Conjunto brasileiro da ginástica rítmica chega a Paris para viver seu ápice
A ginástica rítmica do Brasil atravessa o melhor momento de sua história. Por mais que o país tenha a sua tradição na modalidade, com títulos continentais e finais Olímpicas, o conjunto brasileiro consolidou seus resultados no atual ciclo. A equipe nacional vem de medalhas em etapas da Copa do Mundo e campanhas inéditas em Campeonatos Mundiais. A expectativa é de que Paris 2024 represente o melhor resultado da história.
Desde que o conjunto do Brasil fez sua estreia Olímpica, em Sydney 2000, só se ausentou de uma edição dos Jogos. A equipe brasileira teve sua melhor colocação em Atenas 2004, com a sétima posição. Contudo, os resultados recentes mostram como o time se aproximou dos principais concorrentes da modalidade. Há esperanças de que apresentações limpas possibilitem até mesmo o pódio.
ASSISTA A PARIS 2024 AO VIVO NO BRASIL
O Brasil é treinado por Camila Ferezin, ela mesma uma ex-integrante da equipe, presente no inédito ouro nos Jogos Pan-Americanos Winnipeg 1999 e em Sydney 2000. À frente do conjunto pela terceira edição seguida dos Jogos Olímpicos, a técnica conta com a experiência de ginastas que também estiveram em Tóquio 2020.
Maria Eduarda Arakaki, Nicole Pircio e Déborah Medrado fizeram parte do grupo que ficou no 12° lugar na edição passada dos Jogos Olímpicos, sem ir à final. Estão mais fortes nesse momento. Às três veteranas, também se juntaram Sofia Madeira e Victória Borges. É a base do quinteto que conquistou o reconhecimento nos últimos anos.
SAIBA MAIS | Ginástica rítmica, um guia para iniciantes
Os sons que embalam o conjunto do Brasil
As coreografias do Brasil, elaboradas pela assistente Bruna Martins, já se tornaram marcas registradas da equipe, embalando os principais resultados. Nos cinco arcos, o conjunto brasileiro se apresenta ao som de “I wanna dance with somebody”, de Whitney Houston. Já na série mista, com três fitas e duas bolas, a coreografia mais recente mistura ritmos brasileiros e homenageia personalidades do país - como Gisele Bündchen, Rebeca Andrade e Pelé.
“Essa coreografia é uma homenagem a pessoas, à cultura brasileira. Como não conseguimos chegar em apenas um elemento para homenagear, resolvemos fazer o contexto brasileiro como um todo. Teremos essa mistura sendo apresentada como um enredo de escola de samba e os gestos de cada homenageado vão sendo reproduzidos dentro dos nossos passos de dança”, explicou Bruna Martins, ao site do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
As últimas competições foram importantes para realizar ajustes nas coreografias e afinar o entrosamento do conjunto brasileiro. Paris 2024, afinal, pode ratificar esse sucesso e marcar a história da ginástica rítmica no Brasil.
Os grandes resultados do Brasil no ciclo
Depois de Tóquio 2020, o Brasil teve um salto de desempenho no conjunto da ginástica rítmica. O maior exemplo da força da equipe brasileira veio nos Campeonatos Mundiais. A medalha pode não ter pintado, mas o time se colocou na elite da modalidade.
No Campeonato Mundial 2021, o Brasil terminou na nona colocação do conjunto geral (a somatória das duas séries) e fez a final das cinco bolas, em sétimo. A partir de então, os aparelhos foram trocados conforme o ciclo de Paris 2024. A melhora se notou logo no Mundial 2022. As brasileiras ficaram na quinta posição do conjunto geral e bateram na trave com o quarto lugar na final dos cinco arcos. Já no Mundial 2023, o Brasil foi sexto no conjunto geral e de novo quarto nos cinco arcos, sem subir ao pódio por detalhes.
Mas não que o Brasil tenha ficado de mãos abanando. Muito pelo contrário, o conjunto passou a colecionar medalhas nas etapas de Copa do Mundo. A primeira veio em 2022, com o bronze na série mista. A temporada 2023 foi ainda melhor, com dois bronzes no conjunto geral, além de dois ouros e uma prata nas finais por aparelhos. A etapa de Cluj-Napoca, na Romênia, foi memorável: as brasileiras ganharam o ouro na série mista, a prata nos cinco arcos e o bronze geral.
A história continuou sendo feita em 2024. O Brasil teve outra campanha memorável na etapa de Portimão, em maio, com mais três medalhas: ouro na série mista, bem como pratas nos cinco arcos e no geral. Em junho, em Milão, vieram mais duas pratas, com as notas mais altas da história do conjunto nacional na série dos cinco arcos. Já em julho, na Challenge Cup de Cluj-Napoca, pintou uma prata na classificação geral. Que o contexto dessas competições seja distinto de um Mundial ou dos Jogos Olímpicos, são desempenhos que nunca antes as brasileiras haviam registrado.
