Bicampeonato de Bia Ferreira nos Jogos Pan-Americanos 2023 é destaque em dia de mais três ouros e nove finais para o Brasil no boxe

Paris 2024

Pugilista baiana passou por colombiana na categoria 60kg, enquanto Caroline Almeida (50kg), Jucielen Romeu (57kg) e Bárbara Santos (66kg) também venceram; Prata para Tatiana Chagas (54kg), Keno Marley (92kg), Michael Trindade (51kg), Wanderley Pereira (80kg) e Abner Teixeira (acima de 92kg).

9 minPor DanIel Perissé e Virgílio Franceschi Neto
Beatriz Soares of Brazil celebrates her victory against Angie Valdes of Colombia in the gold medal bout during Santiago 2023 Pan American Games at Nunoa´s Olympic Training Center on October 27 in Santiago, Chile.
(Andres Pina / Santiago 2023 vía Photosport)

Bia Ferreira é bicampeã dos Jogos Pan-Americanos. A pugilista venceu nesta sexta-feira, 27 de outubro, a colombiana Angie Pana por 5 a 0 e faturou a categoria 60kg feminina do boxe.

Com 30 anos, a atleta natural de Salvador é a atual vice-campeã Olímpica na categoria 60kg.

Bia Ferreira começou se movimentando muito, assim como a colombiana, que ganhou confiança e procurou ser ofensiva. No final do round, a brasileira ganhou na opinião de três juízes.

No segundo round, a colombiana abriu a guarda, mas Bia estava contida. Não demorou muito para ela acertar Pana e abrir contagem. A rival se levantou, mas pouco depois foi derrubada novamente. A luta seguiu com Bia aplicando bons golpes que não levaram a Pana reagir. Vitória no segundo round, agora com consenso de todos.

No último e derradeiro assalto, Bia apenas administrou a vantagem e, antes do término do combate e em grande exibição, arrancou aplausos de todo o ginásio que reverenciou a - agora - bicampeã das Américas.

Com a medalha ao peito, ela analisou a luta para o Olympics.com: "O primeiro round foi estratégico, deixar ela um pouco confiante para se abrir mais, e também foi preciso ficar tranquila. No segundo e no terceiro eu sabia que eu ia dominar, que ela ia se expor mais e eu estava pronta para ter os contragolpes e atacar do jeito 'Bia' de ser. Ela se entregou antes da luta terminar. Ela viu que não conseguia fazer nada, e no boxe dizemos que 'eu consegui entrar na mente dela.' Foi proposital e ela não tinha o que fazer, se ela não procurasse, ela não teria chance de ganhar a luta."

Ao relembrar a caminhada da segunda conquista dos Jogos Pan-Americanos, Beatriz abriu um sorriso no rosto e mencionou a importância do seu estado de espírito: "A vitória é 50% mente, 50% corpo, e é preciso estar 100%. A gente precisa do corpo, mas o mental domina."

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Mais agressiva, Caroline Almeida festeja ouro

Logo na abertura da sessão vespertina de finais do boxe, Caroline Almeida voltou a colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio da categoria 50kg diante da americana Jennifer Lozano, vencendo a luta por pontos (5 a 0).

Natural de Recife, a pugilista de 31 anos se consolidou nos últimos anos como uma das principais atletas de peso leve do país. E hoje ela mostrou iniciativa desde o início, sem deixar a americana encaixar uma sequência de golpes - com isso, venceu o primeiro round.

Na etapa seguinte, a atual medalhista de prata nos Jogos Sul-Americanos 2022 e tetracampeã brasileira seguiu dominando as ações e abriu vantagem na marcação dos juízes.

Com o placar em mãos, coube a Caroline segurar o ímpeto da americana para também vencer o terceiro round e garantir o segundo ouro do Brasil no boxe dos Jogos Pan-Americanos.

Jucielen garante ouro e vantagem diante de colombianas

Na terceira final do dia entre Brasil e Colômbia, na categoria 57kg, Jucielen Romeu tratou de colocar as brasileiras em vantagem ao derrotar Valeria Mendoza por 5 a 0, por pontos.

