Após inédita participação Olímpica, Bruna Alexandre mira ouro no tênis de mesa Paralímpico em Paris 2024 

Por Daniel Perissé
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 Tênis de Mesa - South Paris Arena 4 - Treino da equipe de Tênis de Mesa. Na imagem a atleta Bruna Alexandre. 
Foto por Gaspar Nóbrega / COB

Bruna Alexandre já entrou para a história do esporte brasileiro ao obter vaga para representar o tênis de mesa tanto nos Jogos Olímpicos como nos Paralímpicos em Paris 2024. Se a catarinense de 29 anos fez sua estreia no primeiro, no segundo ela vai para sua terceira edição, e com um objetivo claro: conquistar a inédita medalha de ouro na modalidade.

Foram três medalhas obtidas por Bruna: um bronze por equipes, nas classes 6-10, e outro na classe 10 individual, ambos no Rio 2016; e a prata em Tóquio 2020, novamente na categoria individual da classe 10.

O Brasil obteve três pratas e cinco bronzes até hoje no tênis de mesa Paralímpico - um total que deve aumentar no que depender de Bruna.

"Tenho o sonho de ser campeã Paralímpica e jogar contra atletas sem deficiência me fortalece em busca deste objetivo,” comentou a mesatenista em entrevista divulgada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

Vaga Olímpica anima Bruna para inspirar outras pessoas

Antes dos compromissos Paralímpicos, a atleta de 29 anos integrou, ao lado das irmãs Giulia e Bruna Takahashi, a equipe feminina brasileira que tentava pela primeira vez ganhar um confronto na disputa Olímpica. Presente nas últimas três edições dos Jogos, o time sempre foi eliminado logo na primeira rodada.

O Brasil acabou perdendo por 3 a 1 para a Coreia do Sul e seguiu sem avançar, mas fez história com a participação de Bruna Alexandre, que jogou duplas com Giulia e fez um dos duelos de simples.

A inédita convocação para os dois Jogos faz com que Bruna tenha se tornado um modelo e inspiração para outras pessoas, da mesma forma que Partika foi para ela.

"Estou muito feliz por representar todas as pessoas com deficiência e mostrar que tudo é possível. Acho que isso me dá mais vontade de querer continuar e correr atrás dos meus sonhos, pensando não só em mim, mas em todas as pessoas com deficiência", comentou.

Sem um braço em um esporte tão dinâmico quanto o tênis de mesa, Bruna teve problemas no início da carreira, sendo a principal delas relacionada ao equilíbrio. Para ajudá-la a se equilibrar no momento de realizar as jogadas, ela pratica skate e futsal.

Chegando em todas as bolas graças ao trabalho do equilíbrio, Bruna Alexandre especializou-se no saque, um dos seus pontos fortes. Com apenas uma das mãos e a bolinha em cima da raquete, a joga para o alto e, durante o seu deslocamento no ar, se prepara para colocá-la do outro lado da mesa. "Consigo sacar igual ao pessoal que tem dois braços", explicou.

Polonesa Natalia Partyka é sempre a referência

Pouco a pouco, Bruna vai seguindo os passos de sua grande referência no esporte: a polonesa Natalia Partyka, seis vezes medalhisita de ouro Paralímpica e que também participou dos Jogos Olímpicos.

“Sempre tive a Natalia Partyka como inspiração por tudo que ela conquistou em sua carreira. Eu me espelhei tanto nela que me concentrei muito para vencê-la, e no ano passado consegui”, disse a brasileira ao Olympics.com.

“Continuo me inspirando nela; acho que ela deu início a essa história do tênis de mesa, jogou Olímpico e Paralímpico no mesmo ano, e isso me dá uma grande inspiração,” completou.

Bruna Alexandre teve de amputar o braço direito aos seis meses de idade, por conta de uma injeção mal aplicada que evoluiu para uma trombose. O início no tênis de mesa veio aos sete anos, antes mesmo de conhecer o esporte Paralímpico.

A preparação no esporte convencional seguiu aos 11 anos, quando integrou pela primeira vez a seleção brasileira infantil, e o início no paralímpico só veio em 2009, já com movimentação adaptada à velocidade do jogo convencional, o que lhe ajudou a estar quebrando barreiras.

"Quando eu comecei a jogar os estaduais de Santa Catarina, que eu ganhei de atletas que eram da seleção, aí eu comecei a ver que eu podia chegar num caminho legal, melhorar cada vez mais. E foi onde a Confederação me conheceu", disse Bruna.

Atual bicampeã brasileira no tênis de mesa convencional, ela se orgulha de poder mostrar que a deficiência não é um obstáculo:

"O que eu mais fico feliz de jogar o [tênis de mesa] Olímpico é mostrar pra todo mundo que a deficiência não é nada, que a gente consegue fazer tudo. E é isso que me dá mais motivação de continuar a jogar. “Espero que algum dia isso seja algo normal no mundo: uma pessoa com deficiência jogando contra alguém que tem os dois braços, independente da deficiência."