esta tem sido uma enorme ajuda para os ucranianos. Todos nós esperamos uma coisa apenas: a paz para o nosso país."
Ela também pode contar com o apoio de Gael Monfils, com quem se casou em julho passado, que recentemente anunciou que não vai disputar Roland Garros (22 de maio a 5 de junho) por conta de uma lesão no pé.
"Gael tem estado ao meu lado em todos os meus passos. Ele me dá muito apoio. Obviamente ele me vê todos os dias, e não no melhor humor. Há altos e baixos, por isso sou muito grata pelo apoio que ele tem me dado. Sei que é também duro para ele me ver triste. Entendo que algumas vezes não deve ser fácil para ele."
Elina Svitolina: “Eu tomo a força de todas as pessoas que estão na Ucrânia”
Em abril, Monfils declarou ao jornal francês Le Parisien que ele "não podia entender como ela tinha conseguido atuar em Indian Wells e Miami", e somado a isso, que ele estava "admirado com sua esposa", uma vez que acredita ser "excepcional encontrar uma energia dessas em momentos tão delicados".
Para Svitolina, isso é algo que vai além da motivação.
"Eu tomo a força de todas as pessoas que estão na Ucrânia justo agora. Eu não posso imaginar como elas estão, o quão duro mentalmente é. Tenho como base o que elas fazem, quão fortes e bravos elas se mostram. Tenho isso como uma grande motivação para acordar todos os dias e fazer algo para aqueles que precisam, de fazer algo que possa ajudar as pessoas. Para mim, agora, minha família e minhas raízes são a prioridade".
Ajudar as pessoas, isso é algo que ela faz naturalmente. De volta em 2019, ela criou uma fundação com a missão de "ajudar a encorajar as crianças através do tênis, a fim de aprender os valores do trabalho duro e auto disciplina".
Algo que faz ainda mais sentido hoje em dia.
"Justo agora nós estamos ajudando as crianças que jogam tênis. Meu objetivo é dar a eles uma chance se seguir seus sonhos no tênis. Nós damos oportunidade de continuar treinando na Europa. Minha fundação paga pelos alojamentos, comida e treinamento. Isso é realmente importante para dar-lhes a chance de continuarem sonhando e praticando o esporte que amam."
Trazer outra medalha Olímpica para a Ucrânia em Paris 2024
Jogar tênis obviamente não é a prioridade no momento, mas isso não significa que o esporte esteja fora de questão. Em pouco mais de dois anos os Jogos serão disputados em Paris e o torneio de tênis será em Roland Garros. Um lugar bastante especial para Svitolina, que lá alcançou as quartas de final em três ocasiões, em 2015, 2017 e 2020.
"Os Jogos Olímpicos em Paris serão quase como os Jogos Olímpicos em casa", disse Svitolina.
"É algo que toca o meu coração."
Seu próximo grande objetivo no esporte será faturar outra medalha em Paris 2024, depois de conquistar o bronze em Tóquio 2020, no torneio feminino, quando superou Marketa Vondrousova (CZE) no jogo que valeu a medalha de bronze, depois de haver perdido o primeiro set.
Aquela foi a primeira medalha Olímpica para a Ucrânia no tênis.
"Meu objetivo é disputar os Jogos Olímpicos aqui em Paris. É bom que [Gael e eu] ambos podemos nos preparar da melhor maneira possível. Tentarei estar 100% pronta para isso e fazer o meu melhor, para dar outra medalha para a Ucrânia no tênis."
Os Jogos Olímpicos? “Uma pressão extra, mas um empurrão extra”
Uma tenista profissional viaja todo o ano para disputar torneios sob seu nome. Na carreira, ela venceu 16 títulos, incluindo o Masters 2018 e quatro torneios WTA 1000.
Mas nos Jogos Olímpicos você compete pelo seu país. E a diferença é enorme.
"Cada vez que você pisa na quadra e você joga pelo seu país nos Jogos Olímpicos, você tem uma pressão extra. Mas eu tenho isso como uma motivação, eu amo esse tipo de pressão", explica Svitolina.
"Sinto como se isso fosse um desafio e ver a bandeira próxima ao seu nome, vendo a bandeira ucraniana sendo hasteada quando você vence...isso te dá uma energia extra, um empurrão extra. Muitas pessoas estão assistindo, então você não quer desapontá-las. Este é um grande desafio, mas isso me dá uma grande motivação para fazer o meu melhor."
"O amor e apoio que tenho de volta do povo ucraniano é incrivelmente especial."
Para Svitolina, apoio não é um conceito de apenas um sentido, uma via. Ela prova isso todos os dias, através dos seus gestos e atitudes com os compatriotas ucranianos, incluindo sua fundação. Soma-se isso com o que ela faz pela família, sua principal prioridade.
E talvez, o esporte estará de volta na sua lista de prioridades, dentro de 26 meses.
Confira a entrevista: