Após Pan histórico, Flávia Saraiva conta que quis parar depois da última cirurgia: 'Não conseguia fazer ginástica'

Paris 2024

Em entrevista exclusiva ao Olympics.com, a dona de 10 medalhas nos Jogos Pan-Americanos relembrou a dura jornada desde o procedimento no fim de 2022 que quase fez com que ela quase desistisse do seu sonho e quem a convenceu a continuar.

4 minPor Sheila Vieira e Scott Bregman
Flavia Saraiva
(2023 Getty Images)

O ano de 2023 foi de ressurreição para Flávia Saraiva. Ela começou a temporada se recuperando de uma cirurgia no tornozelo pelo segundo ano consecutivo, sem perspectivas de como seria o futuro. No meio do caminho, ela considerou desistir de seguir treinando ginástica artística. Na noite de 25 de outubro de 2023, ela deu a volta por cima novamente usando as cinco medalhas conquistadas nos Jogos Pan-Americanos 2023 no pescoço, enquanto falava com exclusividade ao Olympics.com em Santiago.

"Eu ainda não acredito. Parece que eu estou vivendo um sonho, porque até a metade do ano eu não estava conseguindo fazer ginástica. Não conseguia fazer trave, nem solo. Toda vez que eu estava voltando, eu sentia uma dor diferente e uma outra lesão no pé. E eu falei 'gente, o que vai ser do meu ano?' Muita gente sabe, mas eu queria parar de treinar. Eu queria falar 'o que é que eu estou fazendo aqui?.' Eu não estou conseguindo fazer da melhor forma possível. Eu gosto de estar competindo e estar entre as melhores. Eu quero sempre estar entre as melhores", disse Flávia.

O treinador Francisco Porath foi fundamental para que Flávia não desistisse, segundo ela mesma.

"Ele falou 'Não. Por que você quer desistir? Você acha que é fácil? Não é fácil.' E aí eu comecei também a enxergar com outros olhos, porque eu estava sentindo dor todos os dias. Não tinha um dia que eu ia treinar, que eu não estava sentindo dor. E eu falava gente, eu não sei o que que eu faço, porque eu operei o meu pé para ficar melhor. E por que está doendo tanto? A volta de uma cirurgia é muito difícil. A primeira cirurgia que eu fiz no tornozelo foi mais fácil. Doeu pra voltar? Doeu, mas foi indo e consegui ir evoluindo. Essa segunda cirurgia foi muito difícil para mim, para eu poder voltar", contou.

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Flávia Saraiva relembra momentos difíceis: 'Chorava praticamente todos os dias'

Lidando com dor intensa e constante no retorno aos treinos, Flávia precisou de muito apoio para mudar de ideia.

"Doía tanto e eu chorava. Eu chorava praticamente todos os dias no treino. Primeiro porque estava doendo e porque eu não conseguia fazer ginástica. E a coisa que eu mais amo na minha vida é fazer ginástica. Isso estava me matando por dentro, porque falava 'eu não tô conseguindo fazer o que eu amo e eu estou sofrendo para fazer o que eu amo. Eu não quero sentir isso mais.' Então eu conversei com o meu treinador e ele falou 'não, você não vai parar. A ginástica depende de você. O Brasil está com você. Tem muita gente torcendo por você e a gente vai dar um jeito'", recordou Flávia.

A ginasta também reconheceu o trabalho de toda a comissão técnica e médica, incluindo o médico Rodrigo Sasson, que a operou. Flávia ressaltou como eles buscaram todos os tramentos possíveis para que ela pudesse competir.

"Eu chorava e eles choravam junto comigo, porque eles sabem o quanto que eu amo esse esporte. Eles sabem o quanto que eu gosto de estar competindo, então não tem outras pessoas que eu não posso agradecer do que eles."

Além da prata por equipes e o bronze no solo no Mundial da Antuérpia, seus primeiros pódios no evento, ela acumulou quatro pratas e um bronze no Pan, chegando a 10 medalhas nos jogos continentais.

"Poder ter tido esses resultados históricos para a ginástica, mas também históricos para mim, é um sonho. E hoje, com certeza, eu vou deitar a cabeça no travesseiro e vou respirar com alívio. Porque acabar um ano inteira viva, não precisando fazer cirurgia... porque foram dois anos seguidos de cirurgia, é um alívio enorme para mim. E agradecer porque não tem sensação melhor do que você poder competir feliz e aproveitando cada momento", celebrou.

Flávia igualou a ginasta Daniele Hypolito e a nadadora Larissa Oliveira como maior medalhista mulher do Brasil no Pan.

"Para mim é um orgulho enorme poder estar representando o meu país. A Dani é uma inspiração para mim. Eu já treinei com a Dani e poder estar do lado dela assim é muito especial. Ela é uma ginasta incrível que abriu portas para a gente poder estar representando nosso país da melhor forma possível. Eu acho que não tem como me comparar com a Dani. A Dani está muito acima de mim ainda, porque ela é um fenômeno. Eu amo ela. Uma amiga que eu levo para o resto da minha vida, então não tem como me comparar. Só agradecer de poder estar do ladinho dela ali", elogiou.

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