A paulista de Rio Claro, que tinha sido medalhista de prata dos Jogos Pan-Americanos de 2019, em Lima, lutou com cautela e sem deixar a adversária crescer do início ao fim. O domínio fez com que ela ganhasse o primeiro e segundo rounds com a preferência de todos os juízes.

Jucielen, que ficou a uma vitória da medalha de bronze em Tóquio 2020, valeu-se de sua experiência para segurar a rival colombiana e vencer também o terceiro e último round, ganhando o terceiro ouro do dia para o Brasil - e o terceiro no feminino.

"Não caiu a ficha que fiquei campeã, subi [no ringue] decidida a vencer", falou Jucielen para o Olympics.com após o fim do combate. "Ela fez um torneio agressivo, mas acho que ela me respeitou muito e coloquei o meu ritmo."

Sobre a luta que valeu o ouro, comentou: "É a realização de um sonho, é a conquita que eu estava atrás, para mostrar que todo o meu esforço e sacrifício valeram a pena."

Ao ser perguntada para quem dedicaria a medalha, não hesitou: "Essa medalha vai para o meu pai, para ele a classificação, infelizmente ele não está 100% de saúde, mas tenho certeza de que para Paris ele estará."

Barbara Santos fecha para o boxe feminino com quarto ouro

O quarto ouro do Brasil - e o quarto no feminino - veio com Bárbara Santos, na categoria 66kg. Ela ganhou a última disputa do Pan entre mulheres ao vencer a americana Morelle McCane por 5 a 0, por pontos.

Bárbara e a americana foram agressivas desde o início, mas a brasileira se mostrou mais cautelosa na hora tentar desferir seus golpes. McCane era mais afobada na hora de avançar, o que abria brechas para a brasileira socar. No fim do round, a pugilista do Brasil levou a melhor, com 3 a 2 em número de juízes.

A situação seguiu igual no segundo round, com a brasileira levando ligeira vantagem. O tempo todo, ela tentou controlar as investidas da americana, e voltou a vencer.

McCane se desesperou no início do terceiro round e chegou a ser advertida pela arbitragem por conta de um empurrão. Mais inteira na luta e com mais preparo físico, foi neste assalto que Bárbara desfrutou do seu boxe, sem dar chances à americana, fazendo a arbitragem abrir a contagem por duas vezes.

No fim, melhor para a brasileira, que desde 2022 também participa – e vence – torneios nos 66kg, como o nacional deste ano, quando garantiu vaga em Santiago.

"Nunca tinha lutado contra a McCane, foi a luta da minha vida, difícil, mas consegui colocar o meu jogo e deu tudo certo", falou Bárbara ao Olympics.com. "Tive que ouvir mais o treinador, arrumei minha sequência de golpes, foi importante haver ouvido."

Tatiana Chagas não resiste à rapidez de colombiana na 54kg

Na primeira decisão do dia, Tatiana Chagas caiu diante da colombiana Yeni Arias, perdendo por pontos (3 a 2) e ficou com a prata nacategoria 54kg feminino.

A brasileira teve um bom início no ringue, mas no terceiro round a colombiana foi pra cima, estava muito rápida e acertou bons golpes.

Faltando um minuto para o fim da luta, a brasileira acabou indo para as cordas, encurralada pela adversária, e pouco pôde demonstrar para reagir. Com isso, os juízes acabaram favoráveis à colombiana.

Ao ser anunciada campeã Pan-Americana, ela ajoelhou ao chão e chorou muito. Em Lima 2019, havia sido bronze na categoria 57kg, e esse ano tinha sido ouro nos Jogos da América Central e do Caribe, em San Salvador.

Keno Marley é superado pelo cubano Julio Cesar la Cruz

Na última luta da primeira sessão, na categoria atpe 92kg (pesado), Keno Marley teve pela frente Julio Cesar la Cruz, bicampeão Olímpico, em reedição da final dos até 81kg de Lima 2019.

