Ana Patrícia e Duda reconquistam o ouro do vôlei de praia feminino para o Brasil após 28 anos
O Brasil volta ao topo do pódio no vôlei de praia feminino após 28 anos. A modalidade rendeu o primeiro ouro Olímpico feminino do país, em Atlanta 1996. Ana Patrícia e Duda repetem o ouro, numa das conquistas mais aguardadas de Paris 2024. A dupla número 1 do mundo vinha de um ciclo fortíssimo e fez uma campanha excepcional. Nesta sexta-feira, 9 de agosto, Ana Patrícia/Duda disputaram a final aos pés da Torre Eiffel. Venceram as canadenses Melissa Humaña-Paredes e Brandie Wilkerson por 2 sets a 1 (26-24, 12-21, 15-10).
Seria uma batalha mental para Ana Patrícia e Duda, depois de uma semifinal já difícil. O primeiro set foi uma provação. As brasileiras tiraram uma diferença de quatro pontos e, num final equilibradíssimo, venceram por 26-24. Melissa/Brandie acertaram seu jogo no segundo set e dominaram o final, com amplos 12-21. Contudo, o chacoalhão ajudou Ana Patrícia e Duda. Voltaram em intensidade máxima para o tie-break e foram brilhantes, para concluir a parcial em 15-10. Superaram a batalha de 59min para o ouro.
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Duda e Ana Patrícia fecharam o jogo com 20 pontos de ataque cada. Ana Patrícia fez seu bloqueio valer três pontos, enquanto Duda teve um ace, essencial no primeiro set. Destaque à maneira como o ataque cresceu sobretudo no tie-break, com sete pontos de Duda e cinco de Ana Patrícia. Foi um desempenho fantástico ao longo da campanha, de duas jogadoras completas, com recursos no ataque e uma coleção de defesas incríveis. Valeu ouro.
A união perfeita de Duda e Ana Patrícia se nota até mesmo pela história das jogadoras. A sergipana Duda cresceu nas areias ao lado da mãe, profissional no vôlei de praia, e rodou o circuito desde pequena. A mineira Ana Patrícia nasceu distante do mar e começou a praticar a modalidade relativamente tarde, aos 16 anos. Juntas, formaram uma parceria campeã nas categorias de base, mas que só se uniu de vez no nível adulto depois de Tóquio 2020. Após uma coleção de títulos, veio o mais importante, o ouro Olímpico.
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O reencontro de uma dupla destinada ao sucesso
Ana Patrícia e Duda formaram inicialmente dupla pela seleção brasileira nas categorias de base. As duas ganharam o ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude Nanjing 2014, além de dois títulos no Mundial Sub-21. Profissionalmente, as duas tiveram outras parceiras e disputaram Tóquio 2020 em duplas distintas. Já a reunião de sucesso ocorreu no atual ciclo Olímpico, para grandes momentos.
Ana Patrícia e Duda conquistaram o ouro no Campeonato Mundial 2022 (contra dupla canadense que incluía Brandie Wilkerson) e a prata no Mundial 2023. Também levaram a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos 2023. Passaram a acumular conquistas no circuito mundial de vôlei de praia, com direito a 15 pódios nos últimos três anos, incluindo oito medalhas de ouro. Naturalmente, as expectativas eram grandes em Paris 2024.
O Brasil chega a oito medalhas no vôlei de praia feminino em Jogos Olímpicos. Até então, o país acumulava um ouro, quatro pratas e dois bronzes. A participação mais marcante havia ocorrido em Atlanta 1996, na estreia Olímpica da modalidade. Na ocasião, a final brasileira teve ouro para Sandra Pires e Jaqueline Silva, além da prata para Mônica e Adriana Samuel. Ana Patrícia e Duda reconstroem essa história, após o pódio sem brasileiras em Tóquio 2020.
O Brasil também foi representado por Carol/Bárbara no vôlei de praia feminino em Paris 2024. As duas alcançaram as oitavas de final. Já no masculino, Evandro/Arthur foram às quartas de final, enquanto André/George pararam nas oitavas.
Vôlei de praia em Paris 2024
A grande recuperação no primeiro set
Melissa/Brandie começaram o primeiro set mirando o saque em Duda e forçando os erros da dupla brasileira. Conseguiram abrir 2-7 no placar, quando as brasileiras fizeram o seu primeiro pedido de tempo. A reação do Brasil se tornou um pouco maior neste momento, mas ainda sem corrigir todos os problemas. O ataque adversário era mais efetivo.
A dupla do Canadá chegou a deixar o placar 11-15, numa situação perigosa para as brasileiras. Foi quando a recuperação de fato começou, com Duda crescendo o ataque e Ana Patrícia mostrando sua habilidade. Paty salvou até uma bola de cabeça, num ponto decisivo, vencido após desafio brasileiro, que deixou o placar em 15-17.
O momento pendia para Ana Patrícia/Duda no final do primeiro set. A virada já se concretizou no 18-17, com um ace de Duda. Porém, as canadenses não se entregavam e a disputa foi ponto a ponto, com o set se alongando. A virada de Melissa/Brandie pintou em 23-22. As brasileiras recuperaram a dianteira com 25-24. Então, Duda fechou o set de maneira genial, com uma defesa que virou ataque, ao largar a manchete no fundo da quadra adversária para o placar de 26-24.
A dura derrota no segundo set
O segundo set permaneceu bastante equilibrado de início. Duda e Ana Patrícia mostravam a quantidade de recursos que possuem, mas Melissa e Brandie atacavam com potência, além de confundirem as brasileiras com variações. Quando as brasileiras fizeram 9-7, sofreram o empate em 9-9 pouco depois. Já a virada das canadenses veio com um bom momento que rendeu 10-13 no marcador.
O Canadá cresceu sobretudo na defesa, com boas defesas de Melissa. Mesmo quando Duda salvava, as adversárias viravam a bola. O Brasil pediu tempo com 11-15 no placar. Não auxiliou. Ana Patrícia/Duda não conseguiram reencontrar seu jogo, enquanto Melissa e Brandie tinham mais precisão nas ações. Concluíram a vitória na parcial por 12-21.
A perfeição em pleno tie-break
O tie-break representava outro jogo. Ana Patrícia e Duda levaram essa máxima a sério e voltaram com outra postura para o terceiro set. Duda mais uma vez cresceu no momento decisivo, como aconteceu na semifinal. Brilhava na defesa e cravava os ataques. Também foi importante a recuperação de Ana Patrícia, com potência. Com o placar em 5-2, veio o pedido de tempo das canadenses.
A dupla do Canadá não conseguiu se acertar. Duda e Ana Patrícia conseguiam variar seu jogo e sair das armadilhas das adversárias. Duda teve uma sequência particularmente brilhante quando o placar ficou em 8-4. Ponto a ponto, o ouro se tornava mais próximo e as canadenses erravam mais do que nos dois sets anteriores. Houve mesmo uma discussão na rede neste momento, que paralisou o jogo. O clima se apaziguou quando o DJ tocou "Imagine" e fez as atletas sorrirem.
Ana Patrícia estava implacável nos pontos finais, unindo força e precisão nos ataques. Coube a ela fechar o tie-break em 15-10. A botar o ponto final dourado numa história belíssima, escrita através de uma campanha irretocável. O desfecho merecido.