A 'parisiense' Nathalie Moellhausen explica por que Paris 2024 será inesquecível: 'Vai relançar a alma Olímpica'

Por Sheila Vieira
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Nathalie Moellhausen in Paris
Foto por Nathalie Moellhausen/Instagram

A esgrimista campeã mundial brasileira, que mora em Paris desde 2006, comenta a importância da integração entre arte, urbanismo e esporte na aguardada próxima edição dos Jogos Olímpicos, que começa daqui a 500 dias, e diz ter renascido como uma fênix nesta temporada.

Nathalie Moellhausen tem sangue brasileiro, italiano e alemão nas veias, nasceu em Milão, competiu pela Itália e defende o Brasil desde 2014, mas o seu lar é Paris, cidade-sede dos próximos Jogos Olímpicos.

Moradora da capital francesa desde 2006, a esgrimista campeã mundial pode explicar como poucos por que a expectativa para Paris 2024, que começa daqui a 500 dias, é tão grande.

"Paris vai relançar a alma Olímpica, o espírito Olímpico", diz Nathalie ao Olympics.com, fazendo alusão aos tempos difíceis em que foram realizados os últimos Jogos, Tóquio 2020 em 2021, em que o público não pôde estar presente.

Em Paris 2024, o público e a cidade serão protagonistas junto aos atletas. Começando pela Cerimônia de Abertura, realizada às margens do rio Sena.

"A Cerimônia será histórica, nunca aconteceu uma cerimônia no rio, acessível ao público. Há um desejo de transformar a cidade até o ano que vem. Vai ser uma transformação, vai ter muita integração. Os franceses amam o esporte, os parisienses são super entusiastas de esporte. Vai ser o relançamento do movimento Olímpico em Paris 2024. É o que a gente precisa."

Paris: monumental, romântica, diversa e mais sustentável graças aos Jogos

Um dos locais turísticos que serão palco dos Jogos é o Grand Palais, um estonteante edifício inaugurado para a Exposição Universal de 1900, que recebe grandes desfiles de moda e eventos. Em 2024, será a casa da esgrima.

"É um lugar que eu amo. Considero o Grand Palais como a minha segunda casa, porque ganhei minha primeira medalha mundial individual, pela Itália, lá no Mundial de 2010, nesse espaço monumental. Também fui diretora de arte da cerimônia de gala da Federação Internacional de Esgrima lá", contou Nathalie.

O primeiro contato de Nathalie com Paris veio aos 15 anos, quando ela se encantou pela cidade. Já adulta, buscou se aprimorar na esgrima na França, onde o esporte é muito tradicional, e também estudou filosofia na renomada Universidade de Sorbonne. O plano era ficar seis meses, que se tornaram 17 anos e contando...

"Tem toda essa coisa do romantismo francês. Na primeira vez, eu vivi quatro dias de férias bem boêmia, que fizeram com que eu me encantasse com a cidade. A beleza dessa cidade é sem limite para mim. Até hoje, quando ando pelas ruas, eu me encanto."

Com a aproximação dos Jogos, Paris também se torna mais sustentável.

"Faz alguns anos que estão fazendo um plano urbanístico muito legal e ecológico, valorizando a circulação das bicicletas e reduzindo a de carros. Demorou um pouco essa estruturação, mas hoje é muito legal poder ir andando ao lado do rio", comentou.

Uma característica de Paris que Nathalie também admira é a diversidade de sua população. "É uma cidade multiétnica. Tem todas as culturas, todas as nações são muito bem representadas, oferecendo oportunidades para os estrangeiros", apontou.

Nathalie tem um carinho especial pela veia artística de Paris, já que sempre se envolveu com produção artística paralelamente à esgrima. "Paris é a capital da arte. Em qualquer lugar, sempre tem um evento, algo acontecendo no campo cultural. É uma explosão de informações do dia até a noite, com artistas de rua, exposições maravilhosas, muitos museus", disse.

A arte também é onde França e Brasil mais se conectam. "Os franceses têm muito respeito pela cultura brasileira. O fotógrafo Sebastião Salgado, que é meu ídolo, mora aqui e se formou aqui", citou a esgrimista.

Arte e esgrima se encontram em Paris

Nathalie é embaixadora do projeto "Seja Seu Próprio Herói", que fomenta a esgrima e a arte no Brasil. Usando a máscara como tela de pintura, ela estimulou jovens esgrimistas de projetos sociais brasileiros a criar desenhos que foram pintados pelo renomado artista Kobra. As máscaras serão leiloadas e o faturamento revertido para os projetos. Alguns desses jovens esgrimistas terão a chance assistirem a Paris 2024 ao vivo.

"A gente pediu para as dez crianças que representam essas instituições imaginarem, quando elas colocam a máscara, qual herói eles gostariam de ser", explicou Nathalie. 

"A máscara é um elemento de conexão social entre pessoas de qualquer setor da socieade. Não só para esgrimistas, mas qualquer tipo de ser humano pode considerar a máscara como meio de centralização pessoal, libertação e expressão." - Nathalie Moellhausen

Nathalie Moellhausen: mirando Paris 2024 como uma fênix

Após o título mundial em 2019, a expectativa para o desempenho de Nathalie em Tóquio 2020 em 2021 era alta. Ela acabou perdendo na primeira rodada, em meio a um período conturbado em sua vida.

"As Olimpíadas de Tóquio não foram boas. Tive várias situações pessoais que me afastaram da competição durante todo o ano passado, mas nunca deixei de treinar. Realmente me comportei como uma fênix. Eu vivi um verdadeiro inferno pessoal, mas não desisti de segurar a espada", contou.

Quem acreditava que seria o fim da linha para a esgrimista se enganou. Em 2023, ela venceu o GP de Doha e a Copa do Mundo em Barcelona.

"As pessoas ficaram surpresas que eu voltei a ganhar. 'A gente pensava que você já estava acabando'. Mas não foi assim. Na minha cabeça, apesar das pessoas não verem o que acontecia, estava acontecendo aqui dentro. Segui meu trabalho, ressurgi e tive duas vitórias. Elas representam todas as mudanças, de treinador, de maneira de treinar, de cabeça, de vida pessoal", desabafou.

A quarta participação Olímpica, terceira representando o Brasil, parece cada vez mais próxima.

"Eu quero chegar em Paris 2024. Essa é minha missão, meu desafio pessoal, é o que estou construindo hoje em dia", garantiu.

Não há lugar melhor para Nathalie completar sua jornada de fênix do que Paris.

"Sou uma mulher de 37 anos. Ainda estou competindo, mas minha missão não é só esportiva. É social, artística, filantrópica. Meu projeto vai ajudar futuras gerações e isso que me motiva na pista. Não posso pedir para os outros serem heróis de si mesmos e eu mesma não. Vou mostrar para mim mesma e para os outros que sou uma heroína". - Nathalie Moellhausen