Copa Ouro Feminina 2024: o que a seleção brasileira de Arthur Elias tem de diferente na comparação com a Era Pia Sundhage?

Por Fernanda Lucki Zalcman
6 min|
Arthur Elias no comando da seleção brasileira
Foto por Leandro Lopes/CBF

Treinador utiliza torneio nos EUA para testar novas jogadoras e formações táticas, visando Paris 2024. A base do time titular, porém, segue indefinida.

No dia 1º de setembro de 2023, Arthur Elias foi anunciado como novo treinador da seleção brasileira de futebol feminino. Depois de anos vitoriosos no comando do Corinthians, o técnico paulista substituiu a sueca Pia Sundhage após o mau desempenho na Copa do Mundo Feminina 2023.

A convocação de Pia para o Mundial, assim como as escalações e resultados, foi bastante contestada à época, e a soma de tudo isso levou à demissão da treinadora. Com pouco menos de um ano para os Jogos Olímpicos de Paris, Arthur Elias surgiu como sucessor natural ao cargo, uma vez que tornou o Timão o maior time feminino do país com sobras.

A expectativa pelo começo do trabalho era grande. A principal dúvida era, talvez, quais mudanças Arthur faria em relação ao time construído por Pia ao longo dos quatro anos de trabalho? Passados seis meses, quatro convocações e a primeira competição oficial, a resposta à essa pergunta começa a tomar forma.

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Convocações e testes de Arthur Elias na seleção

Após a decepção na Copa do Mundo, existiu uma cobrança por mudanças. Na primeira convocação, porém, 18 das 23 jogadoras chamadas por Pia estavam na lista de Arthur Elias. A principal diferença foi o retorno de Cristiane, que havia ficado de fora das últimas convocações da sueca, o que havia sido motivo de muitas críticas.

O treinador também aproveitou a oportunidade para começar a testar novos nomes, mas a base do que vinha sendo trabalhado no último ciclo se manteve. A lista, inclusive, continuou muito parecida nas duas convocações seguintes para amistosos.

O primeiro grande momento de mudança foi de fato para a Copa Ouro Feminina 2024. Arthur Elias surpreendeu com a convocação para sua primeira competição oficial à frente da seleção. Ele deixou de fora Marta, Tamires e Luana, e deu espaço para outros nomes.

Isso não significa que essas jogadoras estão fora dos planos da seleção. Pelo contrário. O treinador explicou que essas atletas precisam de uma melhor preparação junto aos seus respectivos clubes, para que cheguem na melhor forma possível aos Jogos Olímpicos.

Ao mesmo tempo, seria a oportunidade perfeita de testar nomes e formações táticas em jogos oficiais. Ele ainda terá a disputa da She Believes Cup, em abril, para então começar a fechar o grupo de atletas que deve de fato ir a Paris.

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Foto por Leandro Lopes/CBF

Copa Ouro Feminina 2024: cinco jogos, cinco escalações e vaga na final

Nos Estados Unidos, a promessa foi cumprida. Se o objetivo era testar, Arthur Elias não poupou esforços. Em cinco jogos, foram cinco escalações diferentes. Variou também o sistema tático e colocou em campo 22 das 23 jogadoras convocadas. A única a ficar de fora foi a goleira Amanda.

Mesmo com tantas mudanças, o Brasil foi evoluindo ao longo da competição e conquistou a vaga na grande final, de forma invicta. E duas características importantes de Arthur já começaram a aparecer: a defesa sólida e a variedade de goleadoras. Em cinco jogos, o time só foi vazado uma vez. E por outro lado, os 15 gols foram marcados por 11 jogadoras diferentes.

Entre todos os testes feitos pelo treinador, duas atletas foram mantidas: a zagueira Rafaelle e a atacante Bia Zaneratto. Nos três últimos jogos, Arthur também manteve o sistema tático, apostando num 3-4-3, mas alterando as peças.

Para a grande final contra os Estados Unidos, é difícil dizer qual será a escalação do Brasil. Será interessante ver quais cartas na manga Arthur Elias poderá usar para neutralizar as adversárias, que chegam como favoritas.

O que a seleção de Arthur Elias tem de diferente do time de Pia Sundhage?

Pia Sundhage deixou o comando do Brasil após a Copa do Mundo Feminina 2023

Foto por Adam Pretty/Getty Images

A pergunta não é tão fácil de ser respondida. Apesar dos testes na Copa Ouro, muitos nomes que estiveram no ciclo de Pia devem voltar à seleção de Arthur até os Jogos Olímpicos. Como dito acima, é o caso de Marta, Tamires e Luana.

Outros casos dependem de forças externas. Por exemplo, Kerolin, que sofreu uma lesão no ligamento cruzado anterior em outubro e não se sabe se ela voltará a tempo da disputa em Paris. No entanto, é de se imaginar que, se tiver condições físicas, deverá estar na convocação de Arthur.

E Cristiane? A atacante esteve nas duas primeiras listas de Arthur e depois deu espaço para novos nomes. Ela fechou contrato com o Flamengo para esta temporada, mas não há como saber - por enquanto - se está nos planos da seleção ou não.

No gol, o Brasil vive um drama. Letícia era a dona da vaga, mas sofreu uma lesão do ligamento cruzado anterior e ficará de fora. Luciana talvez largue na frente, mas Gabi Barbieri também foi testada na Copa Ouro e surge como opção. Fato é que ainda não há uma titular absoluta da vaga como foi com Pia.

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Para além dos nomes, as principais diferenças entre a sueca e Arthur Elias se dão talvez na parte tática e na filosofia de jogo. Na Copa, Pia apostou muito no 4-4-2, enquanto o brasileiro dá pistas de que talvez utilize mais uma linha de três zagueiras.

Além disso, como dito anteriormente, os times de Arthur não dependem de uma ou duas goleadoras, mas dão espaço para que várias participem das ações de ataque e balancem as redes, o que pode ser um trunfo como foi no Corinthians.

Fato é que ainda é cedo para fazer qualquer diagnóstico. Pia esteve no comando do Brasil por quatro anos e Arthur ainda está nos primeiros seis meses. Mas é fato também que, no primeiro teste, ele correspondeu às expectativas e levou a seleção à final da Copa Ouro.

E mais importante do que estar na decisão, é ver as várias possibilidades que se criam para o time brasileiro, pensando em Jogos Olímpicos e também mais a frente. Para Arthur Elias e sua comissão, os próximos meses serão de muito trabalho, mas também de muita expectativa. A resposta de tudo isso, porém, só virá mesmo em julho, em Paris.

Comparação das convocações de Arthur Elias e Pia Sundhage

Compare as escalações do último jogo de Pia no comando do Brasil e a formação de Arthur Elias na semifinal da Copa Ouro:

  • Copa do Mundo 2023 - Brasil x Jamaica

Letícia; Antônia, Kathellen, Rafaelle e Tamires; Ary Borges, Kerolin, Luana e Adriana; Debinha e Marta.

  • Copa Ouro 2024 - Brasil x México

Luciana; Antônia, Tarciane e Rafaelle; Adriana, Ary Borges, Duda Santos e Yasmim; Bia Zaneratto, Debinha e Duda Sampaio.

Compare abaixo, também, a lista de convocadas de Pia para a Copa do Mundo, e de Arthur, para a Copa Ouro. Lembrando que o treinador deixou nomes importantes de fora, mas que devem fazer parte do seu time daqui para frente.