Bruninho é muito mais do que o ‘filho do homem’ no vôlei brasileiro 

Por Gustavo Longo
4 min|
Bruninho celebra partida na VNL 2024 de vôlei masculino
Foto por Buda Mendes/Getty Images

Quando René Magritte pintou seu famoso quadro “O Filho do Homem”, deixou claro que não havia sentido, pois suas obras “não significavam nada porque o mistério tampouco o significa”. Tal lógica pode ser levada à seleção masculina de vôlei entre o levantador Bruninho e seu pai, o técnico Bernardinho – um rótulo que também não significa nada.

Nos Jogos Olímpicos Paris 2024, pai e filho irão reeditar a parceria que rendeu três medalhas Olímpicas entre Beijing 2008 e Rio 2016. O objetivo é recolocar o Brasil no pódio após a quarta posição em Tóquio 2020 – primeira vez que o vôlei masculino ficou sem medalha desde Sydney 2000.

A diferença é que, agora, Bruninho sabe que não precisará carregar este peso em suas costas.

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Aos 38 anos, o atleta já mostrou que é muito mais do que o “filho do homem”. São quatro medalhas em campeonatos mundiais (campeão em 2010), três pódios Olímpicos, sendo duas pratas e o ouro no Rio 2016, e o posto de capitão da seleção masculina de vôlei justamente quando seu pai não estava mais no comando técnico.

Neste ciclo, o levantador virou referência técnica e de liderança em um grupo que, mesmo com altos e baixos, obteve a vaga em Paris 2024 no Pré-Olímpico realizado no Rio de Janeiro. A saída de Renan Dal Zotto, contudo, promoveu o retorno de Bernardinho à equipe, mas agora em uma situação diferente na carreira de ambos.

“É lógico que hoje é uma relação totalmente diferente de quando eu entrei na seleção, há 18 anos, em 2006. Já tenho bastante experiência, então a gente consegue colocar essa relação profissional e ao mesmo tempo ter uns feedbacks entre capitão e treinador. É uma relação normal, natural”, confirmou ao O Globo.

Carreira vitoriosa de Bruninho acabou com estigma

O ano era 2006. Então com 19 para 20 anos, Bruninho foi campeão da Superliga pelo Cimed e eleito o melhor levantador da competição. Era natural, portanto, que ganharia as primeiras oportunidades pela seleção masculina comandada por seu pai, Bernardinho - então campeã Olímpica em Atenas 2004 e que conquistaria o bicampeonato mundial naquele mesmo ano.

Contudo, o polêmico corte de Ricardinho, então levantador titular e considerado o melhor do mundo na posição, no ano seguinte alçou Bruninho ao protagonismo logo em sua segunda temporada pela seleção. Um peso que o acompanhou por muito tempo.

“Então, não vou deixar de ser filho dele jamais. E nem quero deixar. Mas ser sempre comparado a ele e ouvir que existiam dúvidas sobre a minha chegada na seleção era uma coisa que incomodava”, comentou em depoimento ao UOL.

Um fantasma que ele só expurgou com a conquista do ouro nos Jogos Olímpicos Rio 2016, com o Maracanãzinho lotado e eleito o melhor levantador da competição. “Era a competição mais importante, era a que faltava e eu sabia que aquilo ali seria a grande redenção não só minha, mas de todo um grupo”, explicou ao UOL.

"O Filho do Homem", de René Magritte, e muito mais do que o filho do homem, com Bruninho

Foto por Reprodução (à esq.) e Buda Mendes/Getty Images (dir.)

Paris 2024 pode marcar despedida de Bruninho pela seleção de vôlei

Após os Jogos Olímpicos Paris 2024, Bruninho estará de volta ao vôlei brasileiro. Após sair do Modena, da Itália, ele assinou com o Vôlei Renata/Campinas para a próxima temporada. Contudo, ele admite que se aproxima do fim de sua carreira.

“Minha curva já está descendo”, sintetizou ao O Globo, para depois afirmar. “É um momento diferente, já me preparando um pouco para o meu pós-carreira. É o momento em que o vôlei deixa de ser a prioridade número um, absoluta, e começa a se dividir um pouco dentro da minha vida”.

Dessa forma, a disputa em Paris poderá ser a última de Bruninho pela seleção masculina de vôlei - e também a última em parceria com seu pai dentro da quadra. Mas seja como jogador ou em outra atividade, ele não pensa em abandonar o esporte em que se tornou referência e foi além do ‘filho do homem’.

“Com certeza vou querer continuar dentro do esporte. Não penso hoje em ser treinador, mas gostaria de continuar dentro do esporte. Então, ainda preciso entender. Ainda tenho alguma lenha para queimar, para jogar alguns anos, e acho que nesses anos vou conseguir decidir e entender qual vai ser o meu futuro no restante da minha vida”, concluiu.