Ulan Galinski revela segredo para estar em Paris 2024: 'Parei de me preocupar com o ranking'

Por Mateus Nagime
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Ulan Galinski em competição ciclismo mountain bike
Foto por Divulgação Ulan Galinski

O ciclismo pode ser considerado o mais ‘coletivo’ dos esportes individuais. Além dos ciclistas competirem muitas vezes por equipes, usando táticas e estratégias como um time, a classificação para os Jogos Olímpicos no mountain bike também aconteceu em grande parte a partir de um ranking por nações. No ranking masculino, o Brasil ficou em nono e teve direito a uma vaga, que ficou para o ‘meio parisiense’ Ulan Galinski que fará em Paris 2024 sua estreia Olímpica.

É com esse espírito de equipe que Ulan Galinski chegou ao topo do ciclismo mountain bike no Brasil, seguindo os passos de seu mentor e amigo, além de atual chefe Henrique Avancini na Equipe Caloi Henrique Avancini Racing. Filho de pai francês e mãe baiana, Ulan já conhece bastante Paris, onde passava férias desde criança e agora embarca para uma experiência única, aos 26 anos.

Atualmente, ele vive sua melhor fase da carreira. Em 22 de junho, conquistou o 19º lugar numa prova short track de Copas do Mundo, melhor resultado de sua carreira. Em entrevista ao Olympics.com, ele falou sobre como parou de se preocupar com a pontuação e subiu no ranking, da infância no meio do mato no Vale do Capão e da expectativa para Paris 2024, sem esquecer de LA28.

Ulan Galinski precisou esquecer o ranking para subir nele

Até o fim do período, Ulan Galinski e Alex Malacarne, não só disputavam ponto a ponto para saber quem seria o melhor brasileiro no ranking, mas também tentavam acumular pontos para assegurar dois atletas brasileiros em Paris 2024. Um excelente resultado da Grã Bretanha no último torneio que valia pontos deixou o Brasil em nono e com apenas uma vaga. Que, enfim, foi para Ulan Galinski.

“Não me senti com folga ou favorito para conquistar a vaga em nenhum momento”, contou Ulan ao Olympics.com. Mesmo quando finalmente atingiu a liderança do ranking nacional ele continuava a dizer a si mesmo ‘calma Ulan, você está na frente mas precisa manter os pés no chão’. Ele credita este pensamento como fundamental para manter a liderança e obter a vaga.

O ranking das nações computou o ponto dos três melhores ciclistas de cada país entre 7 de maio de 2022 e 26 de maio de 2024. No entanto, a escolha pelos atletas fica a critério da Confederação Brasileira de Ciclismo, que considera critérios que não são apenas o ranking internacional, e em última instância do Comitê Olímpico Nacional (NOC).

“A gente colocou uma tabelinha aqui no nosso centro de treinamento para acompanhar. Em 2022 foi um ano um pouco negativo para mim e eu comecei um pouco atrás. Eu chegava, olhava aquele ranking, eu atrás… até que um dia eu cheguei, não tinha ranking nenhum e foi a melhor coisa que podia acontecer. Eu parei de me preocupar com a pontuação, olhei para dentro, nas coisas que eu poderia fazer para melhorar e consegui, pouco a pouco, dar a volta por cima”, revelou Ulan, que ainda deu uma dica para os demais atletas.

“Se o seu ciclo olímpico funcionar por pontuação, esqueça os pontos, esqueça a classificação, se concentre em você mesmo, busque evoluir, busque trabalhar as coisas que você pode controlar. E lá na reta final dos últimos meses, quando tiver na reta final, se preocupe com isso”, ecoando o que Mariana Pistoia, uma das esgrimistas brasileiras em Paris 2024, já falou também ao Olympics.com.

A vaga veio apenas na última prova. Ainda que os dois estivessem brigando entre si, Galinski considera Alex um amigo e enxerga um grande futuro profissional para ele.

“Foi muito legal disputar com ele. É um atleta jovem, um atleta que tem um caráter competitivo, honesto. E eu acho que isso é muito importante, e diria que hoje é o atleta mais resiliente do Brasil”, completou, mencionando as lesões que Alex sofreu em 2023. Ulan também destacou Gustavo Xavier e Cainã Oliveira como outros jovens promissores no ciclismo mountain bike masculino.

