Rumo à segunda participação nos Jogos, surfista portuguesa Yolanda Hopkins Sequeira já pensa nas futuras ondas Olímpicas
Uma nova tatuagem não vai impedir Yolanda Hopkins Sequeira de ir praticar surfe - afinal, ela ainda precisa treinar para garantir presença em mais edições dos Jogos Olímpicos.
"Já tinha os anéis Olímpicos e escrevi Tóquio 2020, agora fiz Paris 2024,” disse Sequeira em conversa ao podcast em inglês do Olympics.com.
A imagem mais nova, ligada à capital francesa, ainda estava com uma proteção transparente.
“Deixei espaço para LA2028 e até para Brisbane 2032," completou.
A surfista assegurou mais uma cota na modalidade para Portugal durante os ISA Games 2024 de surfe, em março. Ela se junta à compatriota Teresa Bonvalot, que já havia garantido vaga Olímpica através do desempenho no Championship Tour (CT) da Liga Mundial de Surfe (sigla WSL, em inglês) de 2023.
ENTENDA | Como é o sistema de classificação Olímpico do surfe
Como os Comitês Olímpicos Nacionais (CONs) têm autoridade exclusiva sobre a representação de seus respectivos países nos Jogos Olímpicos, a participação dos atletas nos Jogos de Paris depende de seus CONs selecioná-los para representar sua delegação em Paris 2024.
Apesar da observação acima, ela já vislumbra além do torneio Olímpico no Taiti e pensa nas duas próximas edições dos Jogos, a serem realizadas nos Estados Unidos e na Austrália.
RELEMBRE | A obtenção da cota para Portugal por Yolanda Hopkins Sequeira
Assim como outros milhares de atletas, a portuguesa é apaixonada pelos Jogos Olímpicos. Porém, ela só foi sentir isso depois de participar do evento pela primeira vez.
“Quando me classifiquei para Tóquio, não sabia o motivo de tanta euforia, já que o surfe Olímpico nunca havia sido disputado,” comentou.
“Quando cheguei lá e estava na Vila, fizemos a Cerimônia de Abertura com todos os países vindo por baixo do estádio, foi aí que realmente me dei conta. Então, quando me classifiquei dessa vez, já tive essa sensação. Já sabia como me sentiria, por isso foi duas vezes mais forte emocionalmente e era um objetivo que queria alcançar desde que estive em Tóquio,” explicou a surfista.
Yolanda Sequeira: “Sou implacável na água”
Embora Yolanda Hopkins Sequeira passe grande parte do dia na praia, não espere encontrá-la tomando sol na areia.
Em primeiro lugar, ela não gosta de areia; prefere as pedras. Além disso, ficar simplesmente observando as ondas da costa não é algo que represente uma diversão para ela.
"Se formos à praia, tenho de poder surfar, ou senão vai ser chato para mim," comentou. E se ela estiver em cima da prancha, é melhor tomar cuidado:
“Sou bem implacável na água," afirmou a duas vezes campeã europeia. Sou muito competitiva, então isso costuma ser uma grande característica para mim, porque quando entro na água não importa quem você é. Você pode ser meu maior ídolo, mas quando entro na água não penso nisso. Só estou pensando que quero vencer.”
Sequeira afirma que esse lado competitivo foi herdado do pai, que é português. Por outro lado, sua mãe, nascida no País de Gales, encara a vida de forma mais descontraída.
“Tenho um lado bastante suave, que acho que vem da minha mãe”, disse Sequeira. “Mas meu pai era muito, muito competitivo. Acho que um dos meus maiores pontos fortes é o quão competitiva eu sou. Sou persistente. Não gosto de abrir mão de nenhuma chance. Pode ser no oceano, competindo ou até mesmo jogando futebol de brincadeira. Sou muito competitiva. Simplesmente não gosto de perder, vou até o limite extremo para vencer.”
O oceano é o principal campo de batalha da surfista de 25 anos. Diante de rivais de alto nível de todo o mundo - assim como a imprevisibilidade da natureza -, o caminho da portuguesa rumo às vitórias raramente é fácil.
Por conta disso, ela tenta começar de forma consistente, utilizando-se de um discurso interno repleto de confiança.
“Quando vou surfar, entro na água e acho que sou a melhor que existe. Ninguém vai me vencer se eu surfar”, disse Sequeira. “Tenho tendência a me colocar um pouco mais em um nível mais alto, como se estivesse em um pedestal. Outras pessoas podem não concordar comigo, mas é o que está na minha cabeça. Eu acho que sou a melhor. Vou vencer todo mundo e vim aqui para vencer”.
“Talvez seja um pouco de arrgância na água, mas acho que precisamos disso," comentou Yolanda Sequera ao Olympics.com.
No fundo do mar com Yolanda Sequeira
Diante de seu apetite insaciável por vitórias, não é nenhuma surpresa ouvir de Yolanda qual superpoder ela gostaria de ter.
"Ser caoaz de respirar debaixo d'água seria a melhor opção," destacou a surfista:
“Você simplesmente fica no oceano, não precisa nem se hidratar. Você simplesmente continua na água e, se afundar, não há problema. Você pode respirar debaixo d'água, está tudo bem.”
Mesmo sem esse superpoder, Sequeira faz da água o seu habitat natural. Quando está em casa, ela acorda todos os dias bem antes do amanhecer, treina na academia que montou onde mora e depois sai para três a quatro sessões diárias de surfe.
Na verdade, a vida da portuguesa gira tanto em torno do surfe que ela até descobriu alguns talentos inesperados, como a meteorologia. “Às vezes penso que sou uma meteorologista”, disse. “Tenho que verificar algumas vezes por dia se os ventos mudam, se o ângulo das ondas mudou e as marés. Na verdade, é muito legal ter isso em nosso conjunto de habilidades como surfista profissional. É realmente bom."
Do Atlântico ao Pacífico: o plano de Yolanda para Paris 2024
Uma previsão meteorológica à qual Sequeira estará atenta nos próximos meses é a de Teahupo'o, sede da próxima competição Olímpica de surfe.
Embora ainda não tenha surfado a famosa onda do Taiti, ela não se intimida graças aos treinos em casa, na costa de Portugal.
“Também temos muitos recifes e muitas ondas tubulares formadas por recifes”, disse a surfista, que também planeja ir para um período de treinamentos em Teahupo’o antes do início da competição, no dia 27 de julho.
“É claro que é uma onda bem mais intensa porque, se você assistir aos vídeos, você vê que a onda não tem volta. É todo o oceano nisso. Então, sei que vai ser bastante intenso, mas temos algumas situações assim em Portugal e é ótimo treinar aqui.”
Sequeira chegou às quartas de final em Tóquio 2020 antes de cair para a sul-africana Bianca Buitendag, que viria a ficar com a prata. Em quinto lugar, foi a surfista portuguesa melhor colocada nos Jogos.
E ela está sonhando ainda mais alto para Paris 2024.
“Não busco nada menos que a vitória”, disse Sequeira. “Não importa de onde venho – posso até não estar entre as favoritas –, quero a medalha de ouro. E só há um jeito de fazer isso. Quero ir para Teahupo'o e vencer.”