Há 20 anos, Vanderlei Cordeiro de Lima mostrou que o mais importante é, de fato, competir e não vencer 

Por Gustavo Longo
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Vanderlei Cordeiro de Lima foi bronze em Atenas 2004
Foto por Créditos: Andy Lyons/Getty Images

Praticamente todo mundo conhece a frase “o importante não é vencer, mas competir”, atribuída ao Barão Pierre de Coubertin. Mas poucos conhecem a sequência dela: “assim como o mais importante na vida não é o triunfo, mas a luta”. Há 20 anos, Vanderlei Cordeiro de Lima mostrava que as duas sentenças estavam corretas.

Em 29 de agosto de 2004, o brasileiro liderava a maratona nos Jogos Olímpicos Atenas 2004 com sete quilômetros para o fim e 25 segundos de vantagem sobre os rivais. Até que um manifestante invadiu a rua e o empurrou. Ele até retornou à prova na primeira posição, mas sem a mesma concentração, e terminou com a medalha de bronze.

Uma situação que poderia deixar qualquer um furioso. Afinal, quem aceitaria perder uma medalha de ouro Olímpica por algo que não deveria acontecer, não é mesmo? Mas o maratonista brasileiro não se importou com isso. Preferiu comemorar o bronze sendo ovacionado pelos torcedores nas arquibancadas.

"Essa medalha é a história da minha vida. Quando pisei no estádio, todo mundo aplaudiu. Fiz aviãozinho e era a pessoa mais feliz dali. Nunca tive momentos de mágoa e frustração”, comentou o atleta ao Globoesporte.com em 2021.

A alegria demonstrada por Vanderlei Cordeiro de Lima não passou despercebido. Ele foi agraciado com a medalha Pierre de Coubertin, honraria dada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) a atletas que demonstram elevado grau de esportividade e espírito Olímpico. Ele é o único brasileiro a receber essa distinção.

Triunfo Olímpico de Vanderlei Cordeiro de Lima foi fruto de muita luta

A comemoração no icônico Estádio Panatenaico simboliza o que foi a carreira de Vanderlei Cordeiro de Lima. Ele levou adiante a máxima Olímpica de que a luta é mais importante do que o triunfo em nossas vidas. Sua trajetória até Atenas 2004 foi marcada por muita superação - por isso a alegria pelo bronze em vez da lamentação pelo ouro perdido.

Filho de um paraibano com uma pernambucana que migraram do Nordeste para o Paraná na década de 1950, Vanderlei desde pequeno ajudava a família na lavoura. “Foi uma infância bastante difícil. Na verdade, eu não me lembro de ter acesso a nada. A gente mal tinha para comer”, comentou em seu perfil no site do COB.

O garoto de origem humilde pensava que poderia mudar de vida jogando futebol – o que nunca se concretizou. Entretanto, na adolescência, descobriu um universo novo de modalidades esportivas em sua escola – entre elas a corrida.

Em 1985, com 16 anos, participou de sua primeira competição: os Jogos Regionais Escolares em Umuarama, no Paraná. “Na verdade, estava pegando carona no esporte só para poder viajar”, admite.

Presente nos 800m e 1.500m, ele ficou longe das primeiras posições. “Nem lembro em qual colocação cheguei, mas não foi entre os vinte primeiros que ganhavam medalhas. Acho que terminei em 22º ou 23º. Vi as medalhas com aqueles atletas e fiquei impressionado com aquilo e falei que eu iria ganhar uma”.

Vanderlei Cordeiro de Lima acumulou feitos antes de Atenas 2004; depois, só teve glórias

Na verdade, Vanderlei Cordeiro de Lima ganhou bem mais do que uma medalha ao longo de sua trajetória esportiva. Mesmo antes do pódio Olímpico em Atenas 2004, ele já consolidava seu nome como um dos principais maratonistas do Brasil.

Ele acumulou vitórias nas Maratonas de Reims (1994), Tóquio (1996), São Paulo (2002) e Hamburgo (2004). Foi vice-campeão em Tóquio na edição de 1998, terceiro lugar na de Fukuoka em 1999 e quinto lugar na Maratona de Nova York em 1998. Além disso, sagrou-se bicampeão dos Jogos Pan-Americanos em 1999 e 2003.

Seu recorde pessoal – 2h08min31s – ainda é a oitava melhor marca do Brasil na maratona, e Vanderlei é o quarto mais rápido (atrás apenas de Daniel Nascimento, Ronaldo da Costa e Marílson Gomes dos Santos).

Porém, nada que se compara às emoções vividas após o episódio em Atenas. Participou de eventos e homenagens, foi agraciado com o Prêmio Adhemar Ferreira da Silva pelo Comitê Olímpico Brasileiro e, em 2016, teve a honra de acender a Pira Olímpica na Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

“Na última hora me ligaram para substituir o Pelé, cara! Foi uma surpresa para mim, eu não esperava. Hoje eu recebi minha medalha de ouro. Viver essa emoção foi mais do que a conquista de uma medalha”, explicou ao Lance! em entrevista após a cerimônia.

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