Henrique Avancini, ‘amigo, mentor e chefe’

Se agora, Ulan Galinski se posiciona como um dos melhores ciclistas do Brasil aos 26 anos, ele deve muito à revolução que Henrique Avancini causou no ciclismo mountain bike no Brasil. Há cinco anos ele corre pela Equipe Caloi Henrique Avancini Racing, criada por Avancini em Petrópolis. Ele considera Avancini, a quem considera um “amigo, mentor e chefe” como peça fundamental para o crescimento dele como atleta e em sua seleção para os Jogos Olímpicos.

Avancini contou para Ulan sobre sua aposentadoria após o título do Mundial de Cross-Country, em 2023. “Na hora eu não acreditei, apenas abracei ele e ali eu senti. Nesse abraço a gente ficou abraçado, agradeci ele por tudo. Eu senti que ele estava fazendo a escolha certa. É um momento que eu guardo com muito carinho dentro do meu coração e acredito que ele deixou um baita legado no coração dos jovens no Brasil”.

Ainda que Ulan e os demais ciclistas jovens sempre puderam contar com a ajuda de Avancini, agora que ele se aposentou, a presença do campeão mundial é muito mais presente nos treinamentos. “É um baita privilégio, porque ele, além de toda a parte teórica, ele viveu tudo isso na prática. Ele tem feedbacks muito assertivos, está sempre conversando com a gente pós e pré prova. Sem dúvidas, foi algo que facilitou no meu desenvolvimento”, completou Galinski.

Muito orgulho da infância no Vale do Capão

Natural do Vale do Capão, distrito de Palmeiras, na Chapada Diamantina, Ulan Galinski valoriza muito a infância que teve, e acredita que foi essencial para o seu sucesso como atleta e como ser humano.

“O Capão é um lugar muito especial. A infância que eu tive no interior, o contato com a natureza, os valores que eu carrego, vieram daquele lugar e foram muito essenciais em todo esse meu processo de desenvolvimento de maturação como ser humano”, contou destacando a “infância raiz” que teve. “Acho que o interior traz isso, da pessoa sempre estar ajudando o outro, escutando o próximo. São valores que eu trouxe comigo e foram essenciais”, acredita.

No interior, além do acesso à natureza, teve a oportunidade de praticar várias modalidades esportivas. Foi em meio às montanhas, trilhas e cachoeiras que frequentava com os amigos que a bicicleta fazia parte do dia-a-dia, como meio de transporte.

Mas o ciclismo como esporte demorou para chegar na vida de Ulan. Primeiro ele se viu no futebol, ele chegou a passar em teste no time de futebol do Bahia. Depois, migrou para o jiu jitsu, onde participou de competições. Finalmente, o ciclismo apareceu em 2014 e foi uma paixão à primeira vista. Com tantas habilidades, aos 16 anos, um professor de educação física o chamou e disse que precisava escolher apenas uma. E essa escolha o levou para ter uma experiência única em Paris.

Meio-parisiense, Ulan Galinski vai de encontro à família em Paris

Se para muitos atletas, será a primeira vez que eles estarão em Paris, Ulan Galinski já conhece muito bem a cidade-sede dos Jogos Olímpicos. Ele é filho de uma mãe baiana e um pai parisiense, que chegou em 1998 na Bahia, ano em que ele nasceu. Ele mantém uma relação próxima com os familiares na França, onde passava férias. Foi durante uma das viagens a Paris que sua vontade de disputar os Jogos se intensificou.

“Eu acredito muito no destino. Quando saiu a confirmação que Paris seria o palco dos Jogos Olímpicos em 2024 (em 2017) eu recebi como se fosse um chamado, eu senti algo especial”, disse Galinski, ressaltando ainda que a vontade de competir na frente dos familiares o ajudou na luta pela vaga.

“Em 2019 estávamos em Paris para um aniversário de 90 da minha avó e os familiares perguntaram se eu achava que estaria em Paris. Na época, eu não era nem um dos oito melhores atletas do Brasil. Mas eu falei que iria estar e, sem dúvidas, foi um combustível a mais” contou.

Com consciência da responsabilidade e da experiência única que são os Jogos Olímpicos, Ulan busca de surpreender e brigar por medalha, mas quer, principalmente, “aproveitar ao máximo o espírito Olímpico”. “Eu vejo muitos atletas que ficam totalmente presos à performance e resultado e acaba que passa as Olimpíadas e você não aproveitou nada”, declarou o ‘capãozeiro-parisiense’.