Ex-treinador de Cielo e Pereira, Albertinho busca glória na natação portuguesa

Treinador brasileiro completa dois anos à frente da natação de alto rendimento de Portugal. Em entrevista para o Olympics.com, ele comemora resultados recentes que projetam o país no cenário internacional. Próximo compromisso é o Mundial em Fukuoka (Japão), entre 14 e 30 de julho.

8 minPor Virgílio Franceschi Neto
Alberto Silva, treinador brasileiro da seleção portuguesa de natação.
(Satiro Sodré)

Na natação, o treinador brasileiro Alberto Silva, também conhecido como 'Albertinho', é bastante reconhecido e respeitado. No currículo, treinou medalhistas Olímpicos como César Cielo e Thiago Pereira. Em 2019 tinha quase 60 anos e sentia-se realizado profissionalmente. Passou décadas a serviço do Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo, e da seleção brasileira.

No entanto, queria algo novo. Já não pensava em estar vinculado a uma Federação. Tinha a ideia de criar um pequeno núcleo de treinos em Portugal, para nadadores da elite de diversas nacionalidades. "Portugal por simpatia e pelo idioma", lembra-se.

Para isso, fez contato com dirigentes portugueses, que voltaram para ele com uma proposta, diferente da sua ideia inicial. Aceitou e mudou-se para Lisboa, mas enfatiza: "Eu não vim pra cá para buscar algo que eu não tinha na carreira."

Em 9 de julho de 2021, Albertinho era apresentado como treinador e membro da comissão técnica do alto rendimento da Federação Portuguesa de Natação (FPN). "Não vou prometer números. Quando eu começar a trabalhar, vou trabalhar para ganhar", disse na altura para o site da FPN.

Quase dois anos depois, o treinador tem presenciado um bom momento da natação de Portugal, compartilhado com o Olympics.com em entrevista exclusiva. Confira.

Albertinho: 'Vim ajudar a crescer a natação de Portugal'

A relação de Portugal com as águas de maneira geral, é secular. Quer seja a salgada do mar, ou doce como as do Douro e do Tejo, dos lagos, represas e mais recentemente, das piscinas, a ausência de nomes portugueses na natação internacional era algo que Albertinho estranhava. Situação diferente de outros países europeus com população e tamanhos semelhantes, mesmo sem saída ao mar (como a Hungria).

Um contexto que o levou a procurar saber mais e tentar entender o esporte e o sistema da natação no país. "Portugal está mais voltado para as provas de média e grande distância, e treinam com bastante volume", analisa Albertinho. "Não se dá muita importância para as provas de velocidade, vista até com certo preconceito, o que limita o trabalho, já que há mais eventos de velocidade do que de fundo", acrescentou.

Uma análise que acabou sendo o ponto de partida do seu propósito neste novo desafio: "Eu vim atrás de uma motivação de ajudar a crescer a natação de Portugal e dos nadadores portugueses. De fazer um trabalho de qualidade."

Natação de Portugal precisa de ambição, para Albertinho

Um trabalho de desenvolvimento da natação portuguesa de alto rendimento que passa por entender a realidade do esporte do país, pela conversa diária com os clubes, pelos objetivos pessoais de cada atleta e dos propósitos do trabalho da federação nacional.

Além disso, sugere uma mudança de mentalidade dos nadadores lusos.

"Passa pela ambição. Acreditar que o nadador de Portugal sim pode ser pódio em qualquer distância, em qualquer evento. É uma barreira de pensamento que está sendo rompida", diz Albertinho, que faz uma comparação a Cristiano Ronaldo: "É preciso acreditar, mas isso precisa vir de dentro."

Quando menciona o renomado futebolista português, o treinador resgata os atletas brasileiros que treinou e os pontos importantes que aprendeu com eles para a carreira no alto rendimento: "A gente aprende perseverança e ter uma cabeça vencedora. Você cria uma mentalidade de que se pode, e de que se ganha. Isso eu aprendi com o Cielo. Com o Thiago [Pereira], aprendi a perseverança."

Mas isso não significa que não teve que lidar, na natação do Brasil, com certos tabus, conforme revelou: "Ricardo Prado ganhou e treinava nos Estados Unidos. Aí o Gustavo Borges ganhou e também estava nos Estados Unidos. Aí veio o Fernando Scherer, não treinava nos Estados Unidos e ganhou! Aí você começa a ver que você pode, que não é preciso sair do país."

Circunstância que ele volta a atravessar: a formação de nadadores sem a necessidade de sair de Portugal, de se confiar no método e nos treinos. Sobre isso, deu o seu próprio exemplo: "Na minha primeira edição de Jogos comigo como treinador do Brasil (Atenas 2004), não sabia se eu era capaz, com o meu treino, de colocar um nadador dos Jogos. Colocamos oito! E com uma atleta estreante em Jogos que foi finalista."

Aspectos de confiança e respeito que Albertinho aponta como marcas registradas do nadador português em geral: "Discutem-se os treinos, tudo se questiona, mas a posição do treinador, não. É pelo amor à natação e respeito ao processo."

Em dois anos de trabalho, o treinador é sincero ao afirmar que ainda não conhece a natação de Portugal como um todo, mas vê avanço: "Estou entendendo ainda o contexto da natação portuguesa. Sinto que os resultados positivos contribuíram para este entendimento."