O primeiro round contou a favor do cubano, mas o brasileiro voltou bem para os últimos dois assaltos. No segundo, terminou em vantagem e foi bem no terceiro, mas não o suficiente para superar la Cruz, que com o título, tornou-se tetracampeão Pan-Americano.

"A luta foi dividida, né? Hoje foi um Keno Marley mais capacitado, mais confiante. Tenho que ajustar muitos detalhes e Paris está próxima", avaliou Keno. "Está começando hoje a era 'Keno Marley'", finalizou.

Prata de Wanderley Pereira fecha jornada

Na última luta de um dia histórico para o boxe do Brasil, Wanderley Pereira não foi páreo para o cubano Arlen López na final da categoria 80kg.

Com 22 anos e apelido de "Holyfield", uma das lendas do boxe, o baiano de Conceição de Almeida venceu os Jogos Sul-Americanos 2022 e é tricampeão brasileiro. Porém, não resistiu à maior experiência do rival no ringue de hoje.

López ganhou os dois primeiros rounds aproveitando-se das brechas dadas por Wanderley, que mal conseguiu responder à altura e gastou muito tempo estudando o adversário. Apesar do equilíbrío, o cubano mostrou-se mais decisivo, com pouca movimentação, porém mais eficiente nos golpes.

No terceiro round, Wanderley mudou sua postura e chegou a encaixar melhores sequências. Ele acabou vencendo a etapa com a preferência de três dos juízes, mas a vantagem construída por López - bicampeão Olímpico e agora tricampeão Pan-Americano - lhe valeu o título.

Após a luta, o brasileiro comentou ao Olympics.com: "Os detalhes, erro de movimentação, postura no ringue, fizeram a diferença no primeiro e no segundo round. Isso tudo conta, e preciso corrigir. Essa medalha me mostra que sou um dos melhores também."

Perguntado a quem dedica a conquista, Wanderley terminou: "Dedico a medalha para a minha família e meus amigos, a todos que acreditam em mim."

Abner Teixeira e Michael Trindade são poupados da final

Abner Teixeira, na categoria acima de 92kg, e Michael Trindade, na 51kg, foram poupados pela comissão médica da delegação brasileira por conta de lesões antigas e não vão subir no ringue para o combate final em suas categorias. Com isso, ambos ficam com a prata.

Michael, que enfrentaria o dominicano Yunior Alcantara Reyes, tem uma lesão no ligamento colateral ulnar do braço desde 2001. Ele sentiu dores durante a campanha no Pan, tendo lutado no sacrifício a semifinal, que rendeu a ele a obtenção de uma vaga a Paris 2024*.*

"O Michael Trindade teve uma lesão ligamentar no cotovelo no Mundial de 2021. Ele ficou um tempo afastado para tratar, mas logo voltou e estava bem. Aqui, na luta das quartas de final, sentiu de novo. Conseguimos controlar para que ele lutasse a semifinal. Ele ganhou a luta, mas com receio de que pudesse agravar a lesão, preferimos poupá-lo de hoje”, explicou Fábio Conrado, fisioterapeuta da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe).

Já Abner, que é medalhista Olímpico, está com uma lesão no ligamento cruzado anterior no joelho direito há dois meses. Ele optou por não operar, ou ficaria fora do evento na capital francesa porque não conseguiria voltar às lutas em tempo hábil.

“Ele teve uma entorse no tornozelo em uma base de treinamento que fizemos na Itália. Quando o Abner voltou para São Paulo, fizemos exames de imagem e foi constatada uma lesão no ligamento cruzado anterior. Essa é uma lesão que na maioria dos casos é cirúrgica, para corrigir um problema de instabilidade no joelho. Mas no caso do Abner, optamos não fazer a cirurgia por dois motivos: primeiro porque ele não teve essa instabilidade. E também porque o tempo de recuperação de sete a oito meses tornaria inviável para que participasse dos classificatórios olímpicos. Então optamos por fazer o tratamento conservador inicialmente e deu certo”, completou.

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