Guilherme Caribé quer devolver recordes da natação ao Brasil
No aquecimento para o Troféu Brasil, seletiva para o Mundial e para o Pan, nadador baiano de 20 anos conta ao Olympics.com sobre foi seu ano na NCAA, como se sente quando o chamam de ‘novo Cielo’ e antecipa encontro com David Popovici para 'vingar' o campeão Olímpico brasileiro.
Das 15 medalhas da natação brasileira em Jogos Olímpicos, nove vieram nos 50m ou 100m. Uma longa tradição que agora tem um novo embaixador: Guilherme Caribé.
Soteropolitano de 20 anos, ganhou projeção nacional no Troféu Julio de Lamare, no fim de 2022, quando nadou abaixo de 22 segundos os 50m e abaixo de 48s os 100m, tempos que o colocam na elite mundial das duas provas.
Caribé é um dos destaques do Troféu Brasil, seletiva brasileira para o Mundial e para os Jogos Pan-Americanos de 2023. O Campeonato Brasileiro Absoluto acontece de 30 de maio a 3 de junho, no Recife.
Quando fez seus melhores tempos, Caribé nadava pelo Clube dos Funcionários da Petrobras, longe dos centros mais reconhecidos da comunidade Olímpica brasileira. O baiano agora é atleta do Flamengo, além de ter nadado a última temporada da NCAA, pela Universidade do Tennessee.
“Depois que eu nadei 47 e 21, muita gente começou a me chamar de ‘novo Cielo’. É legal ser prestigiado, ver que o Brasil acredita em mim. Mas em momentos como o atual, o foco é total no treinamento. Prefiro me afastar um pouco, ficar mais na minha”, disse Caribé em entrevista ao Olympics.com.
A cautela, no entanto, não quer dizer que Caribé deixou de ter grandes objetivos. Sua meta é colocar a bandeira do Brasil novamente ao lado do recorde mundial dos 100m livre. Em 2022, o romeno David Popovici (46.86) superou o tempo de César Cielo Filho (46.91).
“É legal ver esse pessoal novo crescendo. Falei como se eu fosse velho (risos). Eu nunca encontrei o Popovici, não nadei com ele, mas ele roubou o recorde do Brasil. Então, temos que buscar de volta!”
Saiba mais sobre o ano de Caribé nos EUA e quais são seus objetivos até Paris 2024.
Guilherme Caribé: aprendizado e mudanças na NCAA
De uma equipe relativamente pequena em Salvador, Caribé passou a encarar uma outra realidade nos EUA.
“Nunca tinha saído de casa para morar sozinho. Nunca tinha morado nem em outro estado e nem imaginado morar em outro país. Tive que criar muita responsabilidade e aprender muita coisa sozinho”, contou.
A primeira diferença foi o fato de que o seu time em Knoxville, Tennessee, tem uma faixa etária aproximada. O nadador mais velho tem 23 anos. Seu corpo também mudou, ganhando quatro quilogramas de massa muscular.
“Na Bahia, eu tinha treinos mais longos, fazia muita série grande e puxava meu ritmo. Aqui é totalmente diferente, os treinos são mais curtos e intensos. É divertido para o pessoal da velocidade, treinando com gente do lado. As pessoas me empolgam e eu empolgo o pessoal, então fica essa competição no treino”, afirmou.
A competição, no caso, é com um campeão mundial. Jordan Crooks, das Ilhas Cayman, venceu os 50m no Mundial de Piscina Curta de 2022.
“Nossa amizade é bem legal, porque eu me destaco mais em piscina de 50 metros e ele na de 25 jardas, que são natações completamente diferentes. A gente fica nessa ‘briga’ durante o treino, mas é uma amizade sensacional. Temos muito respeito pelo outro. É uma referência muito boa treinar com um campeão mundial”, disse o brasileiro.
Na piscina de jardas, Caribé saiu de sua zona de conforto e precisou desenvolver outras habilidades.
“Eu sou um cara magro e alto. Não sou o cara que vai ganhar a prova na força, que vai bater na água. Precisa de um tempo para o meu estilo desenvolver e, na piscina de jardas, tem pouquíssimo tempo. É pouca parte nadada, tem muito submerso e muita virada. Então eu preciso encurtar o meu estilo, que é mais alongado. É um aprendizado muito bom”, explicou.
Caribé também destaca a cultura universitária americana do espírito de equipe.
“A natação é um esporte individual, mas aqui eles conseguem fazer com que seja coletivo. Você se sente mais parte de um time, que tudo que você faz importa para o time. No Brasil, era um pouco mais individual. O campeonato universitário aqui é muito importante.”
Cielo, Valério e Fratus: o trio que inspira Caribé
Não faltam referências do Brasil nas provas de velocidade da natação. Como escolher três nomes? Para Caribé, a aproximação com os ídolos foi fundamental.
“O Cielo é o nadador brasileiro que inspira todos os velocistas, pela história dele. Fiz uma clínica com ele uma vez e aprendi bastante”, lembrou, sobre o campeão Olímpico dos 50m em Beijing 2008. “Ele também parou de nadar por um tempo aos 13, 14 anos, algo que também aconteceu comigo.”
Medalhista de bronze em Tóquio 2020 nos 50m, Bruno Fratus também é mentor para Caribé.
“Eu tenho o número de telefone do Fratus e ele me manda mensagem, pergunta como eu estou. É um cara que se preocupa comigo e isso me conforta muito.”
Mais próximo ainda é Edvaldo Valério, o Bala, que fez parte do revezamento do bronze em Sydney 2000, ao lado de Gustavo Borges, Fernando Scherer e Carlos Jayme.
“O Valério é baiano, um grande amigo. Ele nadou o revezamento de 2000, uma prova sensacional, que eu assisto até hoje. Eu não tinha nascido ainda, mas meu pai me mostrou muito a prova”, afirmou.
Caribé espera contribuir para o surgimento de mais nadadores de ponta do Nordeste, assim como Valério e as pernambucanas Etiene Medeiros e Joanna Maranhão.
“É muito importante para dar visibilidade para a gente, mostrar que também conseguimos criar grandes atletas”, comentou Caribé.
Caribé quer buscar mais um ouro Olímpico para o Brasil
No Troféu Brasil, o objetivo do brasileiro é bater seus melhores tempos, 21.87 nos 50m e 47.82 nos 100m.
“Vamos ver se a gente consegue entrar nas cabeças, pegar um top 3 (do ranking mundial) e aí no Mundial vai ser interessante”, afirmou. “Também nunca fui campeão brasileiro absoluto, então quero colocar no meu currículo que ganhei o Troféu Brasil.”
O melhor tempo de 2023 é de Popovici, 47.61, seguido do britânico Matthew Richards (47.72) e do japonês Matsumoto Katsuhiro (47.85).
Caribé pretende disputar o Mundial, após ‘perder’ a chance de se classificar em 2022. Na seletiva, ele decidiu estrear um traje novo, que acabou prejudicando seu desempenho. “Não gosto nem de lembrar”, lamentou.
Os Jogos Pan-Americanos também são uma meta para esta temporada, mas seu grande sonho é estar em Paris 2024 lutando pelo ouro.
“Como nadador, todos os atletas têm como maior sonho o ouro Olímpico. A gente tem só o do Cielo, então quero buscar mais um. Não só mais um. Pretendo buscar mais alguns para a gente.”
MAIS | Veja todos os recordes mundiais da natação em piscina longa