Luisa Stefani sonha em jogar simples em Paris 2024 e se inspira na superação de Rebeca Andrade

Por Sheila Vieira
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Foto por 2021 Getty Images

Medalhista Olímpica de bronze em Tóquio 2020 ao lado de Laura Pigossi, tenista brasileira volta aos treinos sete meses após sofrer um rompimento do ligamento do joelho, mesma lesão da ginasta campeã Olímpica. Confira a entrevista exclusiva ao Olympics.com.

Um mês após viver a maior glória de sua carreira, quando conquistou a medalha Olímpica de bronze nas duplas femininas do tênis nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, a tenista brasileira Luisa Stefani passou pelo seu momento mais doloroso.

Em setembro de 2021, Luisa sofreu um rompimento do ligamento do joelho durante a semifinal do US Open, e está fora do circuito há sete meses. Ela retornou aos treinamentos recentemente, em São Paulo, mas deve voltar a competir apenas no segundo semestre de 2022.

Em entrevista exclusiva ao Olympics.com, Luisa falou sobre seus planos de voltar a jogar simples, possivelmente também em Paris 2024, comentou a boa fase de sua parceira Olímpica, Laura Pigossi, e revelou como os outros atletas Olímpicos a inspiram. A entrevista foi levemente editada por clareza e brevidade.

Olympics.com (OC): Você voltou recentemente aos treinos, como está se sentindo?

Luisa Stefani (LS): É muito motivador voltar à quadra. Nesta semana já comecei a me mexer um pouco mais. Obviamente o corpo ainda está se adaptando ao impacto. Ainda dá para sentir que o corpo não está totalmente acostumado. Mas eu sinto a melhora a cada semana.

Faz mais de um mês que que eu consigo ter uma vida normal, mas para competir em alta performance no nível que quero, ainda falta.

OC: Qual é sua meta de data para retornar agora?

LS: Não temos datas exatas. Essa lesão é mais uma questão de parâmetros do que de tempo, eu preciso atingir as metas. Quando estiver confiante de que a perna está forte e o joelho está estável, vou me sentir 100% segura. Mas pretendo voltar a competir no segundo semestre.

OC: Você já tem uma parceira combinada para o retorno?

LS: Como a minha agenda ainda está incerta, é difícil conseguir uma parceira. Muitas já fecharam até o fim do ano. Quando eu tiver uma gira concreta de torneios, vai ser mais fácil ver quem está disponível.

OC: Você está treinando agora com o Leo Azevedo. Como surgiu essa parceria?

LS: Nós dois moramos nos EUA muito tempo e acabou coincidindo de os dois estarem no Brasil ao mesmo tempo. Gostei muito de ficar aqui perto da família e tenho um apoio muito grande do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e da CBT (Confederação Brasileira de Tênis).

Quero voltar a jogar simples, então esse é um dos principais pontos que pedi ajuda dele, para me dar essa visão.

OC: Como veio essa vontade de voltar a jogar simples?

LS: Eu amo os dois [simples e duplas]. Obviamente fiquei mais focada nas duplas nos últimos anos, mas já era uma das coisas que eu queria fazer para 2022. Acabou que tudo precisou ser prorrogado pela lesão. Mas eu já pensava em depois do US Open jogar alguns torneios de simples para subir o meu ranking. Como eu 'resetei' agora, vou poder trabalhar nisso. Mas ainda vou continuar jogando duplas, especialmente no início.

Aos poucos vou tentar conciliar. Talvez dê para fazer uma gira de simples em torneios menores. Nos maiores sempre tem o qualifying e dá para pedir convite. Talvez seja desafiador no início, mas se eu conseguir os resultados, o ranking vai subir.

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OC: Você esteve na sede do COB no Rio e foi ao Troféu Brasil de Natação. Teve a sensação de se reaproximar dos Jogos Olímpicos?

LS: Foi muito emocionante estar lá, porque me traz memórias muito boas. Ver o símbolo Olímpico, que eu cheguei a tatuar. Não é só o bronze. São todas as emoções que vivemos lá [nos Jogos].

