Laura Amaro carrega esperança brasileira no levantamento de peso: 'O sonho é uma medalha Olímpica' 

Por Virgílio Franceschi Neto
7 min|
Laura Amaro nos Jogos Sul-americanos Assunção 2022 - levantamento de peso - categoria 87kg feminino.
Foto por Miriam Jeske/COB

Com uma década no levantamento de peso, o Olympics.com entrevista esta carioca de Cascadura, medalhista de prata no Mundial de 2021. Em busca de um lugar em Paris 2024, ela disputa o Pan-americano da modalidade, que dá início à corrida pelas vagas Olímpicas.

Foi no ambiente familiar e lúdico das brincadeiras de rua na Zona Norte do Rio de Janeiro que Laura Amaro cresceu e conheceu os esportes. Na rua Ituna, em Cascadura, mais precisamente.

Começou no esporte em 2013. Em 2021, aos 21 anos de idade, ela se tornou a primeira mulher a dar ao Brasil uma medalha em um Mundial de levantamento de peso, no Uzbequistão.

Prestes a disputar o Pan-americano de levantamento de peso, em Bariloche (Argentina) entre os dias 25 de março e 2 de abril, Laura está em seu primeiro ciclo em busca daquela que pode ser sua primeira participação Olímpica.

Para isso, se adapta à categoria 81kg, depois de ter sido bem-sucedida na de 76kg, em que foi prata no Mundial. Uma medalha esta que a faz considerar um pódio em Paris 2024 algo nada distante.

Saiba mais sobre sua preparação para os Jogos, sua história e trajetória em entrevista ao Olympics.com.

Mudança de categoria rumo a Paris 2024

Laura recentemente se adaptou a fim de se adequar às categorias Olímpicas. "Eu decidi subir pra categoria 81kg...eu era até 76kg, uma que tinha encaixado perfeitamente pra mim...eu acredito que se continuasse na 76, a gente estaria fazendo resultados ainda mais expressivos", disse.

Para a pesista, a consequência não é apenas com a adaptação à nova categoria, mas também em relação ao aumento da concorrência: "A grande questão não é nem a categoria em si, a 81, mas sim, essa redução (do número de categorias) faz com que ela fique ainda mais concorrida. Então a de 81 está sendo um desafio por isso, né, que está vindo, estão vindo grandes concorrentes da de 87kg, da antiga 87.

Paris 2024 | O sistema Olímpico de classificação do levantamento de peso

O que muda quando se muda de categoria

Subir o peso significa não só colocar mais anilhas na barra. Muda-se toda a rotina de treinos e de alimentação. "Eu venho dessa subida de categoria desde que eu era juvenil, no momento em que eu era 71 e a gente tinha que subir para 76", lembrou Laura.

"Consegui consolidar os 76 com uma ótima performance, com uma ótima composição corporal" e colocou: "Eu também sei que é um trabalho de longo prazo, você conseguir ganhar massa efetivamente, você se sentir bem, pesando cinco quilos a mais para levantar um peso."

Laura explicou: "Para cada um quilo de massa que você ganha, você pode aumentar três quilos no seu peso levantado. Existe essa relação." Consequentemente, "muda a posição de finalização e a mobilidade, afinal a perna e o tronco estão maiores”, acrescentou.

Foto por Miriam Jeske/COB

Laura Amaro: 'O levantamento de peso é um esporte de detalhe'

Mudanças na massa corporal que refletem na quantidade de peso levantado. É preciso, portanto, atenção à qualidade. Questão de detalhes.

"O levantamento de peso é um esporte de detalhe", assegura Laura, que complementa: "O arranco só não é mais técnico nos Jogos Olímpicos do que o salto com vara."

Quem está de fora vê um pesista extremamente cuidadoso com o que come e em máxima concentração ao realizar seus movimentos. Tudo isso sugere que uma equipe multidisciplinar dá suporte à atleta.

É mais uma das bases do trabalho multidisciplinar de Laura: "A minha psicóloga (Daniele Seda) também faz levantamento de peso e entende um pouquinho do que a gente passa. Meu nutricionista (Yuri Peres) está comigo desde os meus 14 anos de idade," disse.

Laura Amaro em seu primeiro ciclo Olímpico

Um trabalho multidisciplinar que a orienta em seu primeiro ciclo Olímpico. A atleta está em seu terceiro ano como adulta e vai em busca da sua primeira participação em Jogos Olímpicos.

Inspirada por Tóquio 2020, pouco meses depois, em dezembro de 2021, foi medalhista de prata no Mundial realizado no Uzbequistão.

"O trabalho foi acontecendo, no mesmo ano eu ganhei essa medalha no Mundial, e realmente...assistir àquela Olimpíada no sofá da sala da minha tia e assim, não acreditando tanto que eu poderia estar entre as melhores", relembrou. “Quando eu vi, eu estava ganhando medalha no Mundial, sendo a primeira brasileira medalhista no próprio Mundial de 2021. Isso é muito legal", recorda.

