Rainha do mar, Ana Marcela Cunha nada para ser a maior da história

Por Fernanda Lucki Zalcman
6 min|
Ana Marcela Cunha
Foto por Emanuele Perrone/Getty Images

A soteropolitana Ana Marcela Cunha já ganhou tudo na carreira: Jogos Olímpicos, Mundial, prêmio de melhor do mundo, e por aí vai. Com 1,63m de altura, vira uma gigante dentro do mar.

Aos 32 anos de idade, ela ainda quer mais. Com o nome já escrito na história da maratona aquática, a brasileira vai a Paris 2024 em busca de escrever mais um capítulo e entrar para o hall das bicampeãs olímpicas.

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Mas nada disso se passava pela cabeça de Ana Marcela quando começou a nadar com somente dois anos de idade. Filha de pai nadadora e mãe ginasta, ela começou a entrar na água na creche que frequentava. Aos 8 anos, já nadava em águas abertas e se destacava nas provas de fundo em piscinas.

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Ana Marcela Cunha estreia em Jogos Olímpicos aos 16 anos

Não demorou muito para que o talento chamasse atenção. Chegou à seleção brasileira em 2006, com apenas 14 anos, e em 2007, deixou a Bahia rumo à cidade de Santos, em São Paulo, onde passou a treinar pela Unisanta. Os pais, que sempre apoiaram a filha, embarcaram juntos na nova aventura, fechando uma loja de produtos para animais para acompanhar Ana Marcela na mudança.

No mesmo ano, ela competiu pela primeira vez nos Jogos Pan-Americanos do Rio e terminou a prova na sétima posição.

E em plena ascensão, Ana Marcela Cunha disputou os Jogos Olímpicos pela primeira vez na carreira, quando tinha somente 16 anos de idade. Em Beijing 2008, ela reforçou o status de promessa, nadou no nível das melhores do mundo e bateu na trave, terminando na quinta colocação nos 10km da maratona aquática.

Melhor do mundo, frustração por Londres 2012 e o primeiro título mundial

Dali em diante, ela não parou mais. Em 2010, conquistou a medalha de bronze no Mundial e foi campeã da Copa do Mundo da modalidade. Com isso, foi eleita pela Federação Internacional de Natação (FINA) como a melhor nadadora de águas abertas da temporada.

Depois da grande estreia olímpica e de ser a melhor do mundo, veio a primeira frustração: não conseguiu a vaga para os Jogos de Londres 2012 por menos de um segundo. Isso porque, na seletiva, ficou em 11º lugar e somente as 10 primeiras asseguravam a classificação.

A volta por cima, porém, veio como um foguete. Dois dias depois, conquistou o ouro no Campeonato Mundial, vencendo a prova dos 25km com o tempo de 5:29.22. Ela foi a primeira nadadora brasileira a alcançar o feito. No mesmo ano, foi bicampeã da Copa do Mundo.

Depois disso, Ana Marcela Cunha virou figurinha carimbada nos pódios das principais competições do mundo.

Ana Marcela Cunha foi campeã mundial pela primeira vez em 2011

Foto por Lintao Zhang/Getty Images

A coleção de medalhas e nova frustração na Rio 2026

Aos 20 anos, a jovem baiana já era referência na maratona aquática. No ciclo para os Jogos Olímpicos do Rio 2016, foi tricampeã da Copa do Mundo (2014) e bi mundial em 2015. Com isso, foi eleita a melhor do mundo em dois anos consecutivos.

O ano de 2016, porém, foi desafiador para ela. Pouco tempo antes dos Jogos Olímpicos, Ana Marcela descobriu uma doença autoimune, que causa destruição das plaquetas, chamada de PTI. Por isso, começou a tomar corticoides e precisou passar por uma cirurgia meses após os Jogos para retirar o baço.

Durante a prova olímpica, em que era uma das favoritas, ela acabou terminando apenas na 10ª colocação. Na época, a nadadora explicou que só fez uma das três alimentações que poderia ao longo da prova, nadando 7,5 km sem se alimentar. Isso foi determinante para o desempenho considerado abaixo do esperado.

Na temporada seguinte, porém, tudo voltou ao normal. Recuperada da cirurgia, conquistou mais três medalhas no Mundial de 2017 (um ouro e dois bronzes) e foi eleita a melhor do mundo pela quarta vez na carreira.

Ana Marcela Cunha domina competições mundiais

Foto por 2017 Getty Images

Ana Marcela alcança a consagração em Tóquio 2020

Como se não bastasse as quatro eleições de melhor nadadora da temporada, ela repetiu o feito nos dois anos seguintes. Em 2019 ainda conquistou dois ouros no Mundial, nos 5km e nos 25km, além do inédito título nos Jogos Pan-Americanos de Lima.

Dois anos depois, Ana Marcela alcançou o ápice. Após 13 anos desde a sua primeira participação em Jogos Olímpicos, ela conquistou a tão sonhada medalha de ouro em Tóquio 2020. A prova foi estrategicamente controlada desde o início, com a nadadora assumindo a ponta nos dois quilômetros finais para terminar em primeiro lugar e conquistar o título mais importante da carreira.

E de quebra, ainda foi eleita a melhor do mundo pelo número recorde de sete vezes.

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Ana Marcela Cunha vai às lágrimas após conquistar o ouro em Tóquio 2020

Foto por Jonne Roriz/COB

Ana Marcela Cunha em Paris 2024 após mudanças

Em 2022, levou mais dois ouros no Mundial e um bronze, repetido no ano seguinte. No rol de conquistas da baiana, só falta o primeiro lugar na prova dos 10km do Mundial, que ainda não veio. E muita coisa mudou desde o ouro em Tóquio 2020. Ana Marcela encerrou uma longa e vitoriosa parceria com o treinador Fernando Possenti, se mudou para a Itália e até se casou. Mas uma coisa não mudou: a vontade de vencer.

"Foi um ano difícil, mas bom ao mesmo tempo. É sempre complicado ganhar confiança novamente. Tive esse desafio, essa mudança de ir morar na Itália. Estou bem confiante e contente com o que está por vir. São estilos de treino diferentes, mas que dão certo ao mesmo tempo. É questão de acreditar no que é feito. Depende de eu me entregar e estar no nível que sempre estive, nadando bem e tendo bons resultados”, disse em entrevista ao Olympics.com antes do Pan de Santiago.

Já em fevereiro de 2024, ela assegurou vaga em Paris 2024 e vai disputar os Jogos Olímpicos pela quarta vez. Na última prova antes da disputa na capital francesa, venceu a etapa da Itália da Copa do Mundo de águas abertas.

A conquista dá ainda mais confiança para Ana Marcela Cunha brigar pelo bicampeonato olímpico aos 32 anos. Independente do resultado, ela já é uma das maiores atletas da história do Brasil e da maratona aquática mundial.

A prova dos 10km feminina acontece nesta quinta-feira, 8 de agosto, às 7h30 de Paris, 2h30 no horário de Brasília.