Flávia Saraiva explica força mental para superar desafios e agradece por não ter desistido
A conquista de uma medalha Olímpica não acontece da noite para o dia. É um processo diário, que pode levar anos para ser alcançado, como foi o caso de Flávia Saraiva. Uma das principais ginastas do Brasil nos últimos anos, ela chegou ao tão sonhado pódio Olímpico em Paris 2024, aos 24 anos.
Foi no dia 30 de julho de 2024 que o sonho se realizou. Ao lado de Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira, Flavinha foi bronze na capital francesa, conquistando a inédita medalha por equipes na ginástica artística.
Apesar da conquista, a competição trouxe desafios para Flávia Saraiva, desde as classificatórias. Ainda no aquecimento da final por equipes, sofreu uma queda nas barras assimétricas e bateu a cabeça, cortando o supercílio. Ela foi prontamente atendida, colocou um curativo e competiu lindamente, como se nada tivesse acontecido. Foi nesse momento que sua força mental se destacou, algo construído por ela ao longo de toda a sua carreira.
Ao desembarcar em solo brasileiro, Flávia foi recebida pelos fãs no Parque Time Brasil, montado em São Paulo, e revelou ao Olympics.com como superou os desafios.
“Chorei muito no primeiro dia, na classificatória, porque fiquei chateada com a competição que eu tinha feito. Sabia que poderia ter ido melhor, que tinha a oportunidade de pegar mais duas medalhas, de trave e de solo. Foi um momento em que tive que pensar, chorar, refletir. Pelo ano que tive, pude me superar em muitas coisas, mas também não ia ficar: ‘Ah, poxa, mas eu me superei’, porque isso não traz medalha, não traz resultado. Então, falei: ‘Vou mudar a minha cabeça, tenho que virar a chave, porque é a minha maior oportunidade com a equipe agora. É onde posso ajudar as meninas, e onde elas podem me ajudar’”, explicou a ginasta ao Olympics.com.
Dias depois, Flávia competiu na final do individual geral. Apesar de sofrer uma queda no solo, ela terminou em nono lugar e se disse satisfeita com o desempenho.
“Eu sabia que não era o dia da minha maior chance de medalha, mas a gente sempre entra para ganhar. Então, falei: ‘Vou dar o meu melhor hoje, quero aproveitar a competição, torcer muito para a Rebeca, porque ela merece estar lá’. Não foi a minha melhor competição do ano, de longe não foi a melhor da minha vida, mas estava muito feliz de estar lá, representando o meu país. Foi a minha primeira final de individual geral e fiquei muito satisfeita, porque sabia que merecia estar lá entre as melhores. Então, fiz um bom trabalho, que me vai servir de aprendizado para que eu possa me preparar melhor ainda”, completou.
O respeito pela ginástica artística brasileira
A ginástica artística brasileira é uma das modalidades que mais cresce no país. O processo começou lá atrás, quando algumas pioneiras se destacaram, como Daniele Hypólito e Daiane dos Santos.
De lá para cá, muita coisa mudou - e para melhor. Com uma geração de ouro, o Brasil brilhou no Mundial de 2023, quando foi vice-campeão por equipes, conquistando uma medalha inédita nesta prova.
Essa conquista, somada às medalhas de Rebeca Andrade, colocou o país sob os holofotes de todo o mundo. E pela primeira vez, a equipe não só disputou os Jogos Olímpicos, como chegou como uma das favoritas ao pódio. Para Flávia, porém, isso não trouxe mais pressão, e sim mais confiança.
“Não digo que tenha uma pressão maior [de ser favorita], porque a pressão é a que a gente cria. Acho que tínhamos o respeito da ginástica brasileira, que está crescendo e evoluindo a cada ano. Sabíamos desse potencial, mas não criamos expectativas. Não queríamos só participar de mais uma Olimpíada, queríamos a medalha Olímpica e fomos em busca disso. Em 2023, fizemos um Mundial excelente, todas estavam em seu melhor dia. Na Olimpíada, foi um pouco diferente. Estávamos muito bem, só que não em nosso melhor dia. Mas, fomos muito resilientes e a competição só acaba quando termina. Nós nos sentimos muito abençoadas de ter ganhado essa medalha”, contou Saraiva.
“Agradeço a mim por não ter desistido”
A história de Flávia Saraiva na ginástica artística já tem mais de 10 anos. A trajetória, como de qualquer atleta, é repleta de altos e baixos. Em todo esse tempo, o que ela mais aprendeu foi ter paciência para esperar a hora de certa de os sonhos se realizarem.
“Se eu pudesse falar com a Flavinha lá de trás, falaria que ela teria que ter muita paciência, porque [as coisas] não vêm na hora que a gente quer, mas na hora em que a gente está pronta. Nunca foi falta de treino, só não era a minha hora ainda, e tive que aceitar isso. É muito duro, porque você treina muito. Muitas vezes, eu sabia que já poderia estar lá em cima do pódio. O ano de 2022 foi um dos meus melhores, mas não consegui competir porque me machuquei. Foi difícil entender e ter resiliência de esperar o próximo ano e ter o melhor resultado da minha carreira, da minha vida”.
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As frustrações fizeram Flavinha crescer para, finalmente, estar pronta para subir ao pódio, o lugar em que ela merece estar.
“Tenho que agradecer à Flavinha do passado por não ter desistido, por ter levantado a cabeça e continuado todas as vezes, por mais que não desse certo. Por tentar de novo, porque eu já não estava mais fazendo pelas pessoas, não tinha que provar nada para ninguém. A partir desse momento, entendi que era por mim que tinha que fazer. Então, eu agradeço muito a mim também”, finalizou.
Aos 24 anos, Flavinha já tem três Jogos Olímpicos no currículo - Rio 2016, Tóquio 2020 e Paris 2024. Embora seja momento de curtir a conquista do bronze, Los Angeles 2028 vem aí, e a expectativa é de ver a gigante de 1,45m brilhando mais uma vez.