Hugo Calderano: 'Posso ser melhor que os chineses'

O mesa-tenista brasileiro, atual número 5 do mundo, revela seus esforços para tentar desafiar a dominância chinesa no esporte e por que nunca houve uma geração tão boa de atletas de outros países como a atual.

6 minPor ZK Goh | 28 de setembro de 2022
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(2021 Getty Images)

Hugo Calderano sabe como ninguém o quão difícil é desafiar o domínio chinês no tênis de mesa, mas o atleta brasileiro está disposto a encarar o desafio.

Em entrevista ao Olympics.com, Calderano, de 26 anos, diz que os outros mesa-tenistas que tentaram derrotar os chineses talvez tiveram uma abordagem não muito eficiente. Afinal, desde 1995, apenas dois atletas de outros países ganharam o Mundial em simples, e a República Popular da China só deixou de ser campeã no Mundial de equipes uma vez.

Na disputa do Mundial por Equipes de 2022, em Chengdu, de 30 de setembro a 9 de outubro, Calderano acredita que a geração mais nova está buscando o topo do ranking, com mais confiança do que antes.

“A dominação chinesa é enorme há muitos anos”, reconhece o brasileiro. “O mais importante é acreditarmos que podemos vencê-los, ser melhor que eles e competir contra eles. Acho que nem todos acreditam que é possível, então nem todos fazem tudo que podem para ter sucesso. Talvez eles só queiram chegar ao topo, mas estão satisfeitos em ficar atrás dos chineses.”

“Eu sempre acreditei que poderia fazer isso, que eu poderia ser número 1. Que poderia ser melhor que os chineses. É por isso que eu acordo todos os dias e treino duro. Tenho esse objetivo na minha mente de ganhar medalhas nos eventos grandes – nos Jogos Olímpicos, nos Mundiais.”

Confira a entrevista com Calderano, que neste ano passou a jogar na liga japonesa, a T-League.

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Hugo Calderano sobre nova geração: 'Eles trazem algo novo'

Nos anos recentes, além dos jogadores chineses, a Alemanha costumava contar com os veteranos Timo Boll e o medalhista Olímpico de bronze Dimitrij Ovtcharov no top 10 do ranking (Ovtcharov atualmente é número 10).

Agora, Calderano divide o top 10 com o japonês Harimoto Tomokazu, de 19 anos, número 4 do mundo, com o sueco Truls Möregårdh, 20, da Suécia (sexto), e com Lin Yun-ju, 17, da Taipé Chinesa (sétimo).

Essa chegada de novos jogadores de todos os cantos do mundo deixa Calderano animado a respeito do futuro do esporte, com os chineses tendo cada vez mais adversários.

“Há alguns jogadores bons e talentosos que trabalharam duro e acreditam que é possível e treinam para isso”, diz o brasileiro. “O que faz esses jogadores serem diferentes é que eles têm um estilo único e trazem algo novo para o jogo – seja criatividade ou tentar jogar mais rápido ou com mais spin.”

“No meu caso, eu jogo com muita potência dos dois lados, direita e esquerda, e também tento inovar trazendo coisas novas para o tênis de mesa. Esse é o caso do Truls também.”

“O Harimoto é diferente. Ele joga muito rápido, perto da mesa, e o Lin Yun-ju é muito forte no jogo de saque e devolução. Acho que temos que tentar coisas novas, com as quais os chineses não ficam tão confortáveis.”

Hugo Calderano: 'Represento um continente'

Calderano entrou no top 10 pela primeira vez em julho de 2018 e não saiu da elite do esporte. Em setembro do ano passado, ele estreou no top 5, o primeiro jogador das Américas a fazê-lo, antes de ser o primeiro da América do Sul a ganhar um evento grande, o WTT Star Contender de Doha de 2021.

O carioca diz que entende a expectativa que não só o seu país, mas toda a América Latina, têm sobre seu desempenho, mas ele tenta não prestar muita atenção a isso.

“Eu sinto de fato que represento todo um continente”, comentou. “Mas tudo começa comigo. Eu sempre digo que jogo por mim mesmo. Se eu jogo por mim mesmo, consigo evitar pressão extra. Ninguém mais vai colocar peso nos meus ombros e eu tento ver o lado positivo disso.”

“Sei de muita gente que me apoia no Brasil, então tento absorver essa energia positiva. O tênis de mesa não é um esporte muito grande no Brasil, mas acho que está crescendo. Mais pessoas estão seguindo e checando os resultados. Eu faço o meu melhor, espero que as pessoas curtam os meus jogos, acompanhem meu progresso e fiquem junto a mim.”

Calderano lidera uma forte equipe no Mundial, com Vitor Ishiy e Eric Jouti. O carioca acredita que o Brasil pode ter uma boa campanha.

“Falamos sobre a dominância chinesa, mas acho que o Brasil está se aproximando das melhores equipes do mundo no tênis de mesa. Espero que possamos continuar entre os melhores.”

Um legado que Calderano construiu, mas que começou com Hugo Hoyama, dono de 10 ouros Pan-americanos. "Eu respeito muito o que ele fez. Ele abriu portas para nossa geração. Cada um tem a sua história. Ele foi um ótimo mesa-tenista. Estou tentando seguir o meu caminho", disse Calderano.

O brasileiro também elogiou sua compatriota, Bruna Takahashi, atual número 21 do mundo. "O progresso dela é muito explícito, eu acho. O ranking fala por si só. Realmente acredito que ela vai continuar e chegar ao top 10. Ela trabalha duro todos os dias. Espero que ela consiga ir ainda mais longe."

Vida longe da mesa dá gás para Calderano seguir em frente

Aos 26 anos, Calderano está jogando na elite do tênis de mesa há quase uma década. Apesar disso, sua motivação não diminuiu.

“Realmente acredito que ainda sou uma criança no tênis de mesa”, afirmou. “Tenho jogado há muito tempo, mas os asiáticos começaram muito antes de mim. Então eles têm mais tempo no esporte do que eu. Acho que posso melhorar muito com o passar do tempo.”

“Preciso de tempo e treino com o pensamento certo em mente. Claro que é vencer os chineses, ser o melhor, ganhar torneios. Mas não é possível fazer o seu melhor todos os dias se você só tem um objetivo geral em mente. Você precisa de metas menores dia a dia.”

“Eu preciso de um ‘refresco’ mental para poder trabalhar no meu jogo de pernas, para sofrer fisicamente diariamente, para gostar de sentir dor nos treinos.”

Calderano é conhecido como um grande mestre do cubo mágico, capaz de resolvê-lo em segundos. É algo que ele gosta de fazer nas horas vagas, mas não é o único passatempo. Ele também posta vídeos jogando basquete, vôlei e outros esportes.

“Eu jogo muito xadrez também. Gosto de tocar guitarra e ukulele. Aprendi durante a pandemia. Em 2020, eu tentei aprender esses instrumentos e acho que é bom para relaxar a mente e o corpo. Como diz meu treinador, às vezes quando trabalhamos duro fisicamente, nosso cérebro fica preguiçoso. Então acho bom fazer essas atividades para manter o cérebro ativo e ficar relaxado.”

Relaxar é importante para balancear o seu estilo de treinamento.

“Gosto de ser meio diferente, meio doido nos treinos. Acho que é importante para mim.”

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