Foi este estado de espírito que a conduziu para a medalha no Mundial e que a faz pensar no pódio Olímpico, o seu sonho: "Eu acho que esse é o grande objetivo, trazer uma medalha para o Brasil. O sonho, sem dúvida, é uma medalha Olímpica.”

O primeiro degrau para este sonho é o Pan de levantamento de peso, em Bariloche.

Pan de Bariloche: em busca da vaga em Paris 2024

Laura Amaro disputa a partir do dia 25 de março o Pan-americano de levantamento de peso, na categoria 81kg, em Bariloche, na Argentina. É o primeiro evento que conta pontos no ranking rumo a um lugar nos próximos Jogos Olímpicos.

A pesista adapta-se à nova categoria e vem de bons resultados em 2022, tendo sido vice-campeã na categoria até 87kg dos Jogos Sul-americanos, em Assunção. O ouro ficou com a campeã Olímpica, Neisi Dajomes.

"Estou curiosa com o resultado no Pan de Bariloche. Esse ano eu entrei em outro ritmo de treino", revelou. "Estou com 13% de gordura pesando 80kg, ótimo para a velocidade e para o que a gente quer nesse ano", completou Laura.

Um ano que tem as condições de ser o melhor dentro dos 10 em que está no esporte.

Foto por Miriam Jeske/COB

Uma década no levantamento de peso e alguns meses no skeleton

Laura Amaro completa em 2023 dez anos na modalidade tendo começado através de projeto social. "Era o meu primeiro teste, o meu treinador (Carlos Aveiro) falou: 'Olha, fica que você vai ser uma campeã'”, lembrou Laura.

Dentro desta trajetória, uma curiosidade: deidicou meses ao skeleton, esporte de inverno. "(Skeleton) exige muita potência do push inicial, que é levantamento de peso e velocidade de corrida. Duas coisas que eu dominava", explicou Laura.

Convidada para a seletiva nacional, obteve a vaga para os Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude 2016 em Lillehammer, na Noruega. Uma experiência no gelo que durou poucos meses.

Mas Laura não esconde o carinho pelo skeleton, que a faz acompanhar o esporte e tornar-se fã da brasileira Nicole Silveira. "O trabalho que ela está fazendo é incrível", disse.

Laura e Nicole foram eleitas as melhores em seus esportes na edição do Prêmio Brasil Olímpico 2022, realizada em fevereiro de 2023. A 13ª colocada em Beijing 2022 comentou sobre a pesista: "Tenho muito respeito pelo que fez e continua fazendo. Quem sabe não consigo trazer ela de volta para o gelo após a carreira no levantamento?"

Relembre | Prêmio Brasil Olímpico 2022

Coincidências à parte, durante a entrevista Laura confessa: "Eu tenho um sonho ainda de descer pelo bobsled. É uma coisa que talvez fique mais pra frente. É algo que acontece bastante lá fora, com alguns atletas do levantamento de peso que migram para o bobsled. Vamos ver se não acontece."

Por agora Laura Amaro dedica-se ao levantamento de peso em busca da realização do sonho, que é a medalha Olímpica.

Um resultado que para ela vai ser fruto de um processo de crescimento da modalidade no país: "Conseguimos a primeira medalha Mundial feminina e o Fernando (Reis) veio com a primeira masculina. Tivemos antes a Aline Campeiro e depois a Bruna Piloto. Gosto de dar valor a isso, significa que estamos crescendo."

Ao ser indagada sobre a proporção entre força e jeito em cima da plataforma, Laura não teve dúvidas: "Eu acredito que seja 60% jeito e 40% força". E concluiu: "Quando é no detalhe, tudo faz diferença."

Pan-americano de levantamento de peso em Bariloche

Serão ao todo 210 pesistas nos dois gêneros competindo na cidade argentina entre os dias 25 de março e 2 de abril. Colômbia, Estados Unidos, Canadá, México, Equador e Venezuela são as delegações que mandam mais representantes, além do país sede, a Argentina.

No feminino, destaques para a campeã Olímpica Maude Charron (CAN) e para a equatoriana Tamara Salazar, medalhista de prata em Tóquio. Entre os homens, presença do venezuelano Keydomar Vallenila, ouro na categoria até 89kg no Mundial de 2022.

O Brasil estará representado por cinco pesistas, três no feminino e dois no masculino:

  • Natasha Rosa - até 49kg feminino
  • Amanda Schott - até 71kg feminino
  • Laura Amaro - até 81kg feminino
  • Thiago Félix - até 61kg masculino
  • Marco Túlio Gregório - até 102kg masculino