Julia Bergmann, a sensação germânica do vôlei feminino do Brasil

Por Mateus Nagime
5 min|
julia bergmann na Liga das Nações de Vôlei (VNL)
Foto por Volleyball World

Uma menina ruiva que nasceu na Alemanha e se destacou no mundo universitário dos EUA tornou-se a maior sensação dos fãs de vôlei nestes últimos três anos. Julia Bergmann foi um dos grandes nomes deste ciclo Olímpico e chega com muita fome de bola em Paris 2024. Com muita presença dentro de quadra e também fora dela, é um dos principais nomes da seleção feminina de vôlei rumo ao terceiro ouro em Jogos Olímpicos.

Mesmo fora da seleção durante o Mundial, para completar seus estudos universitários, Julia Bergmann era onipresente nas discussões. Seu TCC - que nunca existiu, mas virou meme - virou até meme durante o Mundial, e desde 2022 Julia é figurinha carimbada nas convocações do técnico José Roberto Guimarães.

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A irmã mais velha de Lukas Bergmann - renomeado “Júlio” entre os vôleifãs na internet - repetem o feito de Daniele e Diego Hypólito e podem ir além: a dupla busca fazer história ao ser o primeiro par de irmãos, no feminino e masculino, a conquistar medalhas Olímpicas.

Além de ser fluente em português, alemão e inglês, ela também fala bem espanhol e francês. O espanhol veio para ajudar na comunicação com a argentina Bianca Bertolino, colega no time da Georgia Tech, enquanto o francês pode fazer com que ela seja ainda mais celebrada em Paris 2024.

As muitas reinvenções de Julia Bergmann

Julia Isabelle Bergman nasceu em 21 de fevereiro de 2001 em Munique. Filha de mãe brasileira (de Toledo, Paraná) e pai alemão, ela chegou ao Brasil com 10 anos de idade. Os pais queriam que ela e seu irmão mais novo Lukas aprendessem uma nova cultura.

Eles chegaram a Brusque, Santa Catarina, e começaram uma nova vida. O português, que não era falado em casa, parecia um desafio, mas Julia aprendeu rapidamente. Antes do português, ela já dominava uma outra importante língua do Brasil: o vôlei. Aos 12 anos já representava a cidade em torneios locais.

Além de jogar vôlei, ela também praticava natação, mas precisou parar quando começou a jogar profissionalmente. Segundo ela, sua excelente coordenação é fruto de seu passado como nadadora.

Julia Bergmann teve experiência com seleção nos Jogos Pan-Americanos Lima 2019

Sua primeira convocação para a seleção brasileira veio com apenas 18 anos, quando ganhou a medalha de prata na Liga das Nações de Vôlei (VNL) e também foi aos Jogos Pan-Americanos Lima 2019, competição na qual o Brasil ficou em quarto lugar.

Na mesma época, ela se mudou para os Estados Unidos, onde estudou na Universidade Georgia Tech. Ela iniciou sua vida universitária estudando física, mas acabou se formando em Linguagem Aplicada e Estudos Interculturais com complemento (minor) em Física.

Lá, bem pertinho de onde o Brasil conquistou a primeira medalha da história do vôlei feminino em Atlanta 1996, ela integrou rapidamente o time de vôlei entre 2019 e 2022, e era treinada pela brasileira Michelle Collier. Claudio Pinheiro, que trabalhou na Seleção Brasileira entre 2005 e 2017, era o assistente.

Mesmo faltando mundial, Julia Bergmann foi destaque em 2022

Foi, em 2022, que ela enfim estreou como titular na seleção feminina de vôlei. E quis o destino que o primeiro jogo fosse justamente contra a Alemanha e nos Estados Unidos, onde ela morava. Foi na primeira semana da VNL 2022 e já no primeiro jogo, ela marcou 18 pontos, além de ser responsável por passes excelentes.

“Julia Bergmann teve um comportamento muito bacana durante todo o jogo e parecia que estava na seleção há anos. Cada vez ela vai criar mais confiança e entender mais como tudo acontece no cenário internacional. Ela é uma jogadora inteligente e com leitura rápida de jogo”, disse o treinador da seleção José Roberto Guimarães.

Naquele ano, ela foi vice na VNL e precisou pedir dispensa para o Mundial para terminar sua faculdade, gerando muitos memes em torno do lendário 'TCC da Júlia' - que nunca existiu, já que apesar da pesada carga de trabalhos ela já declarou ao GE.com que nunca teve um trabalho de conclusão de curso como acontece no Brasil!

“A física tem muitos ramos que você pode seguir, e eu gostaria de trabalhar com a área de aquecimento global. É onde eu pretendo focar mais. Por isso que escolhi esse caminho”, disse Julia ao Lance!. Ela ainda contou ao diário que por ser mais velha que durante seu tempo no vôlei universitário, ela aprendeu a se comunicar melhor em quadra. “Aprendi muito a ser mais líder em quadra, pois sou mais velha do que as meninas da equipe”, comentou.

Enfim diplomada, agora Julia Bergmann quer medalha Olímpica

Com o diploma conquistado, ela voltou em 2023 e foi um dos nomes de destaque no Pré-Olímpico, inclusive na vitória decisiva sobre o Japão. Na campanha perfeita da primeira fase, Julia Bergmann foi um dos destaques do Brasil e sedimentou de vez seu lugar na seleção feminina de vôlei.

Também em 2023, ela seguiu para a Turquia, onde acabou mais perto de José Roberto Guimarães. Atuando pelo THY, comandado pelo técnico da seleção brasileira, ela também joga ao lado de Macris e Diana e levou o time às semifinais da Liga Turca, terminando em quarto lugar. Seu contrato já foi renovado.

Na Turquia, ela também tem a oportunidade de conviver mais com sua ídola, Gabi, conforme contou em entrevista ao Lance!. “A Gabi é hoje uma das maiores ponteiras do mundo e me inspiro muito nela, no jeito solto como ela joga. Parece que está sempre feliz jogando vôlei. Quero também ser uma atleta assim, uma líder e constante dentro da quadra. Tenho tanta coisa para aprender com essas meninas treinando aqui”, revelou Julia.