Medalhas Olímpicas de Portugal: Rosa Mota, a primeira portuguesa campeã Olímpica
Sinônimo de dedicação e excelência, obteve a glória máxima em Seul 1988, quando venceu a maratona. Foi a primeira portuguesa a subir no topo do pódio Olímpico. No Dia de Portugal, continuamos com a série de medalhistas lusos em Jogos. É a vez de Rosa Mota.
Luís da Camões eternizou em versos as conquistas de Portugal, que fez do 10 de junho o seu dia. Uma homenagem ao ilustre poeta que faleceu nesta data, em 1580.
Mais de quatro séculos depois, uma portuguesa escrevia ao longo de 42.195m uma história que também ficou para sempre. Foi a primeira mulher do país a conquistar uma medalha Olímpica, com a de bronze na maratona dos Jogos Los Angeles 1984.
O capítulo de ouro de suas páginas Olímpicas aconteceu na mesma prova, em Seul 1988. Tal como o pioneirismo na Califórnia, também foi a primeira portuguesa a ir ao topo do pódio.
Até 1992, das 20 maratonas que havia disputado, vencera 14.
Na continuação da série com os atletas portugueses que conquistaram medalhas em Jogos, o segundo capítulo é daquela que abriu caminhos para jamais ser esquecida: Rosa Mota.
O começo
Nascida na cidade do Porto, disputou a primeira competição em 1972, a fim de acompanhar os amigos da escola. Era uma prova regional de corta-mato (cross-country). Na primeira participação, a vitória. Depois disso vieram os torneios distritais, os nacionais e consecutivos triunfos. Abriam-se as portas do atletismo para ela.
No início dos anos 80, com pouco mais de 20 anos de idade, a asma quase tirou Mota do esporte. Precisou repensar a carreira. Foi nessa altura que conheceu José Pedrosa, médico que passou a ser seu treinador e a fez também repensar em quais distâncias se concentrar.
Hexacampeã no Brasil
Dedicada aos grandes percursos, em 1981 foi para a América do Sul fazer parte da tradicional corrida de São Silvestre, disputada desde os anos 20 do século passado, nas ruas da cidade de São Paulo - naquele ano o trajeto teve 12,64km.
"Minha primeira grande vitória foi a São Silvestre, de São Paulo (Brasil)," disse para jovens do projeto 'Desportistas no Palácio de Belém'. Venceu em seis ocasiões consecutivas, de 1981 a 1986. Um recorde de títulos na prova feminina, ainda não superado. "Tenho grandes saudades, são momentos que ficaram no coração nem pelas vitórias, mas pelo carinho que recebi", completou.
Carinho.
A "Menina da Foz", como é conhecida, sempre deixou claro que corria para vencer, mas sempre com amor ao esporte e à corrida. Ao programa 'Carlos Cruz quarta-feira' da RTP (Rádio e Televisão de Portugal) de 1992, declarou: "É preciso gosto pelo que se faz, dedicação e esforço...corria para ganhar, mas não para fazer recordes."
A conquista do mundo
Incentivada pelo treinador Proença, Mota foi inscrita na maratona feminina do Campeonato Europeu de Atletismo, realizada em Atenas, na Grécia, em 1982. A prova teve a chegada no estádio 'Panathinaiko', cenário dos primeiros Jogos Olímpicos, em 1896. Pela primeira vez a maratona feminina foi disputada de maneira oficial, em um torneio continental.
Simbólico, sem dúvida. Era um prenúncio.
Mota queria simplesmente participar e fazer parte deste histórico momento para as mulheres, porque a prova sequer era permitida em território português. Correu e mais do que isso, venceu.
"Em 1982, quando venci a maratona nos campeonatos europeus, eu descobri a minha prova ideal...tenho resistência, mas não tenho muita velocidade. Quanto maior a distância, mais confortável me sentia", disse Mota à RTP, em entrevista de 1992, quando perguntada em que momento percebeu que queria fazer da corrida o seu meio de vida.
A primeira medalha Olímpica deu-se dois anos depois, com o bronze na maratona feminina de Los Angeles 1984. A primeira medalha conquistada por uma portuguesa em Jogos. Na mesma entrevista, falou sobre o feito: "Acabar uma prova nos Jogos Olímpicos é bom...ter uma medalha é excelente!"
O prenúncio de anos antes ficou ainda mais evidente em Seul 1988. Mota venceu a maratona para tornar-se a "Rosa de ouro". A partir do quilômetro 38, viu o seu treinador por perto, que orientou-lhe ser o momento de elevar o ritmo e arrancar para a vitória.
Abriu todo um caminho para mais conquistas Olímpicas que vieram para as portuguesas nos Jogos seguintes.
Sobre aquela maratona em Seul, comentou para a RTP após a cerimônia de premiação: "Senti-me sempre bem...toda medalha para Portugal é saborosa, quando se ouve o hino...uma medalha para Portugal, uma medalha para todos nós".