Podcast: Isaquias Queiroz com mente e corpo em sintonia por recorde Olímpico

Por Sheila Vieira e Virgilio Franceschi Neto
10 min|
[Podcast Thumbnail] TOKYO, JAPAN - AUGUST 07: Isaquias Queiroz dos Santos of Team Brazil celebrates winning the gold medal in the Men's Canoe Single 1000m Final A on day fifteen of the Tokyo 2020 Olympic Games at Sea Forest Waterway on August 07, 2021 in Tokyo, Japan. (Photo by Phil Walter/Getty Images)
Foto por Phil Walter/Getty

Foram as correntezas do rio de Contas, no sul da Bahia, que serviram de base para as remadas de Isaquias Queiroz na sua natal Ubaitaba. Treinadores como Jesús Morlán (falecido em 2018) e Lauro Pinda acrescentaram um trabalho de precisão e formaram um dos maiores medalhistas Olímpicos do Brasil, na canoagem velocidade.

Em Jogos, Isaquias conquistou uma de ouro (C1 1000m em Tóquio 2020), duas de prata (C1 1000m e C2 1000m na Rio 2016) e uma de bronze (C1 200m). Em Mundiais foram 14 medalhas. Palmarés que o coloca entre os melhores do esporte brasileiro.

Depois de uma temporada 2022 intensa, com duas medalhas no Mundial de Halifax (Canadá), a de 2023 foi pouco movimentada, mas o suficiente para assegurar para o Brasil vaga no C1 1000m. No fim do ano, foi ao pódio nos Jogos Pan-Americanos, ao faturar uma de prata.

Diante das diferenças dos calendários e resultados de 2022 e 2023, o que afinal havia acontecido com Isaquias?

Distante dos holofotes, 2023 foi uma temporada e ano em que o canoísta procurou ficar mais perto da família e concentrou-se em uma nova abordagem para a sua canoagem.

Falou pouco, fez muito.

Mais magro, voltou às competições internacionais no início de maio para a etapa húngara da Copa do Mundo de Canoagem Velocidade. Não deu chance aos rivais e “voou” para faturar dois ouros em lugar onde nunca havia antes vencido.

Imprevisível. Este é Isaquias Queiroz, que se prepara para fazer bonito em Paris 2024. Quem sabe entrará para uma seleta galeria de campeões e medalhistas Olímpicos do Brasil, entre aqueles que mais pódios têm em Jogos.

No 30º episódio do podcast dos Jogos Olímpicos – 11º da temporada 2024 -, Isaquias fez uma análise sobre 2023, falou sobre essa nova abordagem para a sua remada (o que fez com que perdesse peso), a expectativa por mais uma participação Olímpica e suas chances na capital francesa (ouça aqui no spotify).

Abaixo, o Olympics.com separou alguns trechos deste bate-papo.

É cansativa a vida de atleta, principalmente no meu nível, que eu percebi muito que no ano passado, quando você dá uma diminuidazinha, a pessoa já…você pode ter sido dez vezes campeão Olímpico, pensa: “não presta mais, já está velho para está passando vergonha”. Então eu percebi isso quando eu cheguei nos Jogos Pan-Americanos. A gente tinha remado um mês e meio, acho, não treinando para os Jogos Pan-Americanos, No Mundial eu tinha sido o melhor das Américas, no Mundial de Agosto de 2023, o cubano [José Pelier Córdova] tinha ficado na final B. Então, tipo assim, o que adianta eu ter que me preparar para os Jogos Pan-Americanos, sabendo que o mais importante é o Mundial ou Olimpíadas? Talvez tenham atletas que fazem preparações diferentes. Só que a nossa preparação é voltada para um Mundial, focada em Olimpíadas, porque a gente sabe que não adianta ganhar Jogos Pan-Americanos, não adianta ganhar o Mundial se não chegar na Olimpíada e representar bem o seu país.

Ao explicar sobre as competições que preferiu disputar em 2023.

E as pessoas às vezes não entendem que existe um planejamento. Não tem como você chegar, treinar quatro anos ou cinco anos como foi para Tóquio e não sentir o corpo. E a gente treinou bastante para Tóquio. Eu já estava cansado, em 2022 a gente teve um descanso, mas não foi tanto. E mesmo assim, em 2022 tive Mundial depois das Olimpíadas, e consegui mais duas medalhas. Chegou 2023 eu estava cansado mentalmente, fisicamente e deu vontade de poder saber o que é viver a vida um pouco, de curtir o meu filho Sebastian, estar com a minha esposa, estar na Bahia e decidi “agora eu quero isso para mim”. E eu fico chateado quando eu vi alguns comentários na transmissão dos Jogos Pan-Americanos. Como se 15 anos de carreira, não fossem suficientes para representar bem todo o Brasil, então eu não sei o que é suficiente. E ainda eu falei: “gente, eu não treinei para os Jogos Pan-Americanos, só que nós tivemos uma seletiva e e eu, sem treinar fui o melhor do Brasil. Então o melhor do Brasil tinha que ir para os Jogos Pan-Americanos. Mas foi bom para mim, eu ganhei uma prata e falei “cara, nem sempre você vai ganhar.” Só que eu fiquei muito chateado, triste porque eu achei que iam ser os meus últimos Jogos Pan-Americanos, né? Tanto que até chorei lá. Mas depois, quando voltei pra casa eu falei: "não, é o seguinte, vamos treinar pesado pra Paris e vamos até Los Angeles. Só que o foco agora é Paris." Como eu falei, não adianta ficar pensando em vários campeonatos ou daqui até 2028. O foco é um só. O foco é o campeonato mais importante, que são as Olimpíadas.

