Bruno Fratus e o poder da consistência: ‘Ainda tenho lenha para queimar’

Por Sheila Vieira e Ash Tulloch
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Foto por 2021 Getty Images

Três vezes finalista Olímpico dos 50m livre, o nadador brasileiro estreou no pódio Olímpico aos 32 anos em Tóquio 2020. Em entrevista exclusiva para o Olympics.com, ele conta como desistiu da aposentadoria e procura a 'cereja do bolo' em Paris 2024.

O nadador brasileiro Bruno Fratus construiu seu legado como um dos melhores nadadores de 50m livre da última década. E ele fez isso com muita autenticidade, declarações convictas e firmeza.

Muitos ficaram surpresos ao ver a reação emocional de Fratus depois de ganhar sua primeira medalha Olímpica aos 32 anos em Tóquio 2020, um bronze em sua terceira final Olímpica.

O vencedor da prova, Caeleb Dressel, disse ao Today Show que ficou comovido com a reação de Fratus.

"Acho que nunca abri um sorriso tão grande na minha vida", disse Fratus ao Olympics.com, poucas semanas antes do Campeonato Mundial 2022 da FINA, em Budapeste, Hungria, com início em 18 de junho.

Em Tóquio, Fratus carregou memórias vívidas de London 2012, quando ficou a dois centésimos do pódio, e da Rio 2016, quando o público brasileiro esperava uma medalha, e ele terminou na sexta posição.

"Em Tóquio, eu tive um pouco a sensação de agora ou nunca. Se não tivesse dado muito certo, eu seria um ex-nadador."

"Essa é a diferença que uma boa prova pode fazer."

Bruno Fratus: ‘Podemos chegar ao topo’

Fratus se permitiu curtir o momento depois de Tóquio, mas não demorou tanto para começar a pensar em sua quarta aparição Olímpica em Paris 2024.

"Comi meu bolo, pão, hambúrguer, tomei cerveja e meus vinhos. Então era hora de voltar parecer com um atleta de novo", brincou.

A motivação para continuar veio da própria prova em Tóquio. Fratus afirma que poderia ter nadado muito melhor do que os 21s57 que lhe deram o bronze.

"Foi um tempo que eu poderia fazer em um dia de treino. Então, isso me passou a mensagem de que eu ainda tenho mais lenha para queimar, e também num ciclo mais curto, um ciclo só de três anos. Esse um aninho a menos faz bastante diferença."

Desta vez, Fratus não quer repetir o 'overtraining' que teve depois dos Jogos do Rio.

"Me custou minha saúde mental naquela época, quase me custou meu ombro", contou. "Eu tenho 32 anos agora. Não posso treinar como um garoto. Então agora estamos tentando ser mais inteligentes, para chegarmos ao auge no momento mais importante."

"Se acertarmos uma prova perfeita em um bom dia, podemos estar no topo. Podemos quebrar o recorde. Não sei. Isso que me fez seguir em frente."

Fratus costuma usar o pronome 'nós', referindo-se também a sua treinadora e esposa, Michelle Lenhardt, casal que compartilhou a cena mais romântica de Tóquio 2020.

‘Você precisa viver de forma consistente’

Além de suas conquistas na natação, a franqueza de Fratus também fez com que ele se sobressaísse no Brasil.

"Não tenho nenhum filtro e digo as coisas como elas vêm. Acredito que autenticidade é importante. Não quero que as pessoas achem que é tudo lindo. Mostro o lado bom e o ruim."

Determinação e obstinação foram fatores cruciais para os feitos de Fratus, simbolizados na frase que ele disse após a prova em Tóquio, do filme Meu Nome não é Johnny: "os cara é grande, mas nós é ruim".

"Não é porque virei medalhista Olímpico que vou esquecer de onde eu vim", afirmou o nadador. "Aprendi desde cedo a superar os problemas tendo essa mentalidade de ir lá e fazer na marra, achar um jeito, não importa como."

O ídolo de Fratus é Ayrton Senna, outro atleta brasileiro de personalidade forte.

"Isso que é dedicação, que é insistência. Todo dia, você precisa viver com um propósito. E esse é o poder da consistência também. Fazer três finais Olímpicas seguidas, isso é ser consistente. E você precisa viver de forma consistente."

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Outro embate com Dressel e Manaudou?

Em maio, Fratus competirá nos três eventos do Mare Nostrum, como atual campeão. Seus principais rivais nos 50m livre continuam sendo os multimedalhistas Caeleb Dressel (EUA) e Florent Manaudou (França), que foram ouro e prata na prova em Tóquio, respectivamente.

O mais novo do trio é Dressel, 25, enquanto Manaudou tem 31, um ano a menos do que Fratus.

"Eles [Dressel e Manaudou] são dois animais, extremamente competitivos e não abrem espaço para brecha."

"Adoro competir com esses caras, porque eu me certifico que vou colocar o meu melhor na piscina."

O Fratus que eles encontrarão estará um pouco mais relaxado do que o de outros anos.

"Eu estabeleci um objetivo quando tinha 11 anos. Passei 21 anos da minha vida buscando algo. Então é algo que te dá uma paz quando você conquista", contou.

"Achava antes que faltava algo. Tinha muito orgulho da minha carreira. Mas você precisa da medalha Olímpica para sacramentar, sabe? Agora acho que estou indo para a cereja no bolo."

Escute o podcast em inglês do Olympics.com com Bruno Fratus