Filosofia do judô impulsiona Alana Maldonado nos Jogos Paralímpicos Paris 2024
No judô não importa quantas vezes o atleta é derrubado em um treinamento; ele sempre precisa se reerguer e buscar o próximo golpe. Para Alana Maldonado, é também a metáfora de sua vida. Após romper o ligamento do joelho e ficar sem competir em 2023, ela disputa o judô nos Jogos Paralímpicos Paris 2024 para alcançar mais um feito em sua carreira.
Bicampeã mundial em 2018 e 2022 e primeira brasileira campeã Paralímpica na modalidade em Tóquio 2020, ela almeja o bicampeonato na capital francesa. Algo que nem a queda no ranking mundial por conta do período afastada por lesão a fez desanimar. Pelo contrário, a motivação é ainda maior.
“Eu falo que o desejo de ser bicampeã Paralímpica é maior do que quando fui campeã em Tóquio. É como se eu não tivesse essa medalha ainda, sabe? Como se ainda faltasse essa medalha para mim”, confidenciou ao Olympics.com
A lesão no ligamento do joelho direito aconteceu em março de 2023, logo no início da temporada. Alana Maldonado ficou 11 meses longe de competições e de concentrações com a seleção brasileira de judô Paralímpico. Neste período, oito meses sem qualquer atividade dentro do tatame.
Uma situação que “testa a paciência e o foco”, como ela mesma comenta, mas que não chega a ser novidade. Desde muito nova precisou superar adversidades – e o judô se mostrou um grande apoio em todos estes momentos.
“A gente cai mil vezes durante um treino, mas tem que levantar e jogar o adversário, e aí você cai de novo e joga de novo. É isso que eu levo para a vida. Essa filosofia do judô que nem tudo é perfeito, nem tudo é 100%, mas que a gente precisa ter força para levantar e continuar a superar”.
Ela colocará isso à prova a partir desta quinta-feira, 5 de setembro, com a estreia do judô nos Jogos Paralímpicos Paris 2024. Presente na categoria até 70kg da classe J2, Alana Maldonado deve competir na sexta, dia 6, com a fase preliminar a partir das 5h no fuso horário de Brasília e o bloco final de competição às 11h.
RELEMBRE | O ouro Paralímpico de Alana Maldonado em Tóquio 2020
Alana Maldonado queria jogar futsal, mas doença de Stargadt a recolocou no judô
O judô está na vida de Alana Maldonado desde os quatro anos. Ela ficava com a avó durante o dia, que trabalhava em uma academia da modalidade em Tupã. Rapidamente começou a ter aulas e dar seus primeiros golpes. Foi também goleira de handebol, mas queria mesmo ser atleta profissional de futsal.
Aos 14 anos, deixou o judô de lado, passou em um teste no Kindermann e foi morar com o pai em Caçador, Santa Catarina. Pouco tempo depois, contudo, começou a ter dificuldade para enxergar a lousa na sala de aula. A ponto de, mesmo sendo uma das mais altas da turma, sentar na primeira carteira e ainda assim não conseguir ver o que estava escrito.
Levada a um oftalmologista, veio o diagnóstico: doença de Stargadt, uma patologia rara que leva à perda progressiva da visão (hoje ela tem cerca de 10% da visão nos dois olhos). “Parei com tudo, fiquei um ano sem esporte, só tentando entender o que estava acontecendo comigo e como seria a Alana dali em diante”.
Retornou com a família para Tupã e buscou um recomeço também no judô. “Foi muito importante nesta retomada para eu descobrir o meu mundo adaptado. Quando eu voltei, eu falei: ‘é isso que eu quero, quero ser atleta profissional de judô”.
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Judô Paralímpico entra na vida de Alana Maldonado já adulta
Porém, não foi um recomeço fácil. Treinando e competindo na categoria convencional, Alana Maldonado chegou a conquistar alguns resultados, mas nada expressivo em nível nacional. Assim, quando chegou à vida adulta, resolveu interromper mais uma vez o sonho para fazer uma graduação de Educação Física em Marília - e lá ela voltou a se reerguer.
Conheceu a Associação Mariliense de Esportes Inclusivos (AMEI), que por sua vez a apresentou ao Judô Paralímpico. Em novembro de 2014 participou de sua primeira competição e em janeiro de 2015 foi convocada para um período de treinos com a seleção - e um ano depois conquistava a prata Paralímpica na edição do Rio 2016.
“Foi tudo muito rápido. Eu fui para conhecer e saí campeã. Fiquei feliz que ganharia uma Bolsa Atleta, que iria me ajudar muito na época, mas não sabia que ia entrar na seleção. Foi uma mudança muito rápida que nem tive muito tempo de pensar”, brinca.
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Alana Maldonado quer construir seu próprio legado no judô Paralímpico
Quando se fala em judô Paralímpico no Brasil, é inegável a influência de Antônio Tenório, dono de seis medalhas Paralímpicas, sendo quatro consecutivas de ouro entre Atlanta 1996 e Beijing 2008. Até Tóquio 2020, ele era o único atleta do país campeão Paralímpico na modalidade – quando Alana também subiu ao lugar mais alto do pódio.
“Fico muito feliz. Eu falo que meu objetivo é deixar meu nome marcado na história do judô. Quando eu parar e estiver lá velhinha, quero que as pessoas lembrem que fui a primeira campeã mundial no judô, a primeira mulher campeã paralímpica. E fico feliz de inspirar essa nova geração que hoje já está aí”, afirmou.
Com 29 anos completados no fim de julho, a atleta sabe que ainda tem alguns anos de carreira pela frente. Pretende, pelo menos, chegar até aos Jogos Paralímpicos LA 2028 – quatro anos mais do que suficientes para aumentar ainda mais a sua lista de conquistas e construir seu próprio legado na modalidade.
“Enquanto eu estiver participando, eu quero conquistar minhas medalhas e deixar meu nome marcado, assim como ele [Tenório] deixou o dele”, comentou. “Meu papel comigo mesma é mostrar a força que nós mulheres temos e que podemos chegar em grandes lugares, quebrar grandes barreiras e conquistar o mundo”.