Medalhista paralímpico como guia, Gabriel Garcia compõe revezamento brasileiro no Mundial

Por Virgilio Franceschi Neto
6 min|
Jerusa Geber e seu guia Gabriel Garcia durante os Jogos Paralímpicos Tóquio 2020.
Foto por Tasos Katopodis

Aos 24 anos, ele participa pela primeira vez em Mundiais de Atletismo, depois de ter conquistado vaga durante o Troféu Brasil, realizado no mês de junho. Dedicou a carreira para ser guia paralímpico, e agora é o reserva do time brasileiro do revezamento que compete a partir desta sexta-feira, dia 22.

O Brasil possui uma grande história nas provas de revezamento do atletismo. Nelas o país conquistou quatro medalhas Olímpicas, uma em Atlanta 1996, outra em Sydney 2000 e duas em Beijing 2008. Mais recentemente, um time brasileiro composto por Rodrigo do Nascimento, Derick Silva, Paulo André Camilo e Jorge Vides, foi ouro na prova dos 4x100m do Campeonato Mundial de Revezamento 2019, realizado em Yokohama (Japão).

No Campeonato Mundial de Atletismo 2022, o Brasil terá experiência e talento à disposição no revezamento 4x100. Será representado por Rodrigo do Nascimento, Erik Cardoso, Felipe Bardi e Derick Souza, que garantiram suas vagas no último Troféu Brasil de Atletismo, realizado em junho, no Rio de Janeiro. Assim como o reserva dessa equipe, o paulista Gabriel Garcia, que estreia em Mundiais.

Para tudo há uma primeira vez, podem dizer sobre o primeiro Mundial de qualquer atleta. No entanto, o de Garcia chama a atenção por haver dedicado quase toda a sua carreira como guia paralímpico.

Quase toda.

Foto por Wagner Carmo/CBAt

Guia paralímpico e velocista

Presidente Prudente, no extremo oeste de São Paulo, é uma cidade referência no atletismo do Brasil. Terra de velocistas, formou medalhistas Olímpicos como o quarteto que foi prata nos Jogos de Sydney.

Gabriel Garcia lá nasceu e foi criado. Teve contato com o atletismo e conheceu a também prudentina Jerusa Geber, atleta paralímpica. Especializou-se como guia e, ao lado da conterrânea, foram medalhistas de bronze nos 200m da classe T11 dos Jogos Paralímpicos Tóquio 2020.

"Minha carreira foi limitada por eu não ter treinado bastante para o convencional. As competições paralímpicas batiam muito com as convencionais", disse Garcia para o blog Olhar Olímpico, do UOL. Entretanto ele sempre manteve a vontade de voltar a correr e deixava isso claro para Jerusa e seu marido, Luiz Henrique da Silva.

O casal passou a incentivá-lo. "Ela (Jerusa) falou: 'você faz seu treino, eu faço o meu, e quando tiver competição você vai comigo'", disse Garcia ao Olhar Olímpico.

Em março de 2022 participou de competição em São Paulo e fez 10s43 nos 100m. Obteve, com isso, índice para o Troféu Brasil, realizado em junho, no Rio de Janeiro. Ainda teve tempo para recuperar-se de lesão para competir no Rio, em viagem paga do bolso do seu próprio treinador.

Sem grandes pretensões, Garcia avançou para uma final em que os cinco primeiros garantiriam vaga no Mundial de Atletismo. Dito e feito. Conseguiu um quinto lugar com 10s30. Os primeiros quatro serão os seus colegas do revezamento em Eugene.

Ocupará a vaga deixada por Paulo André Camilo, o "PA", campeão Mundial em Yokohama e pentacampeão dos 100m rasos no Troféu Brasil de Atletismo. A participação no programa de TV "Big Brother Brasil" (BBB) de 2022 comprometeu seu treinamento e, por isso, optou por ficar de fora do torneio.

RELEMBRE: Após conquistar o Brasil, Paulo André Camilo quer aproveitar fama, sem deixar o atletismo

Foto por CHRISTOPHER JUE

Momentos de tristeza, superação e alegrias

Há quatro anos, enquanto conciliava a carreira de guia paralímpico com a de atleta de competições convencionais, Gabriel Garcia foi atleta do português Sport Lisboa e Benfica e recebeu uma proposta para naturalizar-se e competir por Portugal. No entanto, uma lesão afastou essa possibilidade e voltou a ser guia de Jerusa.

Durante final dos 100m dos Jogos Paralímpicos em Tóquio, juntos superaram o drama do rompimento da corda que une a atleta ao guia. Algo extremamente raro de acontecer, em triste episódio para a carreira de ambos. Se recompuseram e voltaram para a disputa dos 200m, em que foram medalhistas de bronze.

Situações na vida de Garcia que prepararam-no para uma - inesperada - temporada 2022 marcada por grandes novidades. Voltou às provas convencionais e terá a chance de ser parte da delegação do Brasil no Mundial.

“É uma sensação muito boa de estar representando o país. Acho que o Brasil está com um time muito bom. Não só eu, mas todos os atletas estão com uma expectativa grande. É um apoiando e ajudando o outro, acreditando vai dar tudo certo", disse Gabriel Garcia para o site da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). "Comecei lá (em Presidente Prudente)...me inspiro em todos os quartetos do revezamento, nas palestras dos atletas, até hoje aprendo com os atletas do passado que passaram por lá também”, completou.

O time do Brasil no revezamento masculino 4x100m

Rodrigo do Nascimento, Erik Cardoso, Felipe Bardi, Derick Souza e Gabriel Garcia, como quinto atleta, compõem a equipe brasileira no revezamento 4x100m do Campeonato Mundial de Atletismo 2022.

O catarinense Rodrigo do Nascimento, 27 anos, é o mais experiente do time e será o primeiro brasileiro a entrar na pista para os 4x100m, em Eugene. Campeão Mundial em Yokohama, em 2019, e participante da Tóquio 2020, ele comentou para o site da CBAt. “Vejo o elenco do revezamento muito bem...vejo uma possibilidade de avançar para a final, mas sabemos que é uma competição difícil e que temos de executar tudo o melhor possível para que isso aconteça.”

Com 22 anos, Erik Cardoso, tem a segunda melhor marca sul-americana de todos os tempos, com 10s01 - atrás somente dos 10s00 de Robson Caetano. Assim como Gabriel Garcia, estará em seu primeiro Mundial e mostra-se otimista: “A expectativa é a melhor possível. É colocar Deus e Maria à frente porque a gente trabalhou muito para este Mundial. O objetivo é melhorar o meu resultado pessoal, somar e poder servir no revezamento 4x100 m que tem chance real de fazer um bom resultado”, disse Cardoso para o site da CBAt.

O carioca Derick Souza, estava no time campeão Mundial em Yokohama. “É um grupo novo, o mais velho, o Rodrigo, tem 27 anos. Depois do Troféu Brasil a gente conversou, esse é um dos revezamentos fortes dos que a gente já teve e a expectativa está bem alta para o Mundial. O Camping realizado em Bragança Paulista foi muito bom, fez nossa confiança aumentar. Ajeitamos todas as passagens e a expectativa está lá em cima”, comentou Souza para o site da CBAt.

O Brasil estreia nas eliminatórias dos 4x100m, nesta sexta-feira, dia 22 de julho, a partir das 22:05 (hora de Brasília).

A final do revezamento masculino 4x100m está agendada para as 23:50 (hora de Brasília) do sábado, dia 23 de julho.

O Campeonato Mundial de Atletismo 2022 tem a transmissão para o território brasileiro através dos canais Sportv.

Foto por 2021 Getty Images