Diogo Ribeiro lidera evolução dos nadadores portugueses

Esses resultados positivos que Albertinho mencionou acima, são dos nadadores de Portugal em inúmeras provas internacionais na última temporada. Incontestáveis e aos olhos de todos.

Nos Jogos do Mediterrâneo, em Orã (Argélia) em 2022, a natação deu mais medalhas para o país do que o atletismo. No Campeonato Europeu Absoluto, em Roma, a melhor campanha do país na história. Em setembro, o primeiro campeão mundial português (categoria júnior), com recorde do mundo. Sem falar nos resultados nacionais com relevância internacional.

"Em três anos a ideia era tentar inserir a natação portuguesa em grandes eventos. Em um ano e meio criamos uma representatividade muito grande", afirma Albertinho, em uma realidade que o surpreende, ao complementar: "Sinto que tenho mais reconhecimento pelo trabalho que tenho feito em Portugal do que aquele que eu fiz no Brasil, com medalhas Olímpicas e Mundiais. É uma realização que não esperava. Só queria trabalhar bem e é uma realidade que me deixa feliz."

Principal competição do calendário português, o Aberto do país em 2023, realizado na Ilha da Madeira, em março, teve Diogo Ribeiro e Miguel Nascimento obtendo índices Olímpicos, além de 10 recordes absolutos. Um cenário animador para os grandes eventos que se aproximam: o Mundial de Fukuoka, na segunda quinzena de julho, e os Jogos Paris 2024.

Relembre | Nadadores portugueses estabelecem índices Olímpicos

Em relação ao que está por vir, Albertinho deixa claro: "Vamos com oito aletas em Fukuoka, nossa força máxima. Planejamos melhorar. Como equipe, demos em Orã [Jogos do Mediterrâneo 2022] o primeiro passo, com atitudes e resultados. No Europeu, melhoramos nas medalhas, números de finais e semifinais. Não crio expectativas."

Seleção Portuguesa de Natação no Troféu Sette Colli, em Roma (Itália), em junho de 2023.

(Federação Portuguesa de Natação)

O melhor resultado para Albertinho está no conjunto

Albertinho citou as recentes conquistas da natação portuguesa, com os índices Olímpicos de Camila Rebelo, Diogo Ribeiro e Miguel Nascimento. No entanto, ele ressalta o envolvimento de toda a comunidade da modalidade no país em volta das provas, dos atletas, dos clubes e do esporte como um todo, que transmite a ideia de que se a natação do país está bem, a vitória é de todos.

O treinador fica contente ao se referir a Miguel Nascimento, que alcançou o índice Olímpico em provas curtas, depois de ficar de fora de duas edições de Jogos. Orgulha-se de Diogo Ribeiro ter ficado campeão depois de superar um ingrato programa no Mundial Júnior, no Peru, e cita seu recorde mundial como especial: "O tempo que ele fez daria medalha em campeonato mundial absoluto."

Entrevista | Diogo Ribeiro: 'Pressão é normal quando os resultados aparecem'

Todavia, ao ser questionado até onde Diogo pode chegar, ele desconversa: "Vai depender de uma série de fatores. Ele tem muito pela frente ainda, vamos um passo de cada vez."

Entretanto, em dois anos de trabalho, há algo de que ele não tem dúvidas, e assim terminou: "Senti [nesses dois anos] que 'Portugal pode'. Quero sentir ainda mais isso, a vibração e ideia da equipe, em que todos trabalham para o sucesso de todos, o sucesso de Portugal."

Seleção portuguesa para o Mundial de Esportes Aquáticos Fukuoka 2023

A Federação Portuguesa de Natação (FPN) divulgou os nomes que vão representar o país nas provas de natação do Mundial de Esportes Aquáticos 2023, em Fukuoka (Japão), entre 14 e 30 de julho.

Feminino

  • Ana Pinho Rodrigues (Escola Desportiva de Viana) - 50m livre, 50m peito e 100m peito;
  • Camila Rebelo (Associação Louzan Natação) - 50m livre, 100m costas, 200m costas;
  • Diana Durães (Sport Lisboa e Benfica) - 1500m livre;
  • Tamila Holub (Sporting Clube de Braga) - 800m livre e 1500m livre;

Masculino

  • Diogo Ribeiro (Sport Lisboa e Benfica) - 50m livre, 100m livre, 50m borboleta, 100m borboleta e revezamento 4x100m;
  • Gabriel José Lopes (Associação Louzan Natação) - 100m peito, 200m e revezamento 4x100m;
  • Miguel Duarte Nascimento (Sport Lisboa e Benfica) - 50m livre, 50m borboleta e revezamento 4x100m;
  • João Nogueira Costa (Vitória Sport Clube) - 50m livre, 100m livre, 200m livre e revezamento 4x100m;

Comissão Técnica

  • Alberto Silva, Daniel Moedas, Igor Silveira, Samie Elias e Vítor Ferreira;
  • Rui Costa (Vitória Sport Clube) - treinador convidado;
  • Rui Escaleira (Médico);
  • Alexandre Fernandes (Árbitro).
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