Bruna Alexandre e o sonho Olímpico e Paralímpico em Paris 2024
Apenas uma atleta competiu no tênis de mesa tanto nos Jogos Olímpicos como nos Paralímpicos - e esse número pode aumentar para dois este ano por conta da brasileira Bruna Alexandre. Com três medalhas Paralímpicas no currículo, a mesatenista de 28 anos hoje faz parte da equipe feminina brasileira que obteve uma cota para o país em Paris 2024.
Como os Comitês Olímpicos Nacionais têm autoridade exclusiva sobre a representação de seus respectivos países nos Jogos Olímpicos, a participação dos atletas nos Jogos de Paris depende de seus CONs selecioná-los para representar sua delegação em Paris 2024.
E ela conseguiu preencher a lacuna entre o tênis de mesa Olíimpico e Paralímpico enquanto busca seguir os passos da polonesa Natalia Partyka, seis vezes medalhisita de ouro Paralímpica.
“Sempre tive a Natalia Partyka como inspiraçãp por tudo que ela conquistou em sua carreira”, disse Alexandre ao Olympics.com e à World Table Tennis (federação intenacional do esporte) durante o recente Campeonato Mundial de Tênis de Mesa por Equipes no mês passado. “Inspirei-me tanto nela que me concentrei muito para vencê-la, e no ano passado consegui."a
“Continuo me inspirando nela; acho que ela deu início a essa história do tênis de mesa, jogou Olímpico e Paralímpico no mesmo ano, e isso me dá uma grande inspiração”.
Bruna Alexandre teve de amputar o braço direito aos seis meses de idade, por conta de uma trombose ocorrida após uma injeção mal aplicada.
Mas isso não a incomoda. Além de ter se acostumado a viver assim, ela tem sido um modelo e inspiração para outras pessoas, da mesma forma que Partika foi para ela.
"Estou muito feliz por representar todas as pessoas com deficiência e mostrar que tudo é possível”, disse ela. “Acho que isso […] me dá mais vontade de querer continuar e correr atrás dos meus sonhos, pensando não só em mim, mas em todas as pessoas com deficiência.
“Espero que algum dia isso seja algo normal no mundo: uma pessoa com deficiência jogando contra alguém que tem os dois braços, independente da deficiência”.
ENTENDA | | O sistema Olímpico de classificação do tênis de mesa
Início foi no esporte Olímpico
Natural de Criciúma, Bruna Alexandre começou jogando aos sete anos de idade, enfrentando crianças sem deficiência. Falando ao Olympics.com em outra entrevista ano passado, ela relembrou: “Quando comecei, não tinha nenhum objetivo no tênis de mesa. Fui e quando me dei conta, já fui convocada para o time infantil.
“Quando comecei a disputar os campeonatos estaduais em Santa Caratina, ganhei de atletas da seleção e comecei a ver que poderia fazer uma boa carreira, melhorar cada vez mais. E foi aí que a confederação brasileira me viu," ela explicou.
E Bruna não olhou para trás desde então, integrando a seleção brasileira desde os 11 anos.
Embora no início tenha sido difícil aprender a lidar com a coordenação e o equilíbrio necessários ao esporte por ter apenas um braço, desde então ela se adaptou graças à prática de outras modalidades, incluindo duas populares em território brasileiro: futsal e skate.
"O skate proporciona essa sensação de corpo e equilíbrio. A força de todo o corpo tem que ser estável. Se você amolecer, você tropeça", explicou.
Ela encara rivais com e sem deficiência, tendo , conquistando o título nacional do Brasil duas vezes. E jogar tênis de mesa sem problemas também ajudou na questão do equilíbrio. "Hoje, por exemplo, quase não tenho dificuldade de equilíbrio. Consigo alcançar todas as bolas. Posso estar caindo, mas consigo alcançá-las."
Sua principal força? "Posso sacar como pessoas com dois braços. Deficiência não é nada. Podemos fazer tudo."
Diferenças entre o tênis de mesa Olímpico e o Paralímpico, segundo Bruna Alexandre
Com tanta experiência jogando contra atletas de tênis de mesa Olímpicos e Paralímpicos, Bruna já consegue perceber algumas diferenças: algumas estão ligadas com as duas versões diferentes do esporte. Outros, sem espanto algum, dizem respeito a recursos e profissionalismo.
“O aquecimento [para o tênis de mesa], por exemplo, leva uma hora, mas tenho que chegar quatro horas antes do jogo [no tênis de mesa normal]”, disse ela no Campeonato Mundial por Equipes.
"O foco é muito grande e cada um tem sua equipe, fazendo seu trabalho de forma discreta. E isso é muito diferente do que vivi nos Jogos Paralímpicos. Mas agora tenho meu próprio técnico e estou aprendendo cada vez mais também."
E no lado esportivo? "O esporte Olímpico (tênis de mesa para pessoas sem deficiência) é um jogo muito mais rápido."
Ela explicou: “Por exemplo, quando joguei com a japonesa Hirano Miu [no Mundial], a bola voltou muito mais rápido. Nos Jogos Paralímpicos, tirando a Natália, ela não volta tão rápido.
“Então quando eu jogo tênis de mesa [Paralímpico], talvez seja um pouco mais fácil para mim, porque a bola vem um pouco mais devagar. É uma adaptação que eu faço quando jogo a versão Olímpica; do meu equilíbrio."
Com a vaga do Brasil já obtida na equipe feminina em Paris, a principal tarefa de Alexandre agora será convencer a comissão técnica de que ela deve ser uma das três jogadoras que compõem o elenco.
“Espero poder disputar os Jogos Olímpicos e conquistar a medalha de ouro em Paris [nos Jogos Paralímpicos]. Em Tóquio levei a prata, mas vejo que minha preparação está cada vez melhor e a experiência que estou ganhando nas categorias Olímpicas está me ajudando cada vez mais."
Uma nova página da história do tênis de mesa pode vir a ser escrita dentro de alguns meses.