Ver os outros atletas treinando também é legal, porque muitos estão em reabilitação. Isso me motiva. É um ambiente muito campeão, de muito esforço, de positividade.

OC: Você acompanhou a campanha da Laura Pigossi em Bogotá, chegando à final de simples?

LS: Sim, acompanhei os jogos quando não estava treinando e os resultados. Vi o tiebreak que ela ganhou da [Dayana] Yastremska. Foi emocionante, uma das maiores vitórias que ela teve em simples. A gente conversou durante a semana. Foi muito legal ver ela tendo uma semana especial, tendo um pulo no ranking, que vai ajudá-la a entrar em torneios maiores, é um passo muito grande. Deu para sentir o quanto ela estava feliz e valorizou aquele momento.

OC: Você sente que, apesar de não serem parceiras no circuito, vão estar sempre conectadas pela campanha em Tóquio?

LS: Com certeza. A gente já tinha uma amizade antes, mas nada se compara [com as Olimpíadas]. É difícil de explicar o que a gente sentiu, mas é como uma liga de momentos muitos especiais. Foi a maior conquista e talvez o melhor momento das nossas vidas. Sempre que a gente se vê, não tem como não lembrar aquela sensação.

É muito bom reviver isso, ver como nos ajudou profissionalmente, na confiança dentro da quadra, e pessoalmente também.

OC: Além da Laura, a Bia Haddad Maia tem tido bons resultados. Como você vê esse momento do tênis feminino?

LS: Sensacional. Estamos conquistando um espaço maior nos grandes torneios, a Bia fez final de Grand Slam em duplas na Austrália, a Laura fez final em Bogotá. É isso que a gente quer. E vamos ter cada vez mais. Às vezes nos Slams eu sentia falta de brasileiras junto. Agora as meninas vão chegar também. Queremos essa geração batalhando nos grandes torneios, dando visibilidade ao esporte.

OC: Além da quadra, qual foi o momento mais marcante para você em Tóquio?

LS: No primeiro dia, quando chegamos lá, eu e a Laura fomos ao gramado da Vila Olímpica assistir ao pôr do sol. Ficamos trocando ideia, resenha mesmo, falamos sobre a vida. Foi um momento muito profundo de conexão, de gratidão de estar lá, com a luz do sol, os aros Olímpicos ao fundo. Foi sensacional.

Também tinha os jantares com o time todo, sair correndo para não perder o ônibus na Vila, a música no quarto. Coisas que não estão nos holofotes, mas que fazem a semana ser muito especial.

Não é só a grandeza das Olimpíadas, mas o ambiente é bem diferente. Você vê ídolos de outros esportes, que nós crescemos acompanhando. Quero muito viver essa experiência de novo em Paris.

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OC: Como foi a interação com os atletas dos outros esportes?

LS: Foi muito bacana conviver com o pessoal do skate. Eles têm uma vibe muito legal, saíam fazendo manobra na Vila. Gostei de conhecer o Bruninho [Rezende], porque sempre gostei muito das seleções de vôlei. Também conhecer atletas de esportes que não são tão populares e saber mais da história deles.

Obviamente a Rebeca [Andrade] tem uma história muito inspiradora, ainda mais agora que também tive uma lesão no joelho. Ela passou por várias [cirurgias no joelho] e voltou, fazendo tudo aquilo que ela fez [medalhas Olímpicas de ouro e prata] em Tóquio. Foi muito especial e é muito inspirador para mim.

Você está próximo de atletas de todos os backgrounds e lugares. Isso é o mais legal das Olimpíadas. Você sente um pouco mais na pele a história de cada um.

OC: Você sonha em estar em Paris 2024? Talvez em simples também?

LS: Sem dúvidas, é a meta. Ainda falta um tempo, mas é a prioridade, com certeza. Jogar em simples também seria o maior dos sonhos. Melhor ainda jogar as três chaves: simples, duplas e duplas mistas... seria o auge, a melhor coisa!