O basquete brasileiro perdeu na madrugada desta quinta-feira, 12 de dezembro, um dos jogadores responsáveis pelas suas principais conquistas e histórias. Amaury Pasos, considerado por muitos um dos maiores atletas da história do país (senão o maior), faleceu em São Paulo aos 89 anos, completados ontem, dia 11.
A causa da morte não foi divulgada. Em nota, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) informou que o ex-jogador “descansou, falecendo em São Paulo cercado por filhos, netos e familiares mais próximos”. A entidade, por meio do presidente Guy Peixoto Júnior, decretou luto oficial de três dias.
Polivalente e considerado o atleta mais completo da história do basquete brasileiro (jogou em todas as posições, de pivô a armador), Amaury Pasos foi um dos líderes da “Geração de Ouro” que transformou o país em potência na modalidade. Ao lado de Wlamir Marques, Ubiratan Maciel, Rosa Branca, entre outros, conquistou quase todos os títulos possíveis.
Pela seleção brasileira, por exemplo, disputou quatro campeonatos mundiais e sempre foi ao pódio. O ponto alto, claro, é o bicampeonato mundial em 1959 e 1963, sendo MVP nos dois torneios (único jogador da história a obter este feito). Foi vice-campeão mundial em 1954 e bronze em 1967, além de tetracampeão sul-americano.
Além disso, competiu em três edições dos Jogos Olímpicos. A estreia em Melbourne 1956 não foi das melhores: ele se machucou e viu o país terminar na sexta posição. Mas em Roma 1960 e Tóquio 1964, ele esteve em quadra na conquista das duas medalhas de bronze – as últimas do país no basquete masculino.
Amaury Pasos foi campeão argentino de natação, mas gostava mesmo do basquete
Filho de argentinos, Amaury Pasos nasceu na capital paulista em 11 de dezembro de 1935. Contudo, insatisfeita com os rumos políticos do país (que vivia sob o regime do Estado Novo), a família voltou para Argentina quando Amaury tinha 5 anos. E foi no país vizinho que ele iniciou sua trajetória esportiva.
Porém, não no basquete, que ele adorava, mas na natação. Praticava o esporte desde criança na ACM (Associação Cristã dos Moços) e chegou a ser campeão argentino infantil. O sucesso não o cativou. Sempre que podia, fugia dos treinos para jogar basquete com seus colegas numa quadra próxima.
Quando parecia que viveria em solo argentino, uma nova insatisfação política trouxe a família de volta ao Brasil. Logo após retornar com 16 anos, Amaury pôde se dedicar integralmente ao basquete ao fazer parte do Clube de Regatas Tietê. Não sem experimentar o tênis graças à Maria Esther Bueno, outra lenda do esporte brasileiro, que também treinava no clube.
Ficou no clube até 1961. Já um dos atletas mais vitoriosos do país, passou a competir pelo Sírio, então um dos mais tradicionais clubes da modalidade. Foram quatro temporadas e um título paulista em 1962. Contudo, fez história no Corinthians, para onde se transferiu em 1966 e jogou até se aposentar, em 1972.
Ao lado de vários colegas de seleção, Amaury conquistou três títulos paulista (1966, 1968 e 1969), dois brasileiros (1966 e 1969) e dois sul-americanos (1966 e 1969). Em outubro de 2024, o clube inaugurou um busto na entrada do Ginásio Wlamir Marques, nome em homenagem a outra lenda brasileira da modalidade.
Depois de aposentado, teve um rápido retorno ao basquete como treinador. No Monte Líbano, foi campeão nacional em 1982, mas decidiu não continuar na nova carreira.
Amaury Pasos ganhou réplica de medalha Olímpica furtada e integra hall da fama
As conquistas se sucediam na carreira de Amaury. Com 18 anos, em um treino da seleção que se preparava para o Mundial de 1954, encantou o técnico Togo Renan Soares, o Kanela, que o tornou titular absoluto da equipe que se sagraria vice-campeã mundial naquela edição.
A partir daí, foi o pilar de um time que, nos 15 anos seguintes, estaria sempre na briga pelo pódio das principais competições. Depois de 1967, com 32 anos, Amaury se despediu da seleção como o atleta mais laureado do país no basquete ao lado de Wlamir Marques. Foram quatro medalhas em Mundiais e mais duas em Jogos Olímpicos.
Uma das medalhas Olímpicas, inclusive, foi furtada do museu que mantinha em sua casa. Numa manhã, Amaury Pasos não encontrou o bronze conquistado em Tóquio 1964. Após intensa busca sem sucesso, a filha Cláudia contou com a colaboração de Jatyr, também presente naquela campanha Olímpica, para ela mesma fazer uma réplica - tão emocionante quanto a original.
Diante de tantas conquistas, ele se tornou em um dos primeiros brasileiros incluídos no Hall da Fama organizado pela FIBA (Federação Internacional de Basquete) em 2007. Também já recebeu indicações para entrar no Hall da Fama do Naismith Memorial, nos EUA.
RELEMBRE | Wlamir Marques é nomeado para Hall da Fama de basquete