Breaking News: 'Tenho me preparado para isso sem saber por 20 anos', diz bboy espanhol XAK

Por Marta Martín
6 min|
Xak, Spanish Bboy. Cedida
Foto por XAK

O número 1 da Espanha, que largou a advocacia pela dança e ficou em quinto no Mundial de breaking, falou ao Olympics.com sobre o esporte que fará sua estreia Olímpica em Paris 2024.

Juan de la Torre e XAK são yin e yang na mesma pessoa; trabalhando juntos perfeitamente para criar um dos melhores bboys da Espanha.

Juan - seu nome real - é o lado mais introvertido; a pessoa calma que gosta de ler um bom livro. XAK é a parte explosiva, o bboy do palco que tentará competir em Paris 2024, onde o breaking fará sua estreia Olímpica.

Apesar de ter 35 anos, XAK ainda está motivado para se visualizar em dois anos nos Jogos Olímpicos. Apesar de estar envolvido com o breaking há duas décadas, foi há apenas dois anos que ele mudou sua vida completamente, deixando o escritório de advocacia em que trabalhava para se dedicar exclusivamente ao esporte.

E valeu a pena. "Eu preciso ser feliz", explica.

O vencedor do Red Bull BC One Spain em 2014, 2015 e 2016 também é o atual número 1 da Espanha. Ele ganhou recentemente o Cambrils Open e competirá no FISE Montpellier (25-29 de maio), nos Jogos Mundiais e no Campeonato Mundial de 2022 em dezembro.

No entanto, seu principal objetivo está no futuro: os Jogos Olímpicos de Paris.

Confira a entrevista com uma das estrelas do breaking.

Olympics.com (OC): O que a inclusão do breaking no programa Olímpico significa para você?

XAK: É uma grande oportunidade, um novo objetivo para almejar, para nos manter motivados e melhorando.

OC: O que você acha que o breaking pode trazer aos Jogos Olímpicos?

Breaking é algo novo, dinâmico, interessante e de muito apelo visual. É uma disciplina em que todo competir tem seu próprio estilo, seu próprio jeito de competir e se expressar com seu corpo. Chamamos de batalha, mas, na verdade, é só um jeito de provar que você dominou um jeito de se expressar.

OC: Você se vê em Paris 2024?

Agora, sim. Sinto que tenho me preparado para isso sem saber. Tenho treinado por 20 anos e agora todos os esforços deram recompensas e estou bem feliz. Tenho fé [de que vou aos Jogos].

"O breaking foi o que me ajudou a me encontrar." - XAK

XAK: Bboy e advogado

Você tinha 15 anos quando começou neste esporte, depois de ver alguém na escola praticando. Qual é sua memória desse momento?

Quando a gente pensava só em tênis, futebol e basquete como esportes [na Espanha], eu era bem ruim neles, então não gostava muito de esporte. Mas quando o vi, ele abriu meus olhos. Para mim, o hip hop e o rap eram relacionados a crime e a vandalismo. Eu não sabia nada. Quando o vi, o impacto visual foi tão forte, que eu percebi naquele momento as coisas desafiadoras e malucas que você pode fazer com o seu corpo. Então pedi que ele me ensinasse.

O que te conquistou no breaking?

Foi o fato de que eu poderia abordar o breaking da maneira que eu quisesse. Me trouxe liberdade, mas também me mostrou que eu poderia me desenvolver e me sobressair. Quando tinha 15 anos, era bem inseguro e estava em conflito comigo mesmo. O breaking me ajudou a me encontrar.

Você não estava sozinho ao associar o breaking com algo negativo. O que você diria para quem ainda pensa assim?

Eu diria a eles que todas essas coisas são estigmas e clichês. O breaking hoje é muito diferente dos anos 80. Em alta performance, o breaking não tem nada a ver com esses clichês.

Falando sobre clichês, você foi advogado, mas aos 30 anos decidiu deixar tudo e ir atrás da sua paixão.

Minha história também é sobre quebrar clichês ou convenções socioeconômicas. Tinha um plano claro na minha cabeça: estudar Direito, trabalhar em um escritório e seguir minha vida. Mas não aconteceu como eu imaginava, porque nem tudo é sobre dinheiro. Também é sobre felicidade e satisfação. O Direito me deu estabilidade econômica, mas não me deu felicidade ou a estabilidade emocional de que eu precisava.

Então essa foi sua decisão.

Sua mente deteriora bem mais lentamente que seu corpo e, se eu quiser voltar ao Direito, eu posso. Mas o breaking não é assim - dura um período curto. É agora ou nunca.

Você se mudou para Madri para viver seu sonho. Foi o começo da sua nova vida?

Quando eu cheguei em Madri em janeiro de 2017, não tinha economias. Minha vida era bem humilde, mas eu só sentia alegria. Era tudo que eu queria. Percebi que precisava disso para ser feliz, não viver uma vida que os outros queriam que eu vivesse.

Chegou a duvidar da sua decisão?

Não. Às vezes eu me perguntei o que estava fazendo com a minha vida, o que viria a seguir, o que eu faria quando me aposentasse, o que aconteceria se eu me lesionasse... mas eu senti que estava mais relacionado à situação social da dança e da arte no geral, de ser visto como um meio instável. Estava preocupado com isso, mas nunca tive problemas. Estava bem, feliz e tinha muito trabalho com o breaking. Nunca precisei pedir dinheiro para os outros. As dúvidas eram das outras pessoas. Para mim, sempre esteve claro.

Na sua bio do Twitter, você escreveu 'Perseverança, coragem e coração'. Qual é o significado por trás dessas palavras?

Acho que são as chaves para ter sucesso no que você quiser fazer. Perseverança é determinação diária. Mesmo se você sentir que quer ou não quer aquele dia, você precisa dar um passo em busca do seu objetivo. Coragem é a vontade de superar obstáculos. Às vezes eu sinto pânico ou dor, quando você treina para uma competição por um ano e fracassa. Isso machuca. Por isso você precisa de coragem para encarar essas situações.

E coração.

É o que une as duas coisas. Se você não tem paixão pelo que faz, não conquista nada. Se não persevera, não tem coragem e não ama o que faz, não está indo a lugar algum.

Breaking: arte e esporte

XAK e Juan de la Torre são diferentes?

Não são pessoas diferentes (risos), são partes diferentes de mim. Juan é minha vida privada, uma pessoa calma e mais introvertida. O XAK é um lutador, extrovertido, a parte de mim que diz 'olhe para mim, estou aqui e vou dançar. Quero tudo'. Para mim, o equilíbrio é ótimo, porque muito de uma coisa me deixaria transtornado. Mas as duas partes de mim se dão bem.

O breaking também tem dois lados: arte e esporte.

Sim, é verdade que, se você está preparado fisicamente, mas não tem lado artístico, não vai chegar a lugar algum, e vice-versa. Os dois precisam trabalhar juntos, porque estão alinhados e unidos. Sem um, o outro não existe.

O que você quer expressar artisticamente quando está no palco?

Tento fazer com que minhas emoções não dominem tanto e consigo me manter focado, então tenho alguma consistência em como e o que quero me expressar; ser claro sobre a mensagem. Não deixo outras coisas me desestabilizarem, e muitas vezes o jeito que chego a isso é escrevendo como me sinto nos dias em que estou feliz com a maneira que me apresentei. Nos dias de competição, eu releio e relembro, então isso me traz de voltar à experiência e permite que eu me sinta da maneira que quero.