O sucesso do conjunto brasileiro nos torneios internacionais também se refletiu como um domínio continental. O Brasil se acostumou a ganhar medalhas nos Jogos Pan-Americanos e Santiago 2023 não foi diferente, com os três ouros em disputa. Já no Campeonato Pan-Americano de Ginástica Rítmica, o conjunto brasileiro conquistou seis ouros e três pratas em nove pódios possíveis no triênio.
Quem são as ginastas do conjunto brasileiro
O conjunto do Brasil compete com cinco atletas na quadra. Confira quem são as seis convocadas para os Jogos Olímpicos.
Maria Eduarda Arakaki
Capitã do conjunto, Duda Arakaki tem 20 anos e nasceu em Maceió. Começou na modalidade aos seis anos, através de seu colégio, e aos nove foi campeã nacional mirim. Frequentou as seleções de base e participou dos Jogos Olímpicos da Juventude Buenos Aires 2018, antes de chegar ao time adulto. Figurou nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 e esteve nas principais campanhas do Brasil desde então, incluindo os Campeonatos Mundiais.
"Ser parte da seleção é uma oportunidade única de demonstrar minhas habilidades e a paixão pelo esporte em nível internacional", declarou Duda, sobre o significado de representar o Brasil, ao Olympics.com, em 2023. "Tudo que sou hoje como pessoa tem uma ligação com o esporte. Crescer, aprender e ter valores positivos."
Déborah Medrado
Déborah Medrado é outra veterana da ginástica rítmica, mesmo com apenas 22 anos. Capixaba nascida na cidade de Serra, ela começou no esporte através de um projeto no balé. De qualquer maneira, sua continuidade na rítmica dependeu da entrada na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Suas aparições com o conjunto adulto do Brasil aconteceram a partir de 2018, mas perdeu o Campeonato Mundial daquele ano por lesão. Voltou a tempo de disputar os Jogos Pan-Americanos 2019.
Apesar de passar por uma cirurgia nos dois pés em 2020, o adiamento dos Jogos Olímpicos permitiu que Déborah estivesse em Tóquio 2020. Desde então, seguiu com figura frequente no ciclo. "É uma grande responsabilidade [representar o Brasil], mas só quem trabalha muito e tem capacidade chega aqui e nós fomos escolhidas para isso", afirmou a ginasta, em entrevista ao Olympics.com.
Nicole Pircio
Nicole Pircio completou 22 anos recentemente e é a ginasta mais tarimbada dentro do conjunto. Nascida em Piracicaba, a atleta começou na modalidade através de um projeto da prefeitura local, após se interessar pela ginástica rítmica ao ver competições pela televisão. Sua ascensão à seleção adulta também aconteceu em 2018, presente no Campeonato Mundial já naquele ano. Desde então, disputou cinco edições do torneio, mais do que qualquer outra colega de elenco.
Nicole é a única atleta do conjunto brasileiro que esteve nos Jogos Pan-Americanos em 2019 e em 2023, conquistando quatro medalhas de ouro e duas de bronze. Esta será a sua segunda aparição nos Jogos Olímpicos, após Tóquio 2020. "Na ginástica eu consigo me expressar, ser quem eu sou no tapete. Me sinto livre, é minha vida, tudo para mim”, afirmou, ao Olympics.com.
Sofia Madeira
Mais jovem do elenco, aos 20 anos, Sofia Madeira é natural de Vitória, no Espírito Santo. Começou a praticar ginástica rítmica aos nove anos, incentivada ao ver sua mãe praticando atividade física. Diante de sua ascensão na base, a ginasta passou a ser observada para a seleção adulta desde 2018, mas compete mesmo no time desde 2022. Disputou o seu primeiro Campeonato Mundial em 2023.
"A ginástica é o momento que a gente consegue esquecer de tudo está em volta. Unida com as meninas, nossa amizade e parceria. A leveza que conseguimos nesse esporte", comentou Sofia, ao Olympics.com.
Victória Borges
Aos 22 anos, Victória Borges tem quase duas décadas de estrada na ginástica rítmica. Nascida em Santos , a atleta começou a treinar quando tinha apenas quatro anos de idade e fez sua trajetória em Sergipe. A presença do centro de treinamentos do conjunto brasileiro em Aracaju facilitou a aproximação e passou a ser observada pela seleção a partir de 2017.
Victória não esteve em Campeonatos Mundiais, mas participou dos Jogos Pan-Americanos 2023 e do Campeonato Pan-Americano 2024, além de etapas da Copa do Mundo. "Representar o Brail é a realização de um sonho. Sinto gratidão e alegria por inspirar outras pessoas e contribuir com a evolução da ginástica rítmica brasileira", comentou Victória, ao Olympics.com, em 2023.