Nick Albiero: conheça a novidade da equipe brasileira de natação nos Jogos Olímpicos Paris 2024

Por Mateus Nagime
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Nicolas Albiero de natação Brasil
Foto por Sátiro Sodré CBDA

Nicolas Albiero foi a novidade da seleção brasileira na seletiva Olímpica de natação. Único atleta sem o índice de salvaguarda a alcançar o índice Olímpico estipulado pela Federação Internacional de Natação no evento, ele também se prepara para disputar sua primeira competição internacional pelo Brasil. E Nick Albiero já chega com grande estilo em Paris 2024: é o primeiro atleta homem abertamente gay da natação brasileira a disputar os Jogos Olímpicos.

Nicolas Albiero e o pai, Arthur Albiero, comemoram vitória de Nick na Seletiva Olímpica (Sátiro Sodre/CBDA)

Nicolas Albiero nasceu em 8 de junho de 1999, nos Estados Unidos. Sua família é intimamente ligada ao esporte, já que os pais Arthur Albiero e Amy Comerford tiveram uma carreira de sucesso na natação, acumulando vários títulos no circuito universitário dos EUA.

Sua irmã mais nova, Gabi Albiero, também é atleta. Atualmente com 22 anos, ela foi medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos Santiago 2023, na prova dos 50m livre, e ficou com a prata nos 4x100m livre. Já o irmão mais velho, Estefan Albiero, apesar de não ter tido uma carreira internacional, também nadou no circuito universitário dos EUA.

Ele escolheu representar a Universidade de Louisville, onde seria treinado pelo pai. “Eu pude assistir ele e ver o que ele fez com o programa de natação. Ele transformou a equipe em uma das melhores dos Estados Unidos do zero. Então, era algo que eu queria muito fazer parte e portanto me dediquei ao máximo no ensino médio para melhorar o que era necessário”, contou ao site da NCAA (National Collegiate Athletic Association ou Associação Atlética Universitária Nacional).

Nick Albiero fez sucesso no circuito universitário, ganhando importantes títulos em 2021 e 2022. E foi aí que começou a se preparar para dar um importante pulo na carreira profissional: os Jogos Olímpicos Paris 2024. Mas, antes, ele precisava dar um passo até mais importante fora das piscinas.

Nick Albiero fez história ao falar publicamente sobre sexualidade

Durante os seus anos de Universidade de Louisville, ele teve seu primeiro relacionamento amoroso e começou a pensar em como as pessoas ‘descobririam’ sua sexualidade. Então, ele percebeu que teria que se assumir para que tivesse um controle sobre o tópico.

Em 2021, ele falou sobre o assunto pela primeira vez para sua família e os amigos mais próximos. “Todo mundo que eu conhecia e se importava comigo, me apoiou e amou, me deixando livre para dizer ‘esse sou eu, aceitem ou não’”, contou.

Em junho de 2022, a vida de Nick Albiero mudou, a princípio fora das piscinas, mas com um impacto decisivo e direto em sua carreira. Em um post no instagram ele falou abertamente sobre sua sexualidade, postando “(Nick Albiero) is out and about, happy pride”, uma expressão em inglês que significa algo similar a “fora do armário e com orgulho”.

Na época, ele ainda defendia os EUA em competições internacionais. Ele disse ao site do Team USA que, ao frequentar pela primeira vez uma Parada do Orgulho LGBTQ+, chegou a fazer um texto “profundo e muito longo” para postar nas redes sociais, mas desistiu. Apagou tudo e foi direto ao ponto. Após postar, ele saiu do telefone e correu para tomar uma ducha e “acalmar meus nervos”. “Estava muito nervoso para abrir meu telefone de novo”, disse o nadador, mas quando finalmente o fez, se deparou com “comentários muito legais e mensagens de vários técnicos e nadadores”.

Ele contou ao site do NCAA que “eu acho que decidi me assumir justamente por isso… eu senti que tinha uma falta de representação (LGBTQ+) no esporte, especialmente entre os homens. Pensei… se eu posso ajudar pelo menos uma pessoa, eu farei isso por eles, porque eu sei o quão difícil foi”.

Impacto na piscina

Uma das inspirações de Albiero foi Erica Sullivan. Ela é considerada a primeira atleta abertamente LGBTQ+ a integrar a equipe de natação dos EUA em uma edição de Jogos Olímpicos. E não só isso, ela venceu a medalha de prata em Tóquio 2020. Assim, “ela quebrou o estigma de que quando você se assume, você não tem mais uma boa performance na piscina”, disse ao Team USA em 2023.

E ele sentiu o mesmo impacto em suas performances. “Eu sentia menos pressão, porque eu sei que toda uma comunidade me apoia independentemente do desempenho. Agora, além de representar uma equipe ou um país, eu represento uma comunidade. E tenho mais pessoas me apoiando do que nunca antes”.

Em julho de 2023, ele decidiu se mudar para o Brasil, mais especificamente para Belo Horizonte. Fazendo parte do Minas Tênis Clube, ele começou o processo de naturalização para defender o Brasil em competições internacionais. Em um comunicado de imprensa, ele comentou que "me filiar à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) me permite abraçar uma herança familiar e homenegar as raízes do meu pai". "Sempre tive um sentimento de pertencimento ao Brasil, ao visitar regularmente e aprender sobre a cultura. Essa decisão diz muito sobre quem eu sou no fundo do meu ser". Ele começou a defender o Minas antes mesmo do anúncio, como atleta convidado, no Troféu Brasil 2023.

O ano no Brasil não foi fácil para Nick Albiero e, ele sempre muito aberto, não fez questão de esconder as dificuldades em entrevistas durante a Seletiva Olímpica Brasileira de natação. Como a naturalização ainda não havia sido completada antes, o torneio era a única chance do atleta para realizar seu sonho de defender o Brasil nos Jogos Olímpicos Paris 2024.

Nas eliminatórias, ele já chegou muito perto do índice Olímpico, de 1min56s19. Mas ele sabia que precisava fazer a marca apenas na final. E conseguiu. Vencendo a prova dos 200m borboleta com 1min55s52, ele nadou abaixo do índice estabelecido e comemorou muito.

Muito emocionado, ele sabia que apesar de ter dado um passo muito importante em sua carreira, ainda é o início de uma longa caminhada. "Não tenho palavras, estou muito empolgado. Preciso corrigir meus erros antes de Paris", comentou Nicolas logo após a prova para o Canal Olímpico do Brasil.