Isaquias em análise da temporada 2023.

Mas eu fico feliz de 2023 ser um ano diferente daquilo que eu vinha fazendo, que foram nove anos de pódios em Mundiais junto com as Olimpíadas. Então é bem complicado você se manter no topo assim. Eu vi vários atletas rivais meus que não conseguiram se manter, mas eu consegui me manter. No ano que eu queria diminuir, diminuí e conseguimos a vaga, que era o mais importante. E agora sim, é estar focado para Paris, e pelo resultado da Copa do Mundo [etapa da Hungria, ouro no C1 500m e no C1 1000m], foi muito bom.

Quando reflete sobre o ano de 2023 e retorno às competições internacionais em 2024.

Só que agora para [os Jogos Olímpicos de] Paris a gente já mudou a estratégia. Em vez de estar muito forte, a gente vai ter que estar mais magro, mais com a mesma força corporal. Porque não adianta perder massa corporal e também perder força. Então nosso objetivo é diminuir dois quilos em comparação a Tóquio, só que manter a qualidade de força. Então automaticamente eu estar um pouco mais forte, porque é difícil você evoluir em cima da técnica, chega em um ponto que não tem mais como evoluir. Então a única opção é: tentar ser mais rápido, mas para ficar mais rápido tem que ficar um pouco mais leve, pouco mais...menos massa corporal, até para não fadigar muito e a gente vem fazendo já isso já. Tanto que o meu peso de competição em Agosto [de 2023] é 84 [kg]. Só que na Copa do Mundo [na Hungria em maio de 2024] eu já estava com 84. Normalmente Copa do Mundo eu chego com 87 e 86 quilos, e pra Paris o nosso objetivo é pra chegar em 82 quilos. Então a gente vai chegar um pouco mais leve, né? Pra poder ser mais rápido ainda do que do que Tóquio, em Tóquio foi uma prova mais lenta, até pela condição do vento que tinha lá, que foi uma prova meio diferente. deu 4min04s, não lembro agora. E pra Paris, a gente tem uma visão de que vai ser uma prova rápida, então a gente vai ter que estar bem, com mais frequência e mais solto na água.

Ao mencionar a sua nova abordagem no esporte, que fez com que perdesse peso.

Então a gente acabou por trabalhar um pouco mais, com menos peso, mas com a mesma intensidade de força. Então eu estou me sentindo bem com esse peso e estou abaixando mais ainda. Vou abaixar tem mais um tempo [de peso] ainda até Paris e esperamos chegar lá no peso ideal pra poder competir. E até porque também tem relação de barco, né? Quando eu estou com peso muito acima tem que pegar um barco maior e esse barco maior às vezes não me sinto confortável e se eu tiver um peso menor, eu posso pegar um barco mais baixo, com que me sinto ainda mais confortável, e isso pode acabar me ajudando bastante.

Isaquias faz uma relação entre seu peso, o tamanho do barco e desempenho.

Eu me lembro muito bem da minha infância, como é que era. A minha mãe, a gente numa casa de madeira. A gente morava perto de um córrego que quando alagava, enchia toda a casa. A minha mãe teve a possibilidade de estar numa casa melhor, aquela casa do "Minha casa, minha vida", que ganhou do governo. Aí não tinha geladeira, não tinha fogão, tinha que fazer o fogão com aquele balde de tinta, né? Grande, que cortava, botava cimento e tal, a gente ia pegar madeira pra cozinhar e fazer as coisas. Então a minha infância, a minha vida, não foi assim fácil. Só que eu fui um cara, que quem olha meu histórico, fala: "o Isaquias não era um moleque tranquilo, era um moleque agitado." Então eu fui feliz na minha infância, brincava, jogava bola, dava mortal. Mas só que quando eu tive a oportunidade de entrar na canoagem, de oportunidade de ir pra seleção, eu falei: "Eu quero ser um cara diferenciado. Eu quero que as pessoas me notem, Eu quero que as pessoas saibam quem sou eu."

Quando relembra a sua infância e a decisão que tomou ao se tornar atleta da seleção brasileira de canoagem velocidade.

Podcast dos Jogos Olímpicos

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