Lisa Carrington (NZL) tem uma simples dica para o ano novo: manter o alto astral e aproveitar cada momento.
Depois do 2024 que ela teve, não é de se surpreender que se divertir seja uma prioridade fundamental para a neozelandesa recordista na canoagem velocidade.
Carrington foi ao topo do pódio em três ocasiões nos Jogos Olímpicos Paris 2024, somando-se às cinco medalhas de ouro que ganhou em edições anteriores dos Jogos — uma em Londres 2012 e na Rio 2016, e três em Tóquio 2020.
“Meu ano de 2024 em apenas uma frase seria pressão extrema e felicidade extrema”, resumiu Carrington com um sorriso.
Pressão extrema é um sentimento que Carrington conhece muito bem. Apelidada de “a maior de todos os tempos no barco”, ela se tornou a atleta Olímpica mais premiada da Nova Zelândia ao ganhar sua terceira medalha de ouro em Tóquio 2020, no evento feminino K1 500m. Embora as altas expectativas colocadas sobre ela não tenham sido fáceis de lidar na preparação para Paris 2024, Carrington descobriu ferramentas para ajudá-la a triunfar mesmo sob as condições mais intensas.
O Olympics.com conversou com a recordista sobre o que a ajudou a dominar a ansiedade, a maneira criativa que ela escolheu para passar adiante as lições aprendidas com o caiaque e o seu próximo objetivo.
Técnicas de Lisa Carrington para um ano Olímpico memorável
Uma prova no K1 dura cerca de 1min50s. Uma K2, 1min40s. Uma K4, 1min30s.
Esses momentos fugazes são o tempo que Lisa Carrington tem para transformar anos de treinamento em um resultado tangível, com cada segundo contando e aumentando a pressão para vencer. O mais intenso dessa pressão atingiu Carrington antes de Paris 2024, onde ela se viu encarregada de igualar a tríplice de ouro obtida em Tóquio 2020.
"Como tínhamos como objetivo e queríamos competir nos três eventos, ir muito bem e vencer, a expectativa era muito alta. Então, para mim, houve um ponto em que percebi que a pressão era grande e aumentou, se tornando desafiador perceber que talvez não seríamos capazes de vencer", disse Carrington. "Depois que descobri como me livrar da expectativa, comecei a aproveitar um pouco mais."
Em vez de focar nas expectativas colocadas sobre ela, Carrington escolheu se concentrar nas razões pelas quais começou a andar de caiaque em primeiro lugar.
Ela começou a praticar o esporte aos 17 anos para melhorar suas habilidades no esqui aquático, um esporte que seus irmãos também praticavam de maneira competitiva. No final de 2006, ela disputou pela primeira vez o campeonato nacional neozelandês de canoagem velocidade. Embora tenha feito progresso consistente nas temporadas seguintes, foi somente quando ganhou seu primeiro título mundial, em 2011, que ela percebeu que poderia transformar o caiaque da canoagem velocidade, em uma carreira.
"Comecei o esporte sem pensar que era algo mais do que o amor, em vez de fazê-lo para ganhar dinheiro", disse Carrington. "Nunca pensei que poderia ser uma atleta profissional. Não pensei que poderia ganhar a vida fazendo isso.
"Eu queria apenas ser uma atleta Olímpica", continuou. "(Ter) disputado quatro Jogos, oito medalhas de ouro, isso é algo que eu nunca sonhei."
Carrington levou essa atitude de gratidão para sua quarta presença Olímpica. Ela também desenvolveu vários hábitos para ajudar a diminuir o estresse antes de Paris 2024. Escrever um diário, meditar e visualizar estavam entre suas principais atividades, assim como passar mais tempo com o marido e a equipe para ganhar perspectiva sobre sua autoestima fora d’água.
Quando chegou o dia da competição, Carrington trabalhou essas técnicas de calma em sua rotina de prova.
“Ter ferramentas que me ajudem a me acalmar é muito importante", disse. “Antes de entrar nos portões, é preciso estar tranquila e — porque nossos barcos são muito instáveis — respirar fundo, apenas encaixar o seu peso, soltar os ombros e relaxar.
“Eu tenho um plano de prova, então eu o tiro, dou minha primeira remada e me certifico de que está realmente bom. E então eu conto as remadas até 15 duplas ou mesmo 15 somente. E a partir daí, apenas tento fazer o barco correr bem, deslizando e seguindo o plano."
Lisa Carrington: de atleta a autora de livros infantis
Com nove medalhas Olímpicas e 15 títulos mundiais, Carrington agora quer compartilhar o que aprendeu ao longo de sua jornada de quase duas décadas no caiaque com outras pessoas.
Ela lançou um livro infantil chamado “Lisa Carrington Chases a Champion” (“Lisa Carrington persegue um campeão”, em tradução) em 30 de setembro, pouco menos de dois meses após faturar tantos ouros em Paris 2024.
Ilustrado por Scott Pearson, o livro conta a história de uma Lisa com oito anos, de Whakatane, Nova Zelândia, que queria disputar uma grande competição de surfe, mas tinha medo de falhar. Palavras encorajadoras de seu treinador, da família e um canoísta campeão ajuda a jovem a ganhar confiança e superar seus medos, antes do dia da competição.
“É um livro lindo, baseado onde eu cresci, na minha cidade natal, tem meus pais, meu treinador e meu cachorro (como personagens)”, disse Carrington. “É ficção, mas é baseado em pessoas reais e no que aprendi ao longo do caminho.”
O livro também vem em uma edição na língua maori – um aceno às origens de Carrington. Além de ser a atleta Olímpica mais premiada da Nova Zelândia, ela tem a distinção de ser a primeira mulher Maori a ganhar uma medalha de ouro Olímpica.
“Eu sempre quis escrever um livro infantil”, disse. “Eu não estava pronta para escrever uma biografia e acho que no esporte, você tem tantas lições, que eu queria poder compartilhá-las com as crianças. Eu só quero poder dar a elas algum tipo de conselho ou apoio que realmente me ajudaria quando eu tinha a idade delas.”
A rumo das pás do remo de Lisa Carrington em 2025
Aos 35 anos, Carrington tem todos os títulos que um atleta poderia sonhar: campeã Olímpica, mundial, autora de livros, para citar apenas alguns.
Para a recordista neozelandesa, no entanto, a glória no esporte é uma busca sem fim. É por isso que ela ainda não tem certeza se Paris 2024 será o fim de sua jornada Olímpica.
“Sempre há mais, eu acho, no esporte. Ainda não decidi se vou continuar, mas acho que você não pode se limitar a pensar que uma medalha de ouro é a melhor coisa que você vai conseguir", refletiu. "A melhor coisa que você pode conseguir é viver a jornada e o que você aprende ao longo do caminho. E para mim, ter certeza de que aprendo, cresço e realmente amo a jornada de me apresentar e alcançar algo que antes você não acreditava que poderia conseguir, isso é realmente gratificante, então eu diria que há muito mais a ser alcançado.”
A oito vezes campeã Olímpica disse que só vai decidir se continua no esporte ao avaliar o quanto ela ainda gosta do processo e ao verificar se seus objetivos esportivos correspondem àquilo que quer realizar em um nível pessoal.
"É só descobrir se é certo para mim, se ainda posso atingir meus objetivos como pessoa, não apenas como atleta."
"Eu tenho meus objetivos e a minha visão em relação a tudo isso, o que me ajuda diariamente. Para mim, é sobre ser melhor, me tornar um ser humano melhor, me esforçar, ajudar os outros. Acho que quando você tem uma missão ou um objetivo como esse, fica muito fácil levantar todos os dias e usar o esporte